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Opinião Econômica

- Publicada em 27 de Agosto de 2018 às 22:39

Otavio depois de Otavio

Opinião Econômica: Nizan Guanaes

Opinião Econômica: Nizan Guanaes


/Arquivo/JC
A Folha de S.Paulo vai enfrentar nos próximos anos um desafio com o qual toda empresa longeva se defronta: a sucessão de um grande líder.
A Folha de S.Paulo vai enfrentar nos próximos anos um desafio com o qual toda empresa longeva se defronta: a sucessão de um grande líder.
Seu Frias, um homem esplêndido, carismático, que dizia coisas incríveis, foi sortudo porque teve filhos que se complementam de maneira fora da curva na direção da Folha e de seu grupo empresarial: Luiz, um empreendedor visionário de sucessos incontestáveis; Maria Cristina, jornalista e embaixadora da família junto ao mundo dos negócios e em fóruns importantes como Davos; e Otavio, a maior figura do jornalismo nacional contemporâneo, que nos deixou tão precocemente na semana passada.
A sucessão de uma pessoa deste tamanho não é trivial.
Edsel Ford era um avanço em relação a seu pai, Henry Ford, que começou como um revolucionário e inventor do modelo Ford e terminou sua longa vida execrando judeus, batendo em trabalhadores e já sendo questionado em sua sanidade. Ainda assim, suceder a Henry Ford foi uma pedreira para Edsel.
Suceder a Steve Jobs na Apple também não foi fácil. Tim Cook está indo muito bem, mas seria por mérito dele ou pela companhia que herdou de seu fundador?
É no momento de sucessões traumáticas e/ou dramáticas que a cultura empresarial exerce um papel ainda mais fundamental. Nesses meus quase 40 anos de profissão, eu posso dizer que o que mantém as empresas para além dos grandes líderes é a sua cultura.
Cultura é aquilo que fazemos quando ninguém está olhando. A Folha tem uma cultura muito forte. Existe o Manual da Redação, o posto de Ombudsman, a cultura Folha.
São comportamentos e atitudes que os fundadores e líderes da empresa vão passando a todos os seus colaboradores e públicos pelas suas atitudes e pela rádio-corredor. Frugalidade, por exemplo, é Folha. Seus donos sempre foram estoicos. A busca da precisão e da pluralidade, também.
Enfim, se reunirmos 10 pessoas numa sala para colocarem em uma folha de papel o que é cultura Folha, sem dúvida a maioria dessas pessoas vai escrever 50%, 60% de características iguais. Isto é a Folha.
Empresas como Itaú, Natura e Ambev sabem disso como ninguém e são fanáticas por cultura, uma mistura de disciplina, faro e convicção.
O Otavio me achava engraçado. Ele é cerebral, e eu, passional. Ele é profundo e intelectual, e eu, raso. Ele é modesto, e eu, baiano. Mas, com sua pluralidade, Otavio me acolheu com fidalguia.
Em uma de minhas colunas na Folha, eu cometi um erro com o texto "Procura-se uma cozinheira" (comunicação não é o que a gente diz, mas o que os outros entendem) e me desculpei rapidamente com um artigo consecutivo intitulado "Errei".
Otavio me deu sua opinião bem Otavio sobre os dois textos, de maneira direta e lacônica: você foi um craque quando voltou atrás. Isso é cultura Folha, de compromisso zero com o erro.
Trabalho para Otavio de 1986 até hoje. Depois de tanto tempo assim, você já conhece coisas de que Otavio gosta, coisas de que ele obviamente não gosta e outras coisas muitas vezes surpreendentes porque um homem surpreendente é surpreendente.
Então, acredito que a maneira não mórbida de manter Otavio vivo é cultura, cultura, cultura.
A cultura mantém os principais fundamentos, mas também dá liberdade aos sucessores de serem eles mesmos, evitando réplicas e arremedos que nunca dão certo.
Que a cultura Otavio seja o manual de redação da história da Folha para os próximos tempos.
Publicitário, fundador do Grupo ABC
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