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Olhar da Fé

- Publicada em 05 de Março de 2020 às 17:51

O cuidado com o feminino

Por Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Por Dom Jaime Spengler, arcebispo metropolitano de Porto Alegre e primeiro vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
A celebração do Dia Internacional da Mulher convida à reflexão sobre a dignidade e a beleza do feminino. Suscita também questões que o gênero literário busca ilustrar.
“Conta-se que quando Deus decidiu criar a mulher, descobriu que havia esgotado todos os materiais sólidos no homem. Depois de profunda meditação, fez o seguinte: tomou a redondeza da Lua, as curvas suaves das ondas, a terna aderência de uma planta trepadeira, o trêmulo movimento das folhas, a esbelteza da palmeira, a cor delicada das flores, o olhar amoroso da corça, a alegria do raio de sol e as gotas de pranto das nuvens, a inconstância do vento, a modéstia do lírio e a vaidade do pavão, a suavidade da pluma e a dureza do diamante, a doçura da pomba e a crueldade do tigre, o ardor do fogo e a frieza da neve. Com esses ingredientes criou a mulher e deu-a ao homem.
Depois de uma semana, o homem Lhe disse: — "Senhor, a criatura que me destes me faz infeliz: quer toda a minha atenção, nunca me deixa sozinho, fala sem parar, chora sem motivo, diverte-se fazendo-me sofrer e estou vindo devolvê-la porque não posso viver com ela!" — "Está bem", respondeu Deus, e tomou a mulher de volta. Passou outra semana, o homem voltou e disse: — "Senhor, estou muito solitário desde que devolvi a criatura que fizestes para mim. Ela cantava e brincava ao meu lado, olhava-me com ternura e seu olhar era uma carícia, ria e seu riso era música, era formosa e suave ao tato. Devolvei-a, porque não posso viver sem ela!" —"Está bem", disse o Criador. Mas, três dias depois, o homem voltou e disse: —"Senhor, eu não consigo explicar, mas depois desta minha experiência com esta criatura, cheguei à conclusão que ela me causa mais problemas do que prazer. Peço-lhe, tomá-la de novo! Não consigo viver com ela!" O Criador respondeu: — "Mas também não pode viver sem ela." O homem desesperado disse: —"Como é que eu vou fazer? Não consigo viver com ela e não consigo viver sem ela." — "Achei que, com as tentativas, você já tivesse descoberto, respondeu Deus. Amor é um sentimento a ser aprendido: é tensão e satisfação. É desejo e hostilidade. É alegria e dor. Um não existe sem o outro. A felicidade é apenas uma parte integrante do amor. Isto é o que deve ser aprendido. O sofrimento também pertence ao amor. Este é o grande mistério do amor. A sua própria beleza e o seu próprio fardo. Em todo o esforço que se realiza para o aprendizado do amor é preciso considerar sempre a doação e o sacrifício ao lado da satisfação e da alegria. A pessoa terá sempre que abdicar alguma coisa para possuir ou ganhar uma outra coisa. Terá que desembolsar algo para obter um bem maior e melhor para sua felicidade. É como plantar uma árvore frente a uma janela. Ganha sombra, mas perde uma parte da paisagem. Troca o silêncio pelo gorjeio da passarada ao amanhecer. É preciso considerar tudo isto quando nos dispomos a enfrentar o aprendizado do amor."
O amor, fundamento de qualquer relação humana, é ainda mais necessário na relação da sociedade atual com as mulheres, quando constatamos que ainda não há equidade em diversos espaços, e que a violência fere e tira a vida de tantas delas.
A Campanha da Fraternidade deste ano, cujo tema é “Fraternidade e vida: dom e compromisso”, reserva espaço especial para o tema do feminicídio, e nos lembra que ainda será necessário empreender muitos esforços para que realmente a vida esteja em primeiro lugar.
Em 2017, conforme o documento, a cada dez feminicídios registrados em 23 países, ocorrem no Brasil. Segundo a Agência Senado, “naquele ano, pelo menos 2.795 mulheres foram assassinadas, das quais 1.133 no Brasil. Já o Atlas da Violência 2018, publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontou uma possível relação entre machismo e racismo: a taxa de assassinatos de mulheres negras cresceu 15,4% na década encerrada em 2016. Ao todo, a média nacional, no período, foi de 4,5 assassinatos a cada 100 mil mulheres, sendo que a de mulheres negras foi de 5,3 e a de mulheres não negras foi de 3,1.
De acordo com dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Rio Grande do Sul, o número de feminicídios triplicou em janeiro deste ano no Estado. Foram 10 mortes de mulheres por questões de gênero no último mês, contra três em janeiro de 2019. Em 91,7% das cidades do país, não há delegacia de atendimento à mulher e em 90,3% das cidades do país não há nenhum tipo de serviço especializado no atendimento à vítima de violência sexual.
Como nos faz refletir a sabedoria bíblia, a relação de amor entre homem e mulher é obra de Deus. No dia dedicado à reflexão do feminino em nosso meio, cabe a toda pessoa de boa vontade a revisão de como tem valorizado a vida em todas as suas expressões.
Abertas inscrições para Catequese - De 1º a 20 de março pessoas interessadas em realizar a sua iniciação à vida cristã, na Igreja Católica, podem se inscrever para a Catequese, fases Eucaristia 1 e 2, Crisma e Catequese de Adultos. A Eucaristia é destinada a crianças com idade a partir de 9 anos, completos até o período da inscrição. Serão 28 encontros semanais, com 1 hora e meia de duração. Para o Crisma devem ter sido concluídas as duas formações anteriores (Eucaristia 1 e 2) e para a catequese de Adultos, os interessados devem ter idade mínima de 18 anos. As inscrições devem ser realizadas diretamente na Secretaria das paróquias.
Mensagem do Papa JMJ 2020 - Foi divulgada nesta quinta-feira (5), a mensagem do Papa Francisco para a Jornada Mundial da Juventude deste ano, a ser celebrada no Domingo de Ramos, 5 de abril. O tema deste ano abre um trio de reflexões que culminará na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, em 2022, e tem como verbo comum nas três passagens bíblicas “levantar-se”. “Esta palavra possui também o significado de ressuscitar, despertar para a vida”, segundo o Papa e é um verbo frequente na Exortação Christus vivit (Cristo vive), fruto do Sínodo para a Juventude, em 2018. «Jovem, Eu te digo, levanta-te! (cf. Lc 7, 14)» é o tema da Jornada para este ano de 2020. “Numa cultura que quer os jovens isolados e debruçados sobre mundos virtuais, façamos circular esta palavra de Jesus: «Levanta-te»”, convida o Papa. E a Boa Nova, a Palavra de Cristo, é infinitamente superior às “frases mágicas” que são ditas aos jovens nos momentos de dificuldades: “é uma palavra divina e criadora, a única que pode restabelecer a vida onde esta se apagou”. E no convite a levantar-se, abrir-se para uma realidade que vai muito além do virtual, a tecnologia deve ser utilizada como um meio e não como fim. “Graças a esta mensagem, muitos rostos apagados de jovens ao nosso redor animar-se-ão tornando-se muito mais belos do que qualquer realidade virtual”, escreveu o Papa.
Brumadinho na ONU - De 25 de fevereiro a 11 de março, o bispo auxiliar de Belo Horizonte e membro da Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Vicente de Paula Ferreira cumpre uma intensa agenda na Europa, incluindo a visita ao Papa Francisco e à Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra. Também integram a comitiva de compromissos na Europa, o frei franciscano Rodrigo Peret, da Rede Igrejas e Mineração da Arquidiocese de Belo Horizonte e o padre Dario Bossi, missionário italiano provincial dos combonianos no Brasil, membro da Comissão de Ecologia Integral da CNBB. Segundo os organizadores da viagem, trata-se de uma agenda para tratar da incidência e do trabalho que a Igreja Católica vem realizando após os impactos advindos do rompimento da barragem de Brumadinho em 25 de janeiro de 2019. O rompimento da barragem é considerado como o maior desastre ambiental da mineração no Brasil. A barragem de rejeitos, cuja designação oficial era barragem da Mina do Feijão, classificada como de “baixo risco” e “alto potencial de danos”, era controlada pela Vale S.A. e estava localizada no ribeirão Ferro-Carvão, na região de Córrego do Feijão, no município brasileiro de Brumadinho, a 65 km de Belo Horizonte, em Minas Gerais. O rompimento resultou em um desastre de grandes proporções, considerado como um desastre industrial, humanitário e ambiental, com 259 mortos e 11 desaparecidos. O desastre pode ainda ser considerado o segundo maior desastre industrial do século e o maior acidente de trabalho do Brasil.
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