Por Dom Leomar Antônio Brustolin, bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre.
Mário Quintana, ao sugerir a inscrição para um portão de cemitério, escreveu "Na mesma pedra se encontram, conforme o povo traduz, quando se nasce - uma estrela, quando se morre - uma cruz. Mas quantos que aqui repousam hão de emendar-nos assim: Ponham-me a cruz no princípio... E a luz da estrela no fim!". O poeta traduz, em versos, a necessidade de integrar vida e morte, vendo até luz no fim e sombras na vida. Essa sabedoria integradora, entretanto, continua desafiando muitas pessoas de nosso tempo.
O pesquisador francês Philippe Ariès, sustenta que num mundo sujeito à mudança, a atitude tradicional perante a morte aparece tão apagada dos nossos costumes que se tem dificuldade em imaginá-la e compreendê-la. A postura antiga em que a morte era ao mesmo tempo próxima e familiar opõe-se demasiado à atual, onde causa tanto medo que já não se ousa pronunciar o seu nome. Nesse sentido, a contemporaneidade refere-se à morte como algo que não deve fazer parte da vida, pois é sinal de fracasso perante a onipotência humana, devendo ser mascarada, silenciada e disfarçada.
Se, por um lado, nos tempos antigos, o contato com a morte estava mais evidente, principalmente pelas limitações da ciência e da tecnologia, por outro lado, a fragilidade perante a morte torna o ser humano atual mais vulnerável ao processo que causa em sua vida.
A morte apresenta o medo de deixar o que se tem. É ficar sem nada, é não levar nada. Por isso, outro grande causador do medo da morte é o apego, caracterizado como, talvez, o maior problema do ser humano e o maior responsável pelo pavor da morte que atormenta as pessoas. Sendo sentimento de posse, de ser dono de, a morte é oposição ao apego. Sobre isso, Jesus ensina com uma parábola significativa: "A terra de um homem rico deu uma grande colheita. E o homem pensou: 'o que vou fazer? Não tenho onde guardar minha colheita'. Então resolveu: 'Já sei o que vou fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!’ Mas Deus lhe disse: 'Louco! Nesta mesma noite você vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou, para quem vão ficar?’” (Lc 12, 16-20).
Portanto, saber viver, como o poeta escreveu, supõe ver a luz da estrela no fim, quando a verdade se manifestará na essência e não apenas no tempo da aparência. Na vida há cruz e luz, na morte, há medos e verdade. Cada há de aprender a viver integrando o seu morrer.
Bárbara Maix - Na quarta-feira (6), a Catedral Metropolitana de Porto Alegre realizou missa em celebração à memória litúrgica da Bem-Aventurada Bárbara Maix. A data, estabelecida em 2010 pelo Papa Bento XVI, também recordou os 9 anos da beatificação da religiosa, que nasceu na Áustria, mas que viveu sua vocação e missão no Brasil, doando-se aos empobrecidos, especialmente às crianças e adolescentes órfãos. Neste ano, a celebração se reveste de maior alegria, por conta da retomada da causa de canonização, ocorrida em outubro passado, quando a Diocese de Caxias do Sul (RS) instalou o tribunal para investigar um presumido milagre atribuído à religiosa, que fundou a Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria.
Audiência com o Papa - A nova presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) eleita em maio deste ano, para o quadriênio (2019-2023), participou de sua primeira audiência com o Papa Francisco, no dia 31 de outubro. Dom Jaime Spengler, 1º vice-presidente da CNBB e arcebispo de Porto Alegre, juntamente com os demais integrantes da presidência da instituição, Dom Walmor Oliveira de Azevedo (presidente), dom Mário Antônio da Silva (2º vice-presidente) e dom Joel Portella Amado (secretário-geral), reuniu-se com o Santo Padre no Palácio Apostólico, em Roma. Após este que foi o ponto alto da visita de três dias a Dicastérios e Congregações do Vaticano, a presidência da CNBB concedeu entrevista ao jornalista Silvonei José Protz, da rádio Vaticano, no estúdio que leva o nome do São João Paulo II, local onde o então Papa gravou 21 programas, tendo sido inaugurado mais tarde pelo Papa Emérito Bento XVI.
Reconciliação no Oriente Médio - Tradicionalmente, a cada mês, o Papa divulga vídeo com a sua intenção de oração. Neste mês de novembro, o Papa Francisco pede orações para que nasça um espírito de diálogo, encontro e reconciliação entre as comunidades religiosas do Oriente Médio. O Pontífice enfatiza que existem muitas comunidades cristãs, judaicas e muçulmanas "trabalhando pela paz, a reconciliação e o perdão". Tendo em conta tal realidade, ele pede que a busca de diálogo e unidade dentro de cada uma dessas comunidades seja realizada sem temer as diferenças. Na região, os muçulmanos representam pouco mais de 93% da população. A comunidade cristã, por outro lado, constitui aproximadamente 5%; e a judaica, que está concentrada principalmente em Israel, é de quase 2%. Durante sua visita a Bari em julho de 2018, o Papa Francisco também mencionou a importância da reconciliação quando se dirigiu aos cristãos do Oriente Médio com as seguintes palavras: “A paz não virá graças às tréguas sustentadas por muros e testes de força, mas pela vontade real de ouvir e dialogar”. Assista ao vídeo completo: https://youtu.be/LL4-0VZayg4