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Mercado Digital

- Publicada em 27 de Setembro de 2021 às 21:41

'Os latino-americanos procuram as ameaças', aponta especialista

Cresce uso de programas de espionagem de cônjuges, especialmente mulheres

Cresce uso de programas de espionagem de cônjuges, especialmente mulheres


Jefferson Santos/Reprodução/JC
A segurança do trabalho remoto precisa ser levada a sério e a pirataria terá que ser removida das casas e ambientes empresariais se o Brasil não quiser seguir em uma trilha de aumento exponencial de ciberataques, conforme aponta o Panorama de Ameaças 2021 da Kaspersky.
A segurança do trabalho remoto precisa ser levada a sério e a pirataria terá que ser removida das casas e ambientes empresariais se o Brasil não quiser seguir em uma trilha de aumento exponencial de ciberataques, conforme aponta o Panorama de Ameaças 2021 da Kaspersky.
O levantamento anual feito pela equipe de Pesquisa e Análise da empresa na América Latina revela um incremento de 23% dos ciberataques no País nos oito primeiros meses de 2021, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Os 20 malwares mais populares totalizaram 481 milhões de tentativas de infecção, uma média de 1.395 bloqueios por minuto. E esse cenário não está restrito ao Brasil. A tendência de crescimento é verificada em todos os países da América Latina, exceto pela Costa Rica, com queda de 2%.
O alto índice de programas piratas na região auxilia, e muito, o cibercrime. "Os internautas latino-americanos procuram as ameaças, pois muitas delas são disseminadas por meio da pirataria de programas", analisa Dmitry Bestuzhev, diretor da Equipe de Pesquisa e Análise da Kaspersky na América Latina.
No total, a Kaspersky registrou 2.107 ataques por minuto dos top 20 malware na região. Neste quesito, o Brasil lidera com 1.395 tentativas de infecção por minuto, seguido por México (299 bloqueios/min), Peru (96 bloqueios/min), Equador (89 bloqueios/min) e Colômbia (87 bloqueios/min).
Uma das tendências tem sido o crescimento dos golpes usando PDF e trojans web que roubam dados de cartões de crédito. "O interessante destes ataques web é que não há infecção no computador da vítima. O código malicioso está presente na loja on-line ou banco, e ele efetuará o roubo enquanto o visitante digita suas informações", explica Bestuzhev.
Segundo ele, esses ataques web tornaram-se o principal vetor de infecção - tanto para clientes Windows, quanto para Mac. Uma curiosidade do Panorama de Ameaças de 2021 é que os ataques de phishing (mensagens fraudulentas) estão diminuindo, entretanto, diversos países latinos ainda estão entre os mais atacados no mundo. Considerando a proporção de usuários atacados em 2021, o ranking mostra o Brasil na primeira colocação com 15,4% dos internautas registrando tentativas de ataque.
O terceiro destaque entre as ameaças mais comuns para os internautas são para plataformas móveis. Foram registradas mais de 173 mil tentativas de infecções, uma média de cerca de 20 bloqueios por hora na América Latina.
A principal ameaça são os adware que visam gerar lucro mostrando propaganda indesejada às vítimas. Porém, estão presentes outras duas famílias mais sérias: programas visam obter controle total do celular e um stalkerware, programas comerciais de espionagem.
"Eles são feitos por empresas, que existem de verdade, e oferecidos como software para monitorar filhos ou empregados. No entanto, seu real uso é a espionagem de cônjuges e parceiros - principalmente mulheres. Este problema é mundial e está relacionado com a violência contra mulheres", esclarece o especialista.
A análise do Panorama de Ameaças de 2021 da Kaspersky no ambiente corporativo demostra que as empresas não souberam realizar a migração para o ambiente de trabalho remoto de forma segura. Bestuzhev explica que o home office exige acessos remotos e que esta tecnologia não está protegida - expondo os negócios às ações dos cibercriminosos.
São bloqueadas 1 tentativa de ataque a sistemas industriais por hora na América Latina e mais de 11 mil ataques contra estações de trabalho Windows por hora. Entre as ameaças mais comuns para o sistema operacional da Microsoft estão golpes financeiros que roubam o dinheiro das companhias, programas de espionagem e ferramentas de administração remota.
Este tipo de ataque explora vulnerabilidades presentes nas tecnologias de acesso remoto ou tenta adivinhar as senhas de acesso da máquina ou servidor conectado na internet e entrar na rede das empresas para roubar dados e extorqui-las. "Ao comparar os oito primeiros meses de 2020 com os de 2021, verificamos aumento de 78%", afirma o executivo.
Os países mais atacados são Brasil (mais de 5 milhões de tentativas de ataques neste ano), Colômbia (1,8 milhão), México (1,7 milhão), Chile (1 milhão) e Peru (507 mil). O relatório também destaca que Costa Rica (378%), Venezuela (113%) e Argentina (91%) são os países com maior crescimento na comparação com o ano anterior.
Outro problema importante no ambiente corporativo é a pirataria. A análise do Panorama mostra que está presente nos sistemas Windows em estações de trabalho e também nos sistemas operacionais de indústrias. "Sistemas industriais já são obsoletos - ou seja, não são atualizados -, pois esta infraestrutura é antiga e muitos não poderão funcionar como os sistemas mais modernos. Como consequência, vemos que o ransomware WannaCry ainda circula na indústria, mesmo depois de quatro anos", relata Bestuzhev.

Startups de cibersegurança levantaram US$ 282 milhões de investimento

O crescimento dos ataques cibernéticos tem impulsionado o ecossistema de cybertechs no Brasil e no mundo. De 2013 a 2021, o setor recebeu US$ 388 milhões em investimentos só no País, sendo que US$ 282 milhões desse total, ou seja, mais de 70, foram aportados somente nos últimos dois anos. Os dados são do Inside Cybertech Report, relatório produzido pela plataforma de inovação aberta Distrito com apoio da Cisco e divulgado essa semana.

Hoje o Brasil já conta com 205 startups voltadas à cibersegurança - destas, 45 receberam investimentos até agora. Os destaques são a Unico, antiga Acesso Digital, que captou no início de agosto deste ano US$ 120 milhões em uma rodada série C. A empresa, avaliada agora em US$ 1,02 bilhão, se tornou a primeira cybertech no Brasil a ganhar o título de unicórnio.

O cofundador e CEO do Distrito, Gustavo Araujo, aponta que o setor está em estágio de maturação no Brasil, com muito espaço para crescer e atrair cada vez mais investidores, seguindo o cenário internacional. "Conforme migramos definitivamente para o mundo digital, maior será a demanda pelas soluções de segurança. Recentes ataques com grandes prejuízos a empresas também aumentaram o sinal de alerta", comenta.

Para o diretor de Transformação Digital da Cisco do Brasil, Rodrigo Uchoa, o caminho é promissor. “Temos um espaco enorme para inovacao e evolucao das tecnologias e solucoes para seguranca cibernetica, abrindo oportunidades para empresas e startups brasileiras do setor”, analisa.

Esta edição do Inside Cybertech Report traz ainda um panorama das startups de cibersegurança voltadas especificamente para soluções de blockchain. Segundo o levantamento do Distrito, há no Brasil 26 startups do tipo, sendo que três delas receberam investimentos desde 2016, que juntos somaram US$ 538 mil.

Já no cenário internacional são atualmente 135 empresas de soluções de blockchain para cibersegurança, das quais 56 receberam investimentos: 36% (18) delas no estágio série A; 14% (8), série B; e 6% (4), séries C e D. As demais receberam aportes anjo ou pré-seed.

Ao todo, entre 2016 e 2021, foi levantado US$1,3 bilhão internacionalmente. Considerando apenas este ano, são US$ 853 milhões investidos em startups de blockchain, distribuídos em 19 rodadas.

As maiores startups do setor atualmente são a Fireblocks, que já captou US$ 489 milhões, a Chainalysis, com US$ 367 milhões e a StartkWare, com US$ 118 milhões.