Dobra avança com irreverência e proposta de impacto

Carteiras, tênis, quadros, camisetas e mais uma infinidade de produtos são comercializados todos os dias no site da Dobra, empresa com sede em Montenegro (RS). Até aí, poderia ser mais um e-commerce comum. Mas, e seu eu disser que todos os produtos são feitos com um material que parece papel, que não rasga e é resistente à água, e que os designs são criados por mais de 800 artistas espalhados por todo Brasil?

A empresa, que começou a operar em março de 2016, aposta no uso do Ttyvek, um polietileno que tem cerca de 30% de material reciclado e é 100% reciclável, como matéria-prima da sua linha de produtos. “A gente queria fazer uma produção sob demanda, aplicar conceitos de economia criativa e trazer para o negócio a lógica digital das organizações exponenciais alinhada com o capitalismo consciente”, conta Guilherme Massena, um dos fundadores da Dobra.

A ideia que originou a Dobra surgiu em 2013 de um projeto da faculdade no qual Massena participou junto com um grupo de colegas. Até que o seu irmão, Augusto Massena, e o primo, Eduardo Seelig, gostaram e decidiram investir no desenvolvimento das carteiras com Ttyvek.

A meta, desde o início da operação, não era a de seguir a lógica tradicional dos negócios e, sim, ser uma empresa mais irreverente, capaz de levar essa visão de ser mais ser ‘do bem’ para dentro do mundo dos negócios. “Estávamos com esses conceitos fervilhando e modelamos o nosso negócio para usar essas ferramentas”, relembra o empreendedor.

A Dobra começou a desenvolver programas de colaboração com criadores e se aproximar de diversos movimentos, como geeks, vegano e LGBTQIA+, entre outros. Com sede em Montenegro e faturamento de R$ 250 mil por mês, conta hoje com mais de 1,5 mil artes produzidas sob demanda.

O tema da sustentabilidade está muito presente. Uma pessoa que adquiriu um produto anteriormente e desejar outra estampa, pode enviar para a Dobra o original e recebe 20% de desconto para comprar o novo produto. A empresa, então, faz a reciclagem, juntando os resíduos de produção e criando algo novo. Desde que a empresa chegou ao mercado, já foram vendidos mais de 300 mil produtos – e cerca de 8 mil reciclados. E tem novidade chegando. A expectativa em breve é passar a ter produtos costurados com linha de costura fabricada a partir da reciclagem das carteiras e dos resíduos de produção.

A Dobra é formada por um time de 14 pessoas, sem hierarquia imposta por cargos. Todos têm o mesmo salário. Batman, o cachorro de estimação de Eduardo, da raça Pug, é o mascote e o primeiro contato das pessoas com a empresa pelos canais digitais. “Quem manda uma mensagem recebe uma resposta com o Batman como remetente”, brinca Massena.

A pandemia trouxe o desafio de identificação de novas oportunidades de negócios, assim como fechou algumas portas. “A gente estava iniciando a abertura de lojas físicas em Porto Alegre e São Paulo, e com a Covid-19 o foco passou a ser sobreviver”, conta. Foi então que veio a ideia de realizar cursos para as pessoas que se identificavam com a lógica de negócios da empresa e queria aprender. A iniciativa, gratuita, já soma mais de 35 mil alunos.

“O curso aborda teorias de mercado nas quais nos inspiramos e mostra como colocamos em prática. São estratégias de negócios e de como trabalhar com a moda de forma mais sustentável”, explica Massena. Além disso, eles criaram o Laboratório da Dobra, um espaço que todos os conteúdos. As pessoas compram a anuidade e passam a acessar trilhas de conteúdos de marketing, e-commerce, produção, gestão e impacto.

“Lançamos há um mês e já temos 50 assinantes”, comemora. Outra novidade é que a Dobra está participando de uma consultoria de impacto. “Queremos ir além, e um dos objetivos é ressignificar a relação entre as pessoas e os negócios”, conclui.