Porto Alegre está de olho em referências globais que levem a construção de uma cidade mais inteligente. Medellín, Barcelona, Estocolmo são algumas das localidades que estão sendo estudadas sob o ponto de vista social, urbanístico, tecnológico e de sustentabilidade para a construção de um modelo próprio de futuro para a capital gaúcha.
Esse é um dos projetos sobre os quais Fernando Mattos, líder da área de Inovação da Prefeitura de Porto Alegre, está debruçado. E embora este trabalho ainda esteja sendo desenvolvido, já existem algumas certezas. Uma delas é que uma smart city vai muito além da tecnologia.
“Uma cidade inteligente é aquela que aposta nas tecnologias sociais, gerenciais e digitais. Digitalizar apenas não basta. Enquanto houver pobreza e miséria, sempre vai faltar inteligência. Precisamos ter uma estratégia de construir o futuro para sobrevivermos em uma sociedade onde o conhecimento é a principal fonte de geração de prosperidade”, defende.
Para o gestor, o desafio cada vez maior é o de atrair talentos e, para isso, é preciso oferecer bons parques, escolas de qualidade e um ambiente mais civilizado. Com isso, consequentemente, as regiões passarão a reunir também empresas com modelos de negócios mais atrativos e capazes de embutir mais conhecimento nos seus produtos e serviços.
“Quando se fala na economia de uma cidade inteligente, não estamos falando de fábricas com chaminé e indústrias que poluem. Esse tipo de operação não consegue manter um bom nível de atração de talentos, de pessoas com níveis maiores de informação e conhecimento”, diz Mattos.
Até o ano passado, ele era o secretário adjunto de Inovação, Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul. Desde que assumiu a inovação da capital gaúcha, desenhou um trabalho focado em quatro grandes áreas. Uma delas é a transformação digital, com demandas como as que envolvem a oferta cada vez maior de serviços públicos digitalizados e internet de alta velocidade para escolas, por exemplo. O segundo pilar é envolve a identificação de segmentos econômicos estruturados no município de Porto Alegre que podem dar respostas mais rápidas às demandas do município.
Um deles, que ainda precisa ser aprimorado, é o hub da saúde. Neste sentido, a visão é a de que é preciso criar um processo para apresentar Porto Alegre como um grande centro de produção de serviços muito qualificados nesta área. Outro ponto a ser trabalhado é o cluster de logística, a partir de iniciativas de empresas como a Fraport. “Eles fazem parte de um sistema capaz de fazer da logística da capital algo muito poderoso na transformação da economia”, comenta o gestor.
Um terceiro eixo do trabalho da área de inovação da Prefeitura é o dos projetos de grande impacto. O desafio aí é pensar um uso mais inteligente de grandes áreas disponíveis hoje na cidade. São espaços que pertencem a empresas, universidades e investidores, por exemplo, e que não tem interesse de, neste momento, investir nelas. “Queremos identificar as áreas com possibilidade de gerar impacto positivo na cidade e desenhar uma articulação com investidores para a criação de projetos diferenciados”, destaca.
Por fim, mas não menos importante, está o projeto para 2040. É algo menos tangível, mas considerado estratégico. A percepção é de que, definitivamente, será preciso pensar em uma identidade para a capital. Se a visão é a da sustentabilidade, por exemplo, teremos quem tomar decisões neste sentido, como avaliar a entrada de carros com motor à combustão no centro da cidade e cuidar de saneamento básico, algo fundamental para saúde pública. Se a ideia é ser uma cidade tecnológica, outras ações terão que ser incentivas nesta direção.
Para definir isso, a área de Inovação da Prefeitura de Porto Alegre vai criar verticais, como de sustentabilidade, desenvolvimento econômico e cidade inteligente, por exemplo, e formar grupos que trabalharão separadamente. A fase final do processo prevê a integração destes eixos em uma visão sistêmica e global de futuro.
“Começamos a desenhar isso agora para entregar no aniversário de 250 anos da cidade, ano que vem”, projeta Mattos.