As 1,3 mil lojas físicas da Magalu, 250 delas no Rio Grande do Sul, ficaram fechadas por ser cerca de quatro a cinco meses em 2020 em função da pandemia da Covid-19. Ainda assim, a companhia teve um crescimento de 60% no seu faturamento no período, resultado puxado pelo e-commerce. Os resultados e a admiração do mercado pela gestão da companhia não deixam dúvidas: o grupo empresarial era um dos que melhor estava preparado no Brasil para enfrentar esse cenário.
“Quando começou a pandemia, eu sabia que a Magalu sofreria menos que outros players, e que iria sobreviver, pois apostamos na inovação há 20 anos. Nascemos analógicos, mas há muitos anos estamos investindo em tecnologias digitais”, destacou o CEO do Magalu, Frederico Trajano, durante o Tá na Mesa, promovido pela Federasul. O bate papo entre ele e o presidente do Conselho de Administração da Lojas Renner, José Galló, foi mediado pelo presidente da entidade, Anderson Cardoso.
Para o executivo à frente da gigante varejista, a pandemia catalisou mudanças que já estavam acontecendo. Desta forma, as empresas que estão tendo dificuldades agora, provavelmente iriam enfrentar isso mais adiante, caso não houvesse a pandemia.
“Como líderes, temos que separar o sinal do ruído. Transformação digital nunca foi um ruído. Era um sinal claro, só não viu quem não quis”, aponta Trajano, citando o caso de inúmeros negócios analógicos que no passado recente quebraram ou ficaram inexpressivos, como a Sears e a Blockbuster.
Galló concorda que a grande transformação começou antes da pandemia. “Há pouco mais de cinco anos começamos a receber sinais importantes de que as novas tecnologias digitais iriam mudar o comportamento do consumidor e das empresas”, observa.
Essas novas ferramentas permitiram crescimento exponencial. Mais veloz e imprevisível. Com pandemia, os clientes, por sua vez, se tornaram muito mais digitalizados. São novos tempos que mudaram a cabeça dos consumidores e das empresas.
“Os lojistas precisam ser capazes de atender e encantar o cliente em toda sua jornada, e não apenas na loja. São tempos complexos, mas divertidos para quem fizer direito”, ressalta.
Para o empresário, o grande desafio é saber como fazer a transformação, já que as empresas estavam operando de forma tradicional e agora, além de tocar o seu dia a dia, precisam tratar de se reinventar para crescer e sobreviver. “Isso só vai acontecer com uma mudança de mentalidade do principal líder da empresa. É um movimento que causa medo, e o líder precisa ser o grande maestro para definir como cada área vai ser afetada pelas novas tecnologias e qual o papel de cada pessoa nesse processo”, sugere.
E quais as diferenças entre as grandes corporações e as de menor porte nesse movimento acelerado de mudança? Para o CEO da Magalu, inovar é mais difícil para os grandes players. “São organizações que têm mais legado e um mindset pré-estabelecido. Quanto menor a empresa, mais velocidade terá”, analisa.
Para os menores, por outro lado, faltam recursos. Mas o mundo atual tem tratado de atenuar isso. “O mais importante é não se assustar, pois existe solução para todo mundo. E a resposta para isso muitas vezes está nas startups”, sugere Galló.
Trajano reforça essa visão e comenta que o cenário é bem diferente do que quando a Magalu iniciou a sua caminhada. “Hoje em dia existem as tecnologias de nuvem e muitas startups brasileiras que pode ajudar a levar os negócios tradicionais para o on-line. Quando começamos não tinha isso. Tivemos que desenvolver quase toda nossa tecnologia ou comprar de players americanos”, relembra.