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Mercado Digital

- Publicada em 24 de Março de 2021 às 11:39

Os clusters físicos podem entrar em colapso, avalia Steve Blank

Empreendedor do Vale do Silício ajudou a moldar a forma como as startups são construídas

Empreendedor do Vale do Silício ajudou a moldar a forma como as startups são construídas


TECNOPUC/DIVULGAÇÃO/JC
A sua região é um local onde os empreendedores conseguem levantar US$ 100 milhões para desenvolver os seus projetos? É capaz de funcionar como um ímã que atrai pessoas de todo o mundo ou, pelo menos, de seu país para estarem ali construindo juntas novas ideias? Na era pré-Covid, se essas respostam fossem sim, a sua cidade ou região poderia ser considerada um cluster de inovação. Professor adjunto em Stanford e pesquisador sênior em Inovação na Columbia University e conhecido por desenvolver a metodologia que lançou as bases para o movimento Lean Startup e por mudar a forma como as startups são construídas, Steve Blank usava essas referências para classificar se uma região era ou não um cluster de inovação. Mas, no meio do caminho existiu a Covid-19, que acabou acelerando mudanças e mostrando, por exemplo, que as empresas podem, sim, se tornar virtuais. Em um cenário como esse, pode não ser mais necessário estar em um determinado lugar, como Vale do Silício, Nova York, Londres ou Pequim para arrecadar esses US$ 100 milhões. “Acho que podemos estar diante de um possível colapso dos clusters físicos, de uma forma que nunca pensei que seria possível”, aponta Blank, que participou recentemente do Tecnopuc Talks, uma hora de conversa mediada pela equipe do Tecnopuc Startups.
A sua região é um local onde os empreendedores conseguem levantar US$ 100 milhões para desenvolver os seus projetos? É capaz de funcionar como um ímã que atrai pessoas de todo o mundo ou, pelo menos, de seu país para estarem ali construindo juntas novas ideias? Na era pré-Covid, se essas respostam fossem sim, a sua cidade ou região poderia ser considerada um cluster de inovação. Professor adjunto em Stanford e pesquisador sênior em Inovação na Columbia University e conhecido por desenvolver a metodologia que lançou as bases para o movimento Lean Startup e por mudar a forma como as startups são construídas, Steve Blank usava essas referências para classificar se uma região era ou não um cluster de inovação. Mas, no meio do caminho existiu a Covid-19, que acabou acelerando mudanças e mostrando, por exemplo, que as empresas podem, sim, se tornar virtuais. Em um cenário como esse, pode não ser mais necessário estar em um determinado lugar, como Vale do Silício, Nova York, Londres ou Pequim para arrecadar esses US$ 100 milhões. “Acho que podemos estar diante de um possível colapso dos clusters físicos, de uma forma que nunca pensei que seria possível”, aponta Blank, que participou recentemente do Tecnopuc Talks, uma hora de conversa mediada pela equipe do Tecnopuc Startups.
Mercado Digital – Todas as regiões almejam ser um cluster de inovação hoje em dia. Mas, o que define, realmente, esse tipo de ambiente?
Steve Blank – A minha definição de cluster de inovação é o número de lugares no mundo pré-Covid-19 onde os empreendedores poderiam levantar US$ 100 milhões. Outra característica de um cluster – e isso é algo difícil para os governos entenderem, é que um cluster é a antítese de um programa de empregos tradicional para a população local. Um cluster de sucesso é um ímã que atrai pessoas de todo o mundo ou, pelo menos, de seu país e, certamente, de sua região, para estarem neste local e, assim, reunir ali um conjunto de talentos e expertise. Mas, as coisas mudaram com a Covid-19 de forma muito surpreendente. A primeira novidade é que, no século 21, os empreendedores começaram a aparecer em todos os lugares, não apenas em polos de inovação. Pela primeira vez, através da internet, os empreendedores podem estar em todos os lugares, tenha acesso a todos os tipos de conhecimento para construir a sua startup, de uma forma que jamais existiu. Outra mudança é todo esse conjunto de ferramentas disponíveis, como as ofertadas pela Amazon Web Services. Você não precisa mais comprar computadores caros para escrever códigos. Assim, iniciativas como GitHub e Stack Exchange permitiram que você desenvolvesse o trabalho de outras pessoas. E, finalmente, o método Lean Startup (startup enxuta) – meu trabalho, do Eric Ries e do Alex Osterwalder - tornou-se conhecimento comum sobre "como montar essas peças em uma empresa". No século 21, passamos de empreendedores que precisávamos estar em clusters para empreendedores que estão por toda parte. Mas, até a Covid-19, ainda não tínhamos capital em escala em todos os lugares. Portanto, embora os empreendedores pudessem começar na Mongólia, em algum país da Ásia ou no Brasil, eventualmente você tinha que vir para os Estados Unidos ou a algum lugar com muito dinheiro – um cluster de inovação – se quisesse crescer. Agora, isso mudou drasticamente. As empresas poderão agora se tonar virtuais. E acho que podemos ver o colapso dos clusters físicos de uma forma que nunca pensei ser possível. Pode não ser necessário estar em um determinado lugar como Nova York, Boston, Vale do Silício, Londres ou Pequim para o empreendedor conseguir arrecadar US$ 100 milhões.
Mercado Digital – Como você vê hoje o valor do que o Vale do Silício criou no mundo da inovação, tornando-se referência para tantos outros ambientes ao redor do mundo?
Blank – O Vale do Silício é um cluster de talentos focado em inovação e empreendedorismo. Foi a combinação de capital de risco, empreendedores, universidades de pesquisa e pessoas altamente treinadas e técnicas que o tornaram um cluster único de inovação e empreendedorismo. Em um cluster, você não apenas atrai pessoas que são especialistas no domínio, mas também interage com outras que tornam as iniciativas viáveis. Isso inclui, por exemplo, advogados que entendem como redigir os contratos de locação para startups que não têm crédito, e tudo mais que o ecossistema exige.
Mercado Digital – Como emergem esses clusters hoje em dia?
Blank – O Vale do Silício foi um acidente. Há um vídeo chamado The Secret History of Silicon Valley, que descreve como o vale foi projetado por um professor de Stanford que queria ajudar os militares dos EUA durante a Guerra Fria com a União Soviética, na década de 1950. Na verdade, começou como um conjunto de startups construindo componentes de microondas e, posteriormente, sistemas inteiros para companhias de defesa. Só mais tarde chegou o capital de risco e, depois, a onda de empresas de semicondutores. Mas, outros ecossistemas de inovação foram projetados do zero nos Estados Unidos. O mais notável no século 21 foi quando Michael Bloomberg, o prefeito de Nova York, arquitetou a ascensão da cidade de Nova York como um ecossistema de mídia, finanças e inovação. E em todo o mundo, Cingapura e Israel são provavelmente os ecossistemas projetados mais conhecidos do século 20. Israel passou de um país socialista a uma nação capaz de atrair pessoas interessadas em ajudá-los a fazer esses ecossistemas avançarem. E, claro, no século 21, a China projetou uma série de ecossistemas de inovação com financiamento massivo de seu governo e Ministério de Ciência e Tecnologia, em sua maioria, copiados não dos Estados Unidos, mas da experiência israelense. O Chile teve alguns esforços, a Finlândia também, alguns deles bem sucedidos.
Mercado Digital – Quais são, na sua opinião, as fortalezas e os pontos fracos do Brasil nesse jogo da inovação?
Blank – O ecossistema empreendedor no Brasil se fortaleceu e cresceu, mas há um problema que é o idioma. Quando sua língua principal é o português, você necessariamente limita seu mercado. E com mais de 200 milhões de pessoas, o Brasil tem um mercado interno grande o suficiente para que muitas startups optem por se focar no mercado interno, e não pensar globalmente. A outra parte, o investimento em capital de risco, está indo bem, mas a economia do país está com alguns problemas. Além disso, uma das piores armadilhas das grandes ideias de empreendedorismo, em qualquer país, mesmo nos EUA, é a corrupção e as pessoas que usam o poder político ou a legislação para manter os mercados como sua propriedade, não por meio de inovação ou investimento, mas por meio de contribuições políticas ou poder sindical.
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