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Mercado Digital

- Publicada em 04 de Novembro de 2020 às 18:20

Criar uma cultura digital é uma jornada sem fim, apontam executivos

Gustavo França, Luciano Abrantes e Gustavo Araujo falam sobre os desafios desse novo mundo

Gustavo França, Luciano Abrantes e Gustavo Araujo falam sobre os desafios desse novo mundo


William Botlender/Arte JC
Digital, volátil e imprevisível. Bem vindo ao novo mundo. Para falarmos sobre as transformações digitais e culturais que estão sendo exponencializadas pela pandemia da Covid-19, estreia O futuro acelerado, a nova série multimídia do Mercado Digital, o canal de tecnologia e inovação do Jornal do Comércio. No primeiro episódio, vamos falar sobre esse cenário que está se desenhando e como ele desafia as empresas tradicionais a atualizarem a sua cultura, reverem processos e colocarem as pessoas no centro de tudo. Aliás, saiu na frente quem já estava se preparando para esses novos desafios. “Muitas pessoas acham que nos reinventamos ou construímos muitas coisas desde março, mas na verdade não. Lançamos, sim, novos produtos e serviços digitais, mas tínhamos um arcabouço. Já exista aqui uma cultura digital, ágil, desenhada para empoderar os colaboradores, incentivar a inovação e trazer novas soluções para o dia-a-dia, sem depender de uma estrutura hierárquica em que o diretor precisa pensar o tempo inteiro nas soluções”, aponta o Chief Technology Officer (CTO) e diretor de Inovação Digital do grupo Natura &Co para a América Latina, Luciano Abrantes. Ele participou deste bate papo com o diretor global de Tecnologia da Informação e Digital da Gerdau, Gustavo França e Gustavo Araujo, cofundador e CEO do Distrito, comunidade de inovação independente de startups. Confira como foi a conversa.
Digital, volátil e imprevisível. Bem vindo ao novo mundo. Para falarmos sobre as transformações digitais e culturais que estão sendo exponencializadas pela pandemia da Covid-19, estreia O futuro acelerado, a nova série multimídia do Mercado Digital, o canal de tecnologia e inovação do Jornal do Comércio. No primeiro episódio, vamos falar sobre esse cenário que está se desenhando e como ele desafia as empresas tradicionais a atualizarem a sua cultura, reverem processos e colocarem as pessoas no centro de tudo. Aliás, saiu na frente quem já estava se preparando para esses novos desafios. “Muitas pessoas acham que nos reinventamos ou construímos muitas coisas desde março, mas na verdade não. Lançamos, sim, novos produtos e serviços digitais, mas tínhamos um arcabouço. Já exista aqui uma cultura digital, ágil, desenhada para empoderar os colaboradores, incentivar a inovação e trazer novas soluções para o dia-a-dia, sem depender de uma estrutura hierárquica em que o diretor precisa pensar o tempo inteiro nas soluções”, aponta o Chief Technology Officer (CTO) e diretor de Inovação Digital do grupo Natura &Co para a América Latina, Luciano Abrantes. Ele participou deste bate papo com o diretor global de Tecnologia da Informação e Digital da Gerdau, Gustavo França e Gustavo Araujo, cofundador e CEO do Distrito, comunidade de inovação independente de startups. Confira como foi a conversa.
Como lidar com um cenário imprevisível para os negócios
Gustavo França - Para as nossas organizações, é muito importante lidar com essa imprevisibilidade. E, fundamentalmente, para viver nesse momento de incerteza, é necessário uma cultura forte e clareza em relação ao propósito que queremos construir, não só olhando para o curto prazo, mas para o longo prazo. Em 2019, a Gerdau dedicou um grande esforço para consolidar o seu propósito e isso, de certa forma, vem nos ajudando a lidar com esse momento de maior vulnerabilidade. A agilidade é o grande elemento da transformação digital. E não apenas do ponto de vista tecnológico, mas da digitalização do ponto de vista de mindset. A gente vem alicerçando todo esse propósito de empoderar as pessoas também com um importante fator da transformação cultural. Isso foi elemento fundamental para a gente lidar com esse cenário de maior incerteza.
Luciano Abrantes  - Sempre procuramos estar muito conectados com o ecossistema ao qual nós estamos inseridos, entendendo quais são as tendências. Nossos negócios estavam muito concentrados na América Latina, então, a gente tentou olhar muito para onde o mundo estava indo em termos de modelos de negócios, modelos de operação e, obviamente, tecnologia. O mundo já vinha se acelerando em uma velocidade muito grande, trazendo mudanças de comportamento de consumo e uma maior valorização da experiência do consumidor final. A Natura, por exemplo, sempre olhou para a experiência do consumidor final e também das nossas consultoras, e isso fez com que a gente já viesse, principalmente a partir de 2018, acelerando uma grande mudança cultural. Já utilizamos o modelo de trabalho mais ágil há algum tempo, e não só em tecnologia e desenvolvimento de softwares, mas também no desenvolvimento de produtos cosméticos e na logística. Especialmente nesse ano de 2020, em que fomos expostos a uma situação que ninguém poderia prever, ter um modelo de operação mais ágil implantado nos permitiu ser muito flexíveis e nos adaptarmos muito rapidamente. E a pandemia continua. Ainda estamos vivendo muito longe do que se chama de antigo normal.
Gustavo Araujo - A pandemia não trouxe nada desconhecido. Ela só acelerou tudo aquilo que a gente já via como tendência, como é o caso da Telemedicina, das vendas a WhatsApp, da maior flexibilidade do trabalho com o home office. Tudo isso já vinha sendo adotado, mas de maneira mais lenta. Aí veio essa sacudida. Quem tinha cultura a cultura certa, quem já estava se preparando para se transformar ou já vinha se transformando culturalmente para esse novo mundo digital em que a gente vive, realmente saiu na frente e agiu muito mais rápido.
Cultura não se muda radicalmente
Gustavo França - Cultura é uma jornada sem fim, que você precisa retroalimentar continuamente. O tempo de mudança é cada vez menor e a capacidade de você internalizar isso e ter responsividade organizacional é fundamental. O grande desafio é aprender, desaprender e reaprender. É desconstruirmos determinados paradigmas e formas de trabalhar e de pensar. E quando se fala nisso, estamos falando de pessoas. Queremos empoderar as pessoas que constroem o futuro. Estamos nessa jornada de transformação e modernização desde 2014, aprimorando a nossa cultura com novos elementos e cada dia. É um trabalho contínuo, árduo e enorme. A digitalização não toca, de fato, no negócio, se a gente não tiver as pessoas certas, nos lugares certos. A tecnologia pela tecnologia não gera valor para a organização.
Luciano Abrantes - Eu não acredito em uma mudança radical de cultura. Não é com um e-mail enviado pelo CEO que isso irá acontecer. A cultura é algo que a gente atualiza, e é intrínseco às pessoas. Costumamos falar da cultura digital, mas, no fundo, a questão é ter um modelo de tomada de decisões mais rápidas e com times empoderados. A Natura tem uma cultura muito forte. É fácil reconhecer um colaborador nosso, pois ele representa muito o que é a Natura, ou seja, uma empresa de relações. O nosso core são as vendas por relações, seja em uma loja física ou on-line. 
Gustavo Araújo - Alguns estudos mostram que a cultura da empresa se forma até o trigésimo funcionário. Do trigésimo pra frente, já existe uma cultura do grupo, que, claro, pode evoluir. Aí você olha para empresas corporações, como Gerdau e Natura. Foi a cultura que fez essas empresas e tantas outras se tornarem líderes dos seus mercados. Não podemos simplesmente mudar a cultura de um player vencedor, porque foi isso que o fez chegar até aqui. São as pessoas que transformam a empresa. Então, você transforma as pessoas, e elas transformam a empresa. E não o contrário. Nos últimos dez anos, a nossa vida mudou muito. Novos modelos de negócios atualizaram o planeta, então é preciso que você olhe para essa cultura bem-sucedida de décadas e também atualize. Não adianta pegar uma empresa de 40 mil funcionários e achar que uma área de inovação de 15 pessoas vai fazer a transformação. Você precisa que as 40 mil pessoas transformem.
Quem faz inovação aberta é mais competitivo?
Gustavo França - A agilidade é o grande elemento da transformação digital. E não apenas do ponto de vista tecnológico, mas do mindset e das pessoas. O futuro é digital e o futuro dos novos negócios está focado na centralidade do cliente e na inovação aberta dando suporte para criarmos melhores experiências. A agilidade, o senso de urgência, a capacidade de experimentação e de tomar risco são novos mecanismos que o mundo digital traz para as organizações.
Luciano Abrantes - A relação com as startups ajuda a acelerar a inovação da Natura. Não temos a pretensão, por exemplo, de ser a empresa que vai construir a melhor solução do mundo em Realidade Aumentada (RA). Mas, queremos ser o player de cosméticos que melhor vai aplicar essa tecnologia no seu negócio. As startups também apoiam a transformação cultural, pois trazem essa visão diferente de mundo para os nossos executivos, para os gestores intermediários e para o time de operação. Vivemos uma transição das organizações hierárquicas para um modelo cada vez mais distribuído, onde a gente não depende mais daquele único herói, que distribui desde a estratégia de longo prazo até as soluções do dia-a-dia, e sim, que todos façam a sua parte.
Gustavo Araújo - A competição entre uma empresa que faz inovação aberta e a que não faz é quase injusta. É muito difícil avançar só olhando para dentro de casa. A estratégia de inovação aberta gera vantagem competitiva porque, na medida em que se conecta com startups, a grande corporação passa a não ter apenas a sua área de Pesquisa e Desenvolvimento e os seus executivos para tomarem decisão, mas conta com a propriedade intelectual e o know-how de todo ecossistema que está em volta dela. Quem tem essa visão cresce muito mais rápido. Isso se mostrou ainda mais fundamental neste cenário da pandemia. No momento que você precisa reagir rápido, não dá tempo de criar nada dentro de casa. Você precisa ligar o seu radar, olhar o que tem em volta, no ecossistema de inovação, e conectar o que já está pronto. Muitas empresas que não faziam inovação aberta lançaram iniciativas recentemente, e aquelas que já estavam conectadas com o ecossistema, reagiram mais rápido porque elas já tinham os meios para conectar essas soluções.
Relação saudável com as startups
Gustavo França - Nós temos muito claro na nossa jornada de inovação quais são as grandes teses, os grandes temas que a gente quer trabalhar e desenvolver e, nesse sentido, a conexão com as startups é fundamental. Hoje a Gerdau está muito mais aberta, colaborativa, interagindo mais com o ecossistema e aprendendo, com humildade, que nós não sabemos tudo e que, de fato, o ecossistema pode contribuir muito na nossa jornada. Queremos acelerar startups que tenham match com as nossas grandes apostas de negócio.
Luciano Abrantes - O relacionamento já foi complicado no passado, até que a gente conseguisse hackear o sistema e criar o programa Natura Startups, como uma avenida específica para o relacionamento com as startups. Ao longo de quatro anos, conhecemos 5 mil startups, fizemos a avaliação de mais de 1 mil, testamos cerca de 100 e contratamos 40. Só em 2020, fechamos parceria com 10 startups, nosso recorde para um único ano. Temos também o Natura Startups na Argentina e pontos de contato da Natura em cada um dos países em que a gente está operando na América Latina. 
Gustavo Araújo - As empresas aprenderam a fazer inovação aberta da maneira correta nos últimos cinco anos. Mas, ainda temos casos como o que eu acompanhei há dois anos. Uma grande empresa de consumo fez um programa de inovação aberta e matou três startups em um ano. Como é que você mata uma startup em uma conexão com uma empresa? Você mata, por exemplo, no prazo de pagamento, quando força 120 dias. Teve um caso que a startup contratou 25 pessoas para atender um projeto, depois de três meses a grande empresa mudou a estratégia, deixou o projeto de lado e, neste vai e vem de fluxo financeiro, a startup precisou demitir as pessoas e acabou falindo. Hoje as empresas já se preparam mais, trabalham melhor a cultura de inovação e sabem como fazer a contratação de uma startup da maneira mais saudável possível também para a jovem empresa. E também é complicado para as grandes companhias. Às vezes você está fazendo um projeto com uma startup e o seu concorrente vai lá e compra ela. Aí, lá se foram seis a 12 meses de trabalho. Acredito que 2020 marca o ano que as corporações aprenderam a investir. Muitas estão criando um braço de venture capital, porque se a startup for muito estratégica, ela entra na rodada de investimentos e, assim, tenta assegurar uma relação mais duradoura. Tem que ser uma relação ganha-ganha para todos.
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