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livros

- Publicada em 12 de Março de 2021 às 03:00

Mulher, negra, periférica e alta executiva

Meu caminho até a cadeira número 1 (Globo Livros, 248 páginas, R$ 49,90 impresso e R$ 32,90 e-book), da paulista Rachel Maia, uma das executivas de maior prestígio no Brasil e no exterior, mostra como a menina pobre, caçula de sete irmãos, que cresceu no extremo sul de São Paulo, chegou a altos postos em empresas como o Laboratório Novartis e Lacoste Brasil, entre muitas outras.
Meu caminho até a cadeira número 1 (Globo Livros, 248 páginas, R$ 49,90 impresso e R$ 32,90 e-book), da paulista Rachel Maia, uma das executivas de maior prestígio no Brasil e no exterior, mostra como a menina pobre, caçula de sete irmãos, que cresceu no extremo sul de São Paulo, chegou a altos postos em empresas como o Laboratório Novartis e Lacoste Brasil, entre muitas outras.
No Brasil, mesmo que a pessoa seja branca, rica e diplomada, todos sabemos como é difícil chegar a postos de diretoria em grandes empresas. Rachel enfrentou mais dificuldades ainda do que outros executivos, até chegar, em mais de trinta anos de carreira, a ser CEO de multinacionais do porte de Tiffany & Co Joalheria e Pandora.
Mas o que interessa mais, acima de tudo, na narrativa de Rachel é que ela foi muito além dos conhecidos aspectos corporativos e decidiu fala sobre vida, filhos, pais, preconceitos, diversidade, estudos, desigualdades e de como acreditou firmemente nos seus sonhos para chegar ao topo do mundo empresarial, no Brasil e no exterior. O caminho foi longo, trabalhoso, mas, sem dúvida, as recompensas justificaram os esforços de muitos anos. Empreendedora, corajosa, Rachel foi reconhecida em 2020 com o Prêmio Líder do Ano da Exame Melhores e Maiores e segue no mercado de luxo e no varejo, através da RM Consulting. Ela é fundadora do Projeto Social Capacita-me e é presidente, em segundo mandato, do Conselho Consultivo Unicef Brasil, além de integrar o Conselho do Grupo Soma.
Mãe de Sarah Maria e de Pedro Antônio, Rachel, acima de tudo, contando abertamente sua história de sucesso, quer servir de inspiração para todos quantos tenham sonhos e acreditem neles, especialmente meninas e mulheres. Não é pouca coisa. A obra traz depoimentos de familiares, amigos, colegas e parceiros e fotografias de momentos íntimos com a família e filhos, e, sem dúvida, joga uma saudável luz nesses tempos sombrios que vivemos.

O romance sobreo pai do cony

Pois hoje, meus estimados sete leitores, vou quebrar a rotina. Nestes 26 anos da coluna Livros, geralmente falei de livros lançados há poucos dias, proporcionando a todos atualização nas leituras de obras novas, especialmente em prosa, poesia e na área de ciências humanas.
Acabo de reler um livro que considero dos mais interessantes das últimas décadas: Quase memória, quase romance (Editora Nova Fronteira, 240 páginas, 29ª edição, R$ 22,90), romance do grande escritor e jornalista Carlos Heitor Cony, publicado pela primeira vez em 1995, pela Companhia das Letras. Cony foi colunista da Folha de São Paulo e comentarista da rádio CBN, nas últimas décadas de vida. Ele pertenceu à Academia Brasileira de Letras e faleceu em 2018, em virtude de problemas intestinais e falência de órgãos.
Quase memória, quase romance foi a volta de Cony à ficção depois de 22 anos de afastamento. O último livro de ficção de Cony era Pilatos, de 1973. Foi uma volta triunfal, o volume vendeu mais de 400 mil exemplares e recebeu os prêmios Jabuti, na categoria Livro do Ano Ficção. A narrativa foi aclamada pelo público e pela crítica e foi adaptada para o cinema por Ruy Guerra, roteiro e direção, em 2015.
Fazendo hábil mescla de gêneros, o autor, transitando, de certa forma, entre crônica, conto, novela e romance, conta, apresentando memórias, sobre seu pai, o jornalista Ernesto Cony Filho, um sonhador que buscava perfeccionismo nos atos mais simples. Tudo começa quando Cony recebe um misterioso envelope, depois de dez anos da morte do pai. A forma de embrulhar, o barbante e a caligrafia lembram o pai.
O romance é uma visão de um menino de calças curtas, uma espécie de Amacord particular envolvendo a peculiar figura paterna. O pai de Cony foi jornalista na prefeitura do Rio de Janeiro e em jornais importantes e sua vida, cheia de estranhas peripécias, aventuras e convívio com os poderosos, foi marcada pelos acontecimentos coletivos da sociedade carioca e brasileira na última metade do século XX.
Entre o biográfico, o autobiográfico e os gêneros ficcionais, Cony mostra o homem que acreditava em tudo o que fazia e que fazia os outros acreditarem. Cony também acreditou nesse pai e agora faz com que acreditemos nele também. O episódio do balão que volta para morrer onde nasceu é um dos mais inesquecíveis do livro, que tem muitas histórias mirabolantes, inclusive envolvendo o pai entrando em casa com um jacarezinho (lagarto?) e reviravoltas de um governador mineiro que queria ser presidente da República, com a ajuda do pai de Cony.
A vida venturosa e aventurosa do pai de Cony é retratada ora com notas informativas, ora com tons dramáticos e, em muitos casos, a narrativa carrega um profundo lirismo. Cony usou os óculos da nostalgia adulta para reencontrar seu olhar de menino e também para mostrar momentos de transição em direção à maturidade.

a propósito...

Como se constata, após o misterioso silêncio ficcional de 22 anos, Cony apresentou uma narrativa de construção moderna, cativante, ágil e repleta de dados pessoais, familiares e históricos. O estrondoso sucesso da obra, até hoje, evidentemente não é decorrência de mero acaso. Nesses nossos momentos atuais e estonteantes, repletos de crises econômica, ética, política e de costumes, o "quase romance" de Cony nos remete a passados políticos, jornalísticos e sociais, cujas marcas e consequências ainda estão aí. Ao mesmo tempo que os leitores têm o prazer de ler um clássico moderno, escrito com linguagem gostosa e até acariocada, eles se enriquecem com o conhecimento de acontecimentos familiares, sociais, históricos e políticos que nos ajudam a entender que País é esse e explicar um pouco, ao menos, nossa natureza brasileira. (Jaime Cimenti)

lançamentos

  • Liberdade (Editora Rocco, 224 páginas, R$ 54,90), da consagrada escritora, ensaísta e colunista de Opinião de O Globo Rosiska Darcy De Oliveira, traz ensaios instigantes sobre termos esperança, nos conhecermos melhor e construirmos diálogos produtivos que nos tragam menos ódio, intolerância e fúria obscurantista, num mundo cheio de medo e insegurança.
  • A crise da cultura e a ordem do amor (É Realizações, 376 páginas, R$ 71,90), do premiado escritor e professor universitário Victor Sales Pinheiro, da Universidade Federal do Pará, Prêmio Jabuti 2010, apresenta ensaios filosóficos envolvendo desde filósofos gregos a santos cristãos, debatendo, especialmente a barbarização do homem moderno.
  • Headhunters (Editora Record), do celebrado escritor norueguês Jo Nesbo, narra a saga de Roger Brown, o maior headhunter da Noruega, que, casado com uma linda mulher, gasta muito, se obriga a roubar obras de arte e vendê-las no mercado paralelo. Aí conhece um alto executivo que tem um quadro do flamengo Rubens, roubado.