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Coluna

- Publicada em 20 de Novembro de 2020 às 03:00

A Europa buscando caminhos

Há tempos a União Europeia vem sendo atormentada por crises constantes: o caos financeiro, a dívida soberana da Grécia, os conflitos com a Rússia devido a suas relações com a Ucrânia e à invasão da Crimeia, o número sem precedentes de refugiados que migram pelo Mediterrâneo, a confusão causada pelo Brexit e também a guerra comercial travada pelo governo Trump.
Há tempos a União Europeia vem sendo atormentada por crises constantes: o caos financeiro, a dívida soberana da Grécia, os conflitos com a Rússia devido a suas relações com a Ucrânia e à invasão da Crimeia, o número sem precedentes de refugiados que migram pelo Mediterrâneo, a confusão causada pelo Brexit e também a guerra comercial travada pelo governo Trump.
A Nova Política da Europa (É Realizações, 496 páginas, R$ 99,90, tradução de Francis Petra Janssen), do holandês Luuk van Middelaar, conhecido e experiente pesquisador, escritor e estudioso de história e ex-assessor de Herman van Rompuy, presidente do Conselho Europeu de 2010 a 2014, apresenta um relato revelador e sincero de uma Europa tateando seu caminho e nos oferece uma visão privilegiada dessa metamorfose política vivida pela União Europeia.
A União Europeia foi criada para reger pesca, cotas de trigo e padrões de produtos, mas foi lançada no cenário global sem planejamento, para lidar com problemas complexos como identidade, soberania e solidariedade diante dos refugiados, que não param de chegar. Os líderes europeus tiveram que improvisar soluções, para enfrentar ameaças de ver engolida a sua entidade política e encarar a cada vez mais dissonante e desencantada opinião pública.
A obra tem quatro grandes partes. A primeira trata de ações, improvisos, negociações, crise de refugiados e crise do atlântico. A segunda mostra faixas temporais e linhas de fratura, a incompreensão franco-germânica, tempos do pós-guerra e a queda do muro. A terceira parte trata de governabilidade, autoridade, formação e desenvolvimento do Conselho Europeu, determinações e capacidade de ação. A quarta parte mostra a oposição a Bruxelas e as questões da União Europeia com a vitória de Trump e do Brexit, em 2016.
Resume o autor que a nova política da Europa não pode existir sem um novo ambiente público, que só se tornará viável se a UE se tornar um órgão verdadeiramente representativo que convença a todos que os laços que unem os europeus são mais fortes do que tudo aquilo que pode dividi-los.

Chimarrão

Pena, queridos leitores, que não possa compartilhar a bomba e a cuia de chimarrão. Nessa pandemia cada um tem se vira com o próprio mate, originado de épocas pré-hispânicas da cultura guarani e desde o século XVII espraiado pela América do Sul, especialmente no Uruguai. O chimarrão é a bebida nacional uruguaia e os hermanos, que introduziram a garrafa térmica, a levam para todo lugar, já que não dava para matear levando a chaleira para a rua.
"Amargo doce que eu sorvo/ num beijo em lábios de prata./ Tens o perfume da mata/ Molhada pelo sereno./ E a cuia, seio moreno,/ Que passa de mão em mão/ Traduz no meu chimarrão,/ Em sua simplicidade,/ A velha hospitalidade/ Da gente do meu rincão...", imortais versos de Glaucus Saraiva, que junto com Barbosa Lessa e o Paixão Côrtes fundou o tradicionalismo, devem sempre acompanhar a infusão, que nos dá a gostosa impressão de beber o próprio pampa. La pampa es el cielo al reves... cantou para sempre Don Atahualpa Yupanqui.
Enquanto curto meu mate solito ouço na rádio o competente Dr. Luiz Antonio Nasi, do Hospital Moinhos de Vento, dizer que o Moinhos está repleto por causa dessa praga dessa Covid e de outros males e que precisamos nos cuidar. Antes a gente dizia: se a gente não se Raoni, a gente se Sting... Agora é o contrário, se a gente se Raoni aí é que o bicho pega... Só brincando um pouco numa hora dessas.
O mate é democrático, plural, barato, onipresente e tomara que volte a ser compartilhado. Café e chá não se compartilham. A Ilex paraguayensis, a árvore da erva-mate, cresce espontaneamente nas regiões temperadas ou pouco frias do Paraguai, do Brasil e da Argentina. A erva tem apreciável conteúdo de cafeína. Quantidade intermediária entre a do café e a do chá.
O mate pode ser alimento, companheiro de horas vagas ou parceiro na hora do serviço. Pode ser companheiro de estudo, de reunião em família ou de amigos O mate tem substâncias nutritivas como a vitamina A e funciona como diurético e vaso dilatador. Ajuda a emagrecer. Que beleza, o que é o estudo, não é, tchê?
Enquanto eu estava mateando e olhando as plácidas águas do Guaíba e as belezas curvilíneas da Serra do Mar, fiquei pensando nas eleições de domingo, ainda bem que ensolarado. Os dois terços que foram votar aqui em Porto não pareciam muito animados e 11% de nulos e brancos mais os 33,8% de ausentes deram um tom triste para a eleição.
Fiquei observando os eleitores, os casais, as bicicletas, os cachorros, os automóveis e o ritual todo e fiquei pensando que a esperança é a última que morre, ou que é um urubu pintado de verde, como disse o Mario Quintana, sempre ele, que não foi para a Academia por ser um imortal do povo, a verdadeira e melhor imortalidade.
Contra ventos e marés, pesquisas duvidosas, notícias plantadas e replantadas, poderes econômicos e eletrônicos e tudo mais, os eleitores seguem com sua missão de expressar a esperança na ponta dos dedos e sonham em ser mais do que pingos de óleo combustível nessas engrenagens municipais, estaduais e federais, dominadas por poucos, que tem muito poder, dinheiro e pouco interesse no bem público.
 

a propósito...

Pensando bem, com essas realidades rápidas e estonteantes que andam por aí nos atordoando, o negócio é seguir a receita uruguaia e ficar mateando, tranquilamente, em todos os locais possíveis, para dar uma respirada e ver que a pressa é inimiga não só da refeição, mas de otras cositas más. E não se esqueça que o mate é estimulante e tônico. Antigamente o mate era campeiro e era companheiro nas fazendas e travessias solitárias, trazendo paz e alegria. Hoje ele está nas mãos dos gaúchos urbanos e segue como irrecusável símbolo de boas-vindas, mostrando que nem tudo está perdido nesse mundo sem porteira de Deus ou do bigue bangue, como queiras. Disse o Papa Francisco que Deus pode ter criado o big bang, mas isto é outra história, na qual vamos pensando enquanto mateamos. (Jaime Cimenti)
 

lançamentos

  • Reflexões para Jovens Advogados (Editora Unisinos, 192 páginas, R$ 29,75), do consagrado advogado e escritor Nestor José Forster, fala de experiências, de sonhos, projetos e batalhas na perspectiva pessoal de um jovem advogado. Honorários, clientes, ética, estudo, juízes, advocacia eletrônica e outros temas estão na obra.
  • Memórias e Estórias do Visconde de Aceguá (Mecenas, 42 páginas, Secretaria Especial da Cultura-Ministério do Turismo, Apoio Zaffari), do grande publicitário, poeta, compositor e dramatugo Luiz Coronel, traz o lendário Visconde, alter-ego do autor, de Aceguá, fronteira com o Uruguai, que integrava Bagé, onde nasceu Coronel.
  • Hidra Vocal - Estudos sobre Retórica e Poética (Ateliê Editorial, 264 páginas, R$ 58,00), volume organizado por Maria do Socorro Fernandes de Carvalho, Marcelo Lachat e Lavínia Silvares, apresenta estudos sobre retórica e poética em homenagem a João Adolfo Hansen, professor da Universidade de São Paulo.