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- Publicada em 11 de Setembro de 2020 às 03:00

As ficções de Vitor Biasoli

O fundo escuro da hora (Chiado Books, 136 págs., R$ 36,00), coletânea de contos, é a obra mais recente de Vitor Biasoli, escritor, professor universitário, colunista de jornal e blogueiro nascido em Pelotas em 1955. Biasoli formou-se em História na Ufrgs, fez mestrado em Letras na Pucrs e doutorado em História Social na USP. Lecionou no ensino fundamental e na Universidade Federal de Santa Maria. Ele publicou livros acadêmicos e literários, entre eles, Jorge encontra Lilian, novela juvenil (1998); Calibre 22, poemas (1999), e Uísque sem gelo, contos (2007). No momento, assina o blog A louca que passa.
O fundo escuro da hora (Chiado Books, 136 págs., R$ 36,00), coletânea de contos, é a obra mais recente de Vitor Biasoli, escritor, professor universitário, colunista de jornal e blogueiro nascido em Pelotas em 1955. Biasoli formou-se em História na Ufrgs, fez mestrado em Letras na Pucrs e doutorado em História Social na USP. Lecionou no ensino fundamental e na Universidade Federal de Santa Maria. Ele publicou livros acadêmicos e literários, entre eles, Jorge encontra Lilian, novela juvenil (1998); Calibre 22, poemas (1999), e Uísque sem gelo, contos (2007). No momento, assina o blog A louca que passa.
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Os contos de O fundo escuro da hora, escritos em primeira e terceira pessoa, trazem diálogos e narrativas envolventes, bem construídos, utilizando realismo moderno e apresentando personagens de nossos dias e cenários de Pelotas, Porto Alegre e Santa Maria. Seguindo a lição de Tolstói, Biasoli oferece a universalidade tratando de pessoas e temas de suas "aldeias" gaúchas.
No conto que dá título ao livro, um homem chega na rodoviária de Porto Alegre e relembra um episódio envolvendo uma integrante da luta armada contra a ditadura militar. Ele pretende acertar as contas com o passado, imerso nas tensões políticas e nos aspectos sombrios da alma humana.
Na caliente narrativa O quarto do vizinho, um homem casado, de 49 anos, encontra uma jovem, de 23 anos, mas depois das proezas sexuais uma surpresa o aguarda. Em Reencontro, um senhor casado, três filhos, visita um padre e lembra dos tempos do seminário e de quando desistiu do sacerdócio.
Vitor Biasoli é um hábil contador de histórias e equilibra bem forma e conteúdo. Tem o que dizer e sabe como, ao contrário de muitos escritores que andam por aí, escondendo a falta de assunto através de contemplações narcisistas dos próprios umbigos e de jogos de palavras estéreis. Os personagens de Biasoli nos mostram suas possíveis verdades no fundo escuro das horas e os leitores se encontram com eles, como costuma acontecer na boa literatura.

Lobo-guará

Para os muitos que ainda não me conhecem, deixa eu me apresentar para esta distinta e simpática plateia: sou o lobo-guará, também conhecido como guará, aguará, aguaraçu, lobo-de-crina, lobo-de-juba ou lobo-vermelho (colorado campeão?). Fui descoberto em 1815 pelo alemão Johann Karl Wilhem IIIiger, mas uns 30% que vão aos zoológicos não sabem quem sou. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) diz que estou "quase ameaçado", o que me faz sentir, de certo modo, bem brasileiro. No pampa gaúcho, me achavam belo e a "caça esportiva" acabou com a minha raça. Sigo símbolo do cerrado central brasileiro e estou circulando, esguio, altivo e solitário, pelo civilizado Uruguai e outros países vizinhos. Não sou de ficar próximo de humanos, mas agora, com esse negócio da nota de R$ 200,00, vou ter que conviver e estou nas mãos da espécie, esperando que o relacionamento seja bom e produtivo e que, definitivamente, parem de dizer que me alimento de galinhas, que sou malvado e não sei o quê mais.
Brasileiro não desiste fácil. Em 2001, fizeram uma pesquisa com o público para ver que figura gostariam nas notas do Banco Central. Apesar de tímido, elegante, praticamente inofensivo e de ter alegres orelhas, parecidas com as de raposa, e mesmo contando com meu finíssimo pelo vermelho-dourado ou alaranjado, amarguei um modesto terceiro lugar, atrás da feliz tartaruga-marinha e do midiático mico-leão-dourado. Não sei se vou conseguir dar à inflação um ritmo de tartaruga com artrite ou se pagarei mico inflacionário. Será que frequentarei cuecas e maletas de propinodutos ou serei responsável por algum déficit de contas públicas? Nossa Senhora Aparecida que me ajude, pelo amor de Deus, da Virgem Maria e de todos os santos. Pois é, parece que estão metendo menos a mão na nossa grana pública. Ótimo. Precisamos de notícias boas. Quero fazer a minha parte, sendo um lobo honrado, do bem, numa nota que circule em mãos limpas, de preferência. Na Itália dizem que dinheiro público é como água-benta, todo mundo pega...
Juro que não pedi para sair na nota. Não fiz lobby. O lobby é o lobo do homem, desculpe o trocadalho não muito do carilho. Agora é enfrentar os "holofotes", os bônus e os ônus e entender que "the price of sucess is the press". Que a mídia tenha piedade de mim. Eu estava quieto lá nas pradarias e matos, agora o sossego terminou e a superexposição está aí. Coisas da vida, acho que vou ter que contratar uma assessoria de imprensa, um administrador de imagem e um personal stylist, advogados, contadores e outros integrantes para meu staff. Preciso reforçar minhas qualidades e apagar certas percepções falsas que as pessoas ainda têm a meu respeito.
Por via das dúvidas ou das dúvidas das vias, vou seguir aqui com minha quarentena selvagem, em liberdade e recebendo notícias sobre a aguardada vacina, que espero não seja obrigado a tomar, sem antes consultar a Rainha Elizabeth II, o Papa, o General Mourão e até a OMS, em quem ainda confio, apesar duns detalhes que não quero expor neste momento de glória para mim.

a propósito...

Aqui sigo natureba onívoro, sobrevivo traçando geral, pequenos animais (sem Covid) e frutas como o araticum e a lobeira, a fruta-do-lobo. Agora que sou nota pública, vou contratar médico, nutri, professor de ioga e influencers e ficar de olho nas fakenews, como se impõe. Peço que não rasguem ou queimem as notas, que não rabisquem minha cara e que torçam para que a nota não destrua as maravilhas do Plano Real, do Itamar Franco, a melhor coisa da história do Brasil, que liquidou a inflação. Peguem leve nos apelidos. Lobo bobo, tortinho e vermelhinha nem pensar! Vou dar uma dura no Macaco Simão que queria colocar a ema no meu lugar. Pensando bem, na nota de R$ 500,00 meu candidato é o Simão, tesouro nacional infalível, presente de Deus para o Patropi. (Jaime Cimenti)

Lançamentos

  • Mecanosfera / Monoambiente (Editora Zouk, 120 págs., R$ 40,00), de Fabrício Silveira, professor universitário e escritor, é uma ficção teórica. Fabiano Evangelista, o protagonista narra, após a demissão, 20 anos de trabalho burocrático, produtivista e mecânico, com mensurações de capacidade individual e busca de objetivos inalcançáveis.
  • Janis Joplin: Sua Vida, Sua Música (Editora Seoman, 432 págs., R$ 69,90) de Holly George-Warren, autora premiada de 16 livros e indicada duas vezes ao Grammy, traz a biografia definitiva da maior e mais influente cantora da história do rock, célebre por sua rouquidão e por sua emoção.
  • Nacional-Populismo: A revolta contra a democracia liberal (Editora Record, 350 págs., R$ 74,90), de Roger Eatwell e Matthew Goodwin, dois dos principais especialistas sobre fascismo e ascensão da direita populista, resultou de profunda pesquisa e mostra como as democracias liberais ocidentais estão sendo desafiadas.