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- Publicada em 21 de Agosto de 2020 às 03:00

O oceano de Renata Pereira

Coletânea de poesia, é o primeiro livro impresso da porto-alegrense Renata Pereira

Coletânea de poesia, é o primeiro livro impresso da porto-alegrense Renata Pereira


divulgação/jc
Poesia, numa hora dessas? Essa e muitas outras perguntas os leitores atarantados se fazem, em meio a esses tempos de pandemia, enquanto aguardam pelas respostas e por dias com menos horas de medo. Poetas são as antenas da raça, os que enxergam mais longe, e, um mundo sem poemas, definitivamente, não dá. Sim, poesia numa hora dessas é essencial.
Poesia, numa hora dessas? Essa e muitas outras perguntas os leitores atarantados se fazem, em meio a esses tempos de pandemia, enquanto aguardam pelas respostas e por dias com menos horas de medo. Poetas são as antenas da raça, os que enxergam mais longe, e, um mundo sem poemas, definitivamente, não dá. Sim, poesia numa hora dessas é essencial.
Felizmente, mesmo contra ventos, marés e outras dificuldades, os poetas seguem com sua missão de quebrar regras, alargar limites e nos fazer mergulhar nos caminhos infinitos do real e da fantasia.
Da alma selvagem (Class, 68 páginas, R$ 35,00), coletânea de poesia, é o primeiro livro impresso da porto-alegrense Renata Pereira, que tem 21 anos e é estudante de História. Os versos mostram maturidade, ousadia e saudável inquietação. Renata escreveu o e-book Glimpses of Enchantment Poems of Beauty, Wholeness and Freedom, em inglês, e ele está disponível na Amazon.
"Eu sinto e rezo em forma de poesia/ e cada estímulo me faz querer criar/ e transformar/ a beleza de cada instante/ Escrever é mergulhar no meu próprio oceano/ e explorar cada detalhe/ despercebido/ despertando a luz interna/ inerente a cada coisa" são versos do poema Poesia de Renata, que, nos demais 53 poemas do livro, trata do seu eu, de outras pessoas, do mundo que a cerca, dos caminhos selvagens e infinitos da vida e da poesia e da indomável vontade de não deixar enjaulada a sensibilidade poética.
Renata fala de realidade e de sonhos. No poema De onde vêm os sonhos, ela oferece esses versos: "Meus sonhos viajam até o céu/ aprendem com as estrelas/ e voltam maravilhados/ querendo criar aqui embaixo/ o paraíso celeste que conheceram/ e gostariam de ter ficado mais."
Na apresentação da obra, a artista visual, socióloga e filósofa Fátima Nunes Pinto escreve: "Seu envolvimento pela palavra é nuclear e ratificado a cada poema com êxtase, onde faz uma entrega sem limites, infinita, intuitiva, arrebatadora, emprestando ao leitor percepções surpreendentes e conhecimentos sobre si e outro."
Renata e sua poesia merecem saudação e mostram que a sensibilidade e a expressão seguem livres e eternas como a luz da manhã.

Amizade

Num mundo de relações líquidas e passageiras, numa época em que, mais do que nunca, certezas mesmo só a morte e pagar impostos, pensar que a amizade é o amor que não acaba é inspirador e nos traz esperanças. Como escreveu Mario Quintana, amizade é quando o silêncio a dois não se torna incômodo e alguém já disse que amigo mesmo é o que permanece em silêncio ao lado do amigo quando percebe que naquela hora é melhor não falar nada.
Pesquisas de cientistas sobre como viver mais e melhor apontam que, acima de tudo, para ser velho e feliz, é fundamental bom relacionamento familiar e ótimas relações de amizade. Há quem queira ter um milhão de amigos, como o rei Roberto Carlos, outros se contentam com milhares de amigos e/ou seguidores nas redes sociais. Outros preferem ter poucos, verdadeiros e densos amigos.
Pensando bem, quem tem amigos demais e é "amigo de todo mundo", muitas vezes não é verdadeiramente amigo de ninguém. Pessoas mais velhas, por vezes dizem: não me apresenta mais ninguém, que já tenho amigos demais. Exagero, claro, sempre é possível uma nova e boa amizade, inclusive aquelas que depois de 15 minutos parecem "amizades de infância". Antigamente, a pessoa ficava amiga íntima instantaneamente quando encontrava desconhecidos em ônibus, trens, hotéis, aviões e navios e começava a conversar. Antigamente, havia o hábito de conversar e quando um falava o outro ouvia.
O Papa João Paulo II (1920-2005) foi amigo da filósofa polaco-americana Anna-Teresa Tymieniecka (1923-2014) por 32 anos. Se encontraram algumas vezes, trocaram centenas de cartas secretas e o fato insólito para o Vaticano ficou como exemplo de amizade duradoura, sensível e profunda. João Paulo II deixou para ela um de seus bens mais preciosos, um escapulário que o acompanhava há décadas.
Amizade é isso, respostas para nossas necessidades, campo onde plantamos amor e colhemos gratidão, família que escolhemos livremente, porto seguro para as horas de aperto, salão de festas para as horas alegres e ouvidos atentos para certas palavras que dirigimos somente aos amigos do peito. Amizade é troca desinteressada de risos e de lágrimas. Tempo e distância não importam para amizades verdadeiras, dessas que duram 50, 60, 70 anos, que vão do pátio do jardim de infância ao quarto da clínica geriátrica.
"Tem poucos, raros amigos - o homem atrás dos óculos e do bigode", versejou o gigante Carlos Drummond de Andrade. Não é tão mal ter raros amigos, desde que sejam amigos raros. "O inferno são os outros", disse o personagem de Jean Paul Sartre sobre a companhia obrigatória de duas pessoas. Prefiro não acreditar que o inferno sejam os outros ou que o inferno esteja dentro de nós. Acho que o inferno é o que, infelizmente, com mais frequência do que devia, está entre as pessoas, entre as classes, as instituições, os partidos, os países, etc.
O ideal seria não ser confidente demais com os amigos, pois eles têm outros amigos... Segredo de dois, só morrendo um...

A propósito...

Nesses tempos de pandemia, a amizade ganhou cores especiais, diferentes. Lembramos de amigos que não tínhamos contato, por vezes ligamos para alguns com quem tínhamos brigado e procuramos pensar que estamos juntos nessa temporada braba. Criei até um hábito novo: quando resolvo caminhar dentro de casa (ou até fora), tomo o celular e faço visitas cordiais aos amigos. Uns acham que a pandemia vai durar para sempre, outros são mais otimistas e eu procuro falar e ouvir, ouvir e falar. Quem me conhece sabe que falo pouco e minto um pouquinho. Está na hora de recuperar a arte da conversa. Como diz a sabedoria popular: quando um burro fala, o outro abaixa as orelhas...
(Jaime Cimenti)

Lançamentos

  • Regresso a casa (Dublinense, 112 páginas), livro de poemas inéditos de José Luiz Peixoto, um dos mais aclamados autores portugueses da atualidade, fala das quatro paredes de sua casa e de todas as recordações. Evoca solidão, isolamento, portas fechadas e solidariedade.
  • História da sexualidade - Volume 4 - As confissões da carne (Paz & Terra, 528 páginas, R$ 79,90), obra inédita do grande pensador Michel Foucault, analisa a experiência cristã do sexo, especialmente entre os primeiros séculos do cristianismo, a Antiguidade e a Modernidade. O autor mostra o modo cristão de pensar o sexo.
  • Naufrágio das civilizações (Editora Vestigio, 256 páginas, R$ 54,90), do consagrado escritor e pensador Amin Maalouf, traz um olhar profundo sobre o nosso tempo. Conflitos identitários, islamismo radical e o ultraliberalismo são examinados pelo autor do best-seller As cruzadas vistas pelos árabes.