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- Publicada em 22 de Maio de 2020 às 03:00

Somos e seremos ansiosos e medrosos?

Pondé é aclamado filósofo, escritor, diretor do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP

Pondé é aclamado filósofo, escritor, diretor do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP


REPRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO/JC
Neste planetinha globalizado, ansioso, mutante, rápido, pós-moderno e hiperinformado que a gente vive, é claro que tomos nós andamos ansiosos, hiperinformados etc. Não é por acaso que quase todos os jornais do mundo têm colunas de horóscopo e previsão do tempo. Queremos saber se vai chover amanhã e o que vai nos acontecer de bom ou ruim.
Neste planetinha globalizado, ansioso, mutante, rápido, pós-moderno e hiperinformado que a gente vive, é claro que tomos nós andamos ansiosos, hiperinformados etc. Não é por acaso que quase todos os jornais do mundo têm colunas de horóscopo e previsão do tempo. Queremos saber se vai chover amanhã e o que vai nos acontecer de bom ou ruim.
Você é ansioso? - Reflexões sobre o medo (Editora Planeta, 160 páginas, R$ 39,90 livro físico e R$ 24,90 e-book), de Luiz Felipe Pondé, aclamado filósofo, escritor, diretor do Laboratório de Política, Comportamento e Mídia da PUC-SP, professor da FAAP e colunista do jornal Folha de S.Paulo, estuda a questão da ansiedade e do medo contemporâneos, a partir de algumas fontes do problema, como o avanço da medicina, as redes sociais, a internet e a instabilidade do futuro da democracia.
Pondé tem atuado com frequência na mídia e escreveu livros de sucesso como Espiritualidade para corajosos, Como aprendi a pensar, Filosofia para corajosos e Amor para corajosos, todos publicados pela Editora Planeta.
"Somos todos apanhadores no campo de centeio" é a frase que abre este livro mais recente de Pondé e a referência é o romance clássico de J.D. Salinger, cujo protagonista, Holden, tornou-se um símbolo da rebeldia e da vulnerabilidade dos jovens.
Para o autor, muito antes da pandemia e seus efeitos, o excesso de informação, a emancipação feminina, o aumento da expectativa de vida, a obsessão pela alimentação, as redes sociais, a internet, a dissolução da família, as psicoterapias tipo coaching, a instrumentalização das relações e as instabilidades políticas em relação à democracia respondem por nossa grande carga de medo e ansiedade. Claro que todos estes fatores, agora, somados aos deletérios efeitos da pandemia, nos deixam ainda mais ansiosos e temerosos.
Pondé não aponta no livro métodos infalíveis para lidar com a ansiedade e o medo, mas refere que talvez jamais os venceremos e que, assim, o melhor é pensar que nossos fracassos podem nos humanizar.

Viva Itamar Franco!

Todos sabemos que a história brasileira apresenta poucos fatos históricos verdadeiramente relevantes e escassos heróis dignos desse nome. No mundo das artes, das ciências e do esporte, assim como nas religiões, temos algumas personalidades importantes, que não cito aqui para evitar injustiças e por não ser o objetivo deste texto.
Mas nossa história republicana e dos nossos presidentes, infelizmente, traz muitas marcas de renúncia, suicídio, saída pela porta dos fundos, impeachments, envolvimento com corrupção, compra de apoio toma lá, dá cá no Congresso e outras coisas que estamos doentes de saber.
Nestas poucas linhas, não cabe citar nomes, partidos políticos ou acontecimentos, antigos ou recentes, e o objetivo é lembrar e reverenciar um grande presidente, Itamar Franco, que nos liderou de outubro de 1992 a janeiro de 1995. A meu ver, o presidente Itamar deveria ser mais citado e tomado como exemplo.
Homem simples, que alguns chamavam de "homem comum", Itamar reclamava do preço dos remédios da mãe, Dona Itália, pediu a volta do Fusca e, salvo melhor juízo, não se envolveu com ilicitudes. Alguns diziam que era provinciano, roceiro, bizarro e outras coisas, mas o fato é que, sem dúvida, foi um de nossos melhores presidentes.
Quando Henrique Hargreaves, seu chefe da Casa Civil, se viu envolvido com acusações de desvio de dinheiro público, a exoneração foi imediata, e Henrique só retornou ao cargo após provar sua inocência. O senador Antônio Carlos Magalhães anunciou publicamente, com tom severo, certa vez, que iria ao Palácio do Planalto denunciar problemas no governo Itamar. Este lhe abriu, gentilmente, as portas palacianas e no salão estavam jornalistas convidados. ACM quase nada apresentou e saiu constrangido. Na saída, um jornalista disse ao presidente: "O senhor é esperto". Itamar respondeu: "Eu sou bobo".
Depois dos estragos dos governos anteriores, Itamar foi responsável pela implantação do Plano Real, talvez o fato coletivo mais significativo da história brasileira. Até hoje, as moedas de 10 e 20 centavos atestam a estabilidade de nosso dinheiro. Só quem viveu as agruras daquela época em que o mês era maior que o salário avalia até hoje a importância do Plano Real, motivado pelos anseios da população e formulado pelo ministro da Fazenda de Itamar, Fernando Henrique Cardoso, e pela famosa equipe de economistas.
Bons e saudosos tempos aqueles em que o único escândalo a ser lembrado foi a aparição daquela moça sem roupa íntima, ao lado do presidente Itamar, no camarote do Sambódromo, no Rio de Janeiro. Presidentes, prefeitos e governadores muitas vezes têm receio de comparecer ao Carnaval carioca.
Itamar, é bom lembrar, empreendeu projetos de combate à miséria ao lado do sociólogo Betinho e, em 1994, apoiou o então candidato Fernando Henrique, que venceu, nas urnas, a eleição para presidente em primeiro turno. Desde Artur Bernardes, Itamar foi o primeiro presidente a eleger o seu sucessor.

Lançamentos

O livro trata dos atos de discriminação em relação aos idosos, desde a antiguidade até a atualidade

O livro trata dos atos de discriminação em relação aos idosos, desde a antiguidade até a atualidade


REPRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO/JC
  • Idadismo - Um mal universal pouco percebido (Editora Unisinos, 98 páginas) (acima), de Egidio Lima Dórea, professor da Universidade São Caetano do Sul e da Universidade Cidade de São Paulo e coordenador da Universidade da Terceira Idade da USP, trata dos atos de discriminação em relação aos idosos, desde a antiguidade até a atualidade.
  • Primavera das Mulheres - 100 questões essenciais para entender o feminismo no mundo contemporâneo (Editora Cultrix, 440 páginas, R$ 62,00), de Pilar Pardo Rubio, assessora jurídica no Conselho de Educação da Comunidade de Madri, na Espanha, traz a síntese histórica para entender o feminismo e sua importância no mundo contemporâneo.
  • A arte da quarentena para principiantes (Boitempo, 74 páginas, R$ 15,00 e-book, disponível em Amazon, Apple e Kobo), do psicanalista Christian Dunker, é o quarto volume da Coleção Pandemia Capital. Fala de Bolsonaro, transtornos deflagrados pela crise do vírus e de nossos conflitos nestes tempos de confinamento. A obra é um manual de sobrevivência e foge da mera autoajuda.

A propósito...

Na livraria do aeroporto de Brasília e nas demais do Brasil, não lembro de livro algum que fale mal de Itamar Franco, ao contrário do que acontece com alguns de nossos presidentes mais recentes, que foram objeto de violentas biografias-denúncia. Mesmo em revistas e jornais, não lembro de críticas a Itamar Franco, especialmente quanto aos períodos em que foi prefeito, governador de Minas e presidente da República. Não é pouco isso, num país, como se sabe, com poucos fatos históricos relevantes e poucos personagens heroicos, pais da pátria etc. É certo que uma nação deve ser feita pelo conjunto da população, pelo coletivo, que não devemos depender de salvadores da pátria. Mas devemos dar um viva a Itamar, pelo que foi, fez, disse e também pelo que não fez. (Jaime Cimenti)