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- Publicada em 15 de Maio de 2020 às 03:00

Retrato caleidoscópico do racismo nos EUA

Território Lovecraft une ficção histórica, fantasia e pulp noir em uma coletânea de contos

Território Lovecraft une ficção histórica, fantasia e pulp noir em uma coletânea de contos


REPRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO/JC
Os terrores da época da segregação racial nos Estados Unidos são o tema de Território Lovecraft (Intrínseca, 352 páginas, R$ 59,90 e R$ 39,90 em e-book, tradução de Thais Paiva). Quinto romance do aclamado escritor norte-americano Matt Ruff, nascido em Nova York, a obra teve seus direitos adquiridos em 10 países e conquistou a admiração do celebrado diretor Jordan Peele, do filme Corra!. Peele é o responsável pela produção da série na HBO baseada na história de Matt Ruff, que, aos cinco anos de idade, decidiu que queria ser autor de ficção. Passou a infância e a adolescência aprendendo a contar histórias.
Os terrores da época da segregação racial nos Estados Unidos são o tema de Território Lovecraft (Intrínseca, 352 páginas, R$ 59,90 e R$ 39,90 em e-book, tradução de Thais Paiva). Quinto romance do aclamado escritor norte-americano Matt Ruff, nascido em Nova York, a obra teve seus direitos adquiridos em 10 países e conquistou a admiração do celebrado diretor Jordan Peele, do filme Corra!. Peele é o responsável pela produção da série na HBO baseada na história de Matt Ruff, que, aos cinco anos de idade, decidiu que queria ser autor de ficção. Passou a infância e a adolescência aprendendo a contar histórias.
Partindo de um contexto real e expondo o racismo estrutural dos Estados Unidos da década de 1950, Território Lovecraft une ficção histórica, fantasia e pulp noir em uma coletânea de contos que, na verdade, forma um romance. A obra mereceu o prestigiado prêmio Endeavor Awards e foi finalista do World Fantasy Awards. O livro faz parte do clube de assinaturas Intrínsecos e foi editado em capa dura, com pintura trilateral.
O protagonista da narrativa é o jovem negro Atticus, veterano da Guerra da Coreia, fã do clássico escritor H. P. Lovecraft e outros autores de pulp fiction. Ao descobrir que o pai desapareceu, ele volta para a cidade natal para, com o tio e a amiga, partir em uma missão de resgate. O percurso até a mansão do herdeiro da propriedade, que mantinha um dos ancestrais de Atticus escravizado, não será, de modo algum, uma viagem qualquer, e o grupo enfrentará sociedades secretas, rituais sanguinolentos e o preconceito de todos os dias. Esta é apenas a primeira parada de uma jornada impressionante. Atticus encontrará o pai acorrentado, preso por uma confraria secreta, que pretende fazer um ritual no qual o principal personagem seria Atticus.
O romance, estruturado ao mesmo tempo como uma coletânea de contos, traz personagens memoráveis, elementos sobrenaturais, como casas assombradas e portais para outras realidades, objetos enfeitiçados e livros mágicos. É um grande e belo retrato caleidoscópico do racismo - fantasma que até hoje assombra o mundo -, no qual Matt Ruff mescla a fantasia de Lovecraft com ficção histórica e pulp fiction para explorar os Estados Unidos. Não é pouca coisa.

Tio Januário, o otimista

Muitos anos antes de ler o clássico O poder do pensamento positivo, do norte-americano Norman Vincent Peale, Tio Januário já era um otimista inveterado. As fotos de criança mostram um menino com olhos, bochechas e boca sempre sorridentes, na tentativa de ver a vida lhe sorrir, também. Em 1964, quando estava entrando na segunda infância, motivado pela família, parentes, amigos e pela professora do curso primário, Januário ficou otimista com a chegada dos militares e achou que teríamos liberdade, democracia, crescimento social e econômico e muita coisa mais.
Januário nunca concordou com aqueles que dizem que o otimista é um pessimista mal-informado e achava graça na frase de Mario Quintana que diz que a esperança é um urubu pintado de verde. Nas leituras da juventude, nos tempos da faculdade de Direito, Januário gostou da lição do italiano Antonio Gramsci: "Sou pessimista no prognóstico e otimista na ação".
Depois que os anos ditos dourados ficaram cor de chumbo, o otimismo crônico do Tio Januário - que alguns chamavam de profeta do cotidiano - se fortaleceu com as Diretas Já, a Constituição Cidadã e a redemocratização. Tio Januário estava otimista com a construção de um novo Brasil, de cima para baixo, pela sociedade civil organizada, entidades de classe, sindicatos e etc. Chegou a ter esperanças até no Sarney e no Collor e procurou manter um otimismo esperançoso e profissional bem brasileiro nos tempos do Itamar, Fernando Henrique, Dilma, Lula e, agora, no Bolsonaro.
Tio Januário está velhinho, não é mais tão otimista quanto antes e um realismo concreto vem baixando nas suas ideias. Ele sabe que o Brasil é sempre para a semana que vem, que os velhos mecanismos ainda estão funcionando azeitados e está preocupado com a maldita pandemia. Procura acreditar em algo bom, procura notícias e informações verdadeiras e tenta não ficar atirando pedras nos outros.
Dentro do que lhe resta de esperança e otimismo, Tio Januário procura pensar que esse pandemônio vai passar, que daqui a pouco teremos uma nova bela época, como já aconteceu antes na história do planeta. O otimismo do Tio Januário está, mais do que nunca, posto à prova. "Nada será como antes", o "mundo será outro", "seremos diferentes", "vão morrer milhões de pessoas" e outras expressões como estas atordoam a cabeça do tio, que não gosta de telejornais-necrotérios, indústrias de fake news, políticos aproveitadores, faturadores de plantão, infectologistas de botequim e consultores que a todo momento dizem que temos que administrar os medos e compatibilizar a fé com a ciência, lavar as mãos e ficar em casa.
Tio Januário reza para que se encontrem saídas para equilibrar a vida, a saúde e a economia, irmãs inseparáveis da família humana. Tio Januário sente que está todo mundo meio perdido como ele, mas se esforça para manter o que lhe resta de otimismo e esperança.
Tio Januário procura botar fé na ciência e ciência na fé, pensa num remédio, numa vacina para o vírus desgraçado. Lembra do que seu velho pai dizia: o que não tem remédio, remediado está. Naquele tempo, o mundo e as pessoas eram mais simples. Eram?

Lançamentos

  • O apanhador no campo de centeio, Nove histórias e Franny & Zoey, clássicos do grande escritor norte-americano J.D. Salinger (editados no Brasil pela Todavia Editora desde o ano passado) estão, agora, disponíveis em formato e-book, para compras nas principais plataformas.
  • Modern Love - O melhor da coluna Modern Love do The New York Times (Editora Rocco, 304 páginas, R$ 54,90, tradução de Ana Trodrigues ), organizado pelo editor Daniel Jones, traz histórias reais de amor, perda e redenção, algumas nada convencionais, outras familiares, que impressionam e ensinam.
  • Hormônios, me ouçam! Relatos bem-humorados sem tabus de como a escritora sobreviveu à menopausa (Literare Books International, 124 páginas, R$ 34,90), de Leila Rodrigues, fala do período da menopausa, que é a soma de duas palavras gregas: mês e fim. Depois de seus altos e baixos, a autora resolveu compartilhar suas experiências, através de crônicas.

A propósito...

Ainda otimista no meio destes ventos e destas marés, Tio Januário tem esperanças que o presidente Bolsonaro encontre novos atos e expressões, mesmo sabendo que a liturgia do cargo, hoje, às vezes não tem mais nem na missa. Tio Januário, por incrível que pareça e apesar de tudo, tem esperanças nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e espera que as soluções sejam pacíficas, embora saiba que a secular cordialidade brasileira ande minguando. Enquanto há vida, há esperança, vai pensando, em meio a tantas vidas e esperanças que diariamente estão indo para o espaço. Tio Januário tem esperança de que o Brasil um dia chegue. (Jaime Cimenti)