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- Publicada em 09 de Abril de 2020 às 03:00

Ser mulher no Holocausto

A narrativa revela como, para sobreviver, uma mulher pode utilizar suas capacidades para lutar contra todas as probabilidades

A narrativa revela como, para sobreviver, uma mulher pode utilizar suas capacidades para lutar contra todas as probabilidades


REPRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO/JC
A viagem de Cilka (Planeta, 304 páginas, R$ 49,90), romance histórico baseado em uma história real de coragem, amor e esperança, de autoria da consagrada escritora neo-zelandesa Heather Morris, é a sequência do romance best-seller do The New York Times O tatuador de Auschwitz, da autora.
A viagem de Cilka (Planeta, 304 páginas, R$ 49,90), romance histórico baseado em uma história real de coragem, amor e esperança, de autoria da consagrada escritora neo-zelandesa Heather Morris, é a sequência do romance best-seller do The New York Times O tatuador de Auschwitz, da autora.
Heather trabalhou em um grande hospital de Melbourne, na Austrália, e lá conheceu um velho senhor que lhe contou tocantes histórias do Holocausto, histórias estas que inspiraram a criação de O tatuador de Auschwitz e depois este A viagem de Cilka.
Em síntese, a narrativa revela como, para sobreviver, uma mulher pode utilizar suas capacidades para lutar contra todas as probabilidades. O texto é um verdadeiro e potente testemunho de como a resiliência humana pode vencer as adversidades que a vida apresenta.
Mesclando com muita habilidade ficção e realidade, a autora mostra, em seu segundo romance histórico, também publicado no Brasil, uma perspectiva feminina para um dos capítulos mais sombrios da história da humanidade, o Holocausto. O romance tomou por base a vida de Cecilia Kovachova, jovem de 16 anos que foi presa no campo de concentração Auschwitz-Birkenau, durante a Segunda Guerra Mundial.
A protagonista Cilka é um grande símbolo da luta feminina. Adolescente de longos cabelos, cheia de vida e de rara beleza, ela chama a atenção dos nazistas e é separada do campo pelo oficial comandante. Cilka descobre depois que o que parecia uma vantagem tornou-se a porta de entrada para castigos físicos, trabalhos forçados e abusos sexuais.
Anos depois, Cilka, acusada de colaborar com os nazistas, é levada para Vorkuta, na inóspita e gelada Sibéria. Lá ela faz amizade com uma médica e passa a ajudar a cuidar de presos enfermos. Em Vorkuta, tem a oportunidade de conhecer o amor de sua vida.
Muito já se falou, escreveu e filmou sobre o terrível cotidiano do Holocausto, e esse romance mostra que sempre se pode descrever uma faceta diferente daqueles dias que até hoje chocam a humanidade. Essa narrativa atemporal e universal, a partir de uma perspectiva de gênero, serve para nosso mundo atual, onde, ainda, as mulheres lutam por liberdade e outros direitos que não chegaram totalmente.

Quarentena, Páscoa, Crise

Depois dos 40 dias da quaresma, chega pontualmente a Páscoa, mais uma oportunidade para pensar em ovo, crianças gulosas, renascimentos e esperanças. No meio desta quarentena inimaginável e terrível, não está lá muito fácil pensar em levezas, mas para quem quer seguir nesse baile mundial muito louco, é seguir dançando ou sair do salão.
Noite dessas o céu parecia desabar às duas da madrugada, em meio a trovões ribombantes, ventos uivando feito um coral desafinado composto por um milhão de lobos enlouquecidos, uma escuridão daquelas de antes de Deus ter criado a luz e vários dilúvios se derramando sobre tudo. Para completar, nada de energia elétrica nos quarteirões vizinhos e previsões incertas da companhia de eletricidade. Um mar com ondas altamente estressadas se agitava como se estivesse furioso com a espécie humana. A bateria do celular chegando ao fim. Água ainda tinha, mas quem queria tomar água naquele momento altamente distópico, cara de fim do mundo?
Pensamentos monomaníacos e monotemáticos sobre a onipresente e onipotente pandemia na maior parte das muitas cabeças apavoradas e acordadas daquele momento em que muitos deveriam estar pensando sobre nossa incrível dependência de celulares, computadores, energia elétrica e água, sempre dependemos da água.
Num determinado momento, o cansaço, a exaustão e, para muitos, remédios, calmantes e soníferos e um sono com muitos pesadelos e interrupções. Num determinado momento, a pausa forçada. Nas ruas, os fantasmas desapareceram, as corujas entraram para dentro de seus ninhos e os ladrões pediram algumas horas de folga, que não havia o menor clima e as mínimas condições para trabalhar. O ruído surdo da chuva miúda é amigo dos ladrões, mas temporais e noites góticas não servem para eles.
A crise, a pandemia. Alguns de nossos antepassados falavam que a crise viria, que teríamos caras com metralhadoras nas portas dos supermercados. Alguns falavam dos milhões de mortos e do confinamento de três meses em Porto Alegre, durante a gripe espanhola.
A vizinha que mandava o marido e os filhos deixarem as roupas e os sapatos na área de serviço antes de entrar no resto do apartamento era taxada de exagerada. Ela limpava tudo com álcool, até a parte interna do assento do vaso sanitário. Ela lavava as mãos toda hora, limpava os cantos da casa com cotonetes. Os psiquiatras diziam que ela era maníaca, que tinha TOC, que era exagerada. Mordem a língua, agora, os doutores.
Mordem a língua os que diziam que os japoneses, que tiram os sapatos antes de entrar e se cumprimentam de longe, eram frios, impessoais e não sei mais o quê. Mordeu a língua o mundo vaidoso, egoísta, apressado, desigual e metido. O mundo parou com a língua mordida diante do vírus rapidíssimo, universal e deletério.
Os ventos, as águas torrenciais, os trovões e o breu tomaram conta do resto daquela noite, que para alguns poetas parecia a última, o fim dos tempos, o apocalipse anunciado finalmente mostrando sua cara horrenda para os humanos apatetados.

Lançamentos

  • Dois irmãos: uma jornada fantástica (Ediouro, 56 páginas, R$ 34,90), de Alessandro Ferrari, é a adaptação para os quadrinhos da mais recente produção dos estúdios Disney, que estreou em março último. Conta a história de uma dupla de elfos que tenta descobrir se ainda há algum tipo de magia no mundo.
  • A odisseia de Penélope (Rocco, 128 páginas, R$ 29,90 e R$ 19,00 e-book), da grande escritora Margaret Atwood, internacionalmente conhecida e premiada, autora de O conto da aia, é uma interessante releitura contemporânea de um dos maiores clássicos da antiguidade. A obra dá voz a Penélope e suas 12 criadas enforcadas.
  • O mestre dos guarda-chuvas (Paulus, 32 páginas), de Elaine Pasquali Cavion, com ilustrações de Rubem Filho, fala de uma cidade triste e cinzenta, Chuvópolis, que, depois de tomada pelas águas e da chegada de um mestre, teve a chance de ver o sol e um novo jeito de viver em sociedade. Comportamento humano, distanciamento social e relações sociais, é disso que a obra fala.

A propósito...

Na manhã seguinte à noite endemoniada, o sol reapareceu, a energia elétrica voltou, as pessoas acordaram e a maior parte saiu da cama cedo, para tocar a vida, mesmo a vida nesse isolamento, que nos separa e nos une. O fim do mundo foi adiado, ao menos por um tempo indeterminado, e os profetas do apocalipse tiveram que colocar suas violas nos sacos mais uma vez. Que venham os coelhos, os chocolates, os ovos, as crianças e os velhos, esses de longe, que são grupo de risco, precisam de proteção. Que venham as vacinas, os remédios e a imunidade do rebanho das ovelhas humanas. Que venha o futuro, rápido, que o presente está desse jeito. Que venham outros temas e assuntos, que esta monomania está cansativa e tudo deve ter o seu devido limite. Que venha a salvação, as ruas e as praças cheias de pessoas e de vida. Que venham pessoas e mundo melhores, depois desta peste inominável. (Jaime Cimenti)