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- Publicada em 14 de Novembro de 2019 às 03:00

Relações amorosas, migrantes e dores

O autor mescla personagens de ficção envoltos em questões amorosas, econômicas e filosóficas

O autor mescla personagens de ficção envoltos em questões amorosas, econômicas e filosóficas


REPRODUÇÃO/JC
A medida de todas as coisas (É Realizações Editora, 264 páginas, tradução de Antonio Fernando Borges) apresenta seis contos longos ou romances curtos do premiado escritor e professor peruano Pedro Llosa Vélez e faz parte da coleção Ficções Filosóficas, da É Realizações.
A medida de todas as coisas (É Realizações Editora, 264 páginas, tradução de Antonio Fernando Borges) apresenta seis contos longos ou romances curtos do premiado escritor e professor peruano Pedro Llosa Vélez e faz parte da coleção Ficções Filosóficas, da É Realizações.
As densas, bem estruturadas e envolventes narrativas mostram bem porque Vélez é considerado escritor de primeira linha na literatura peruana recente. Na forma e no conteúdo, o autor vai mesclando com muita habilidade personagens de ficção envoltos em questões amorosas, econômicas, filosóficas e espirituais.
Vélez é autor dos livros de contos Viento en proa (Prêmio Dedo Crítico 2002), Protocolo Rorschach e Las visitaciones (Prêmio da Associação Peruano-Japonesa) e em 2019 publicou o livro de crônicas Hasta aqui llegamos -Historias de estranjeros en el Perú. Pela temática, complexidade discursiva e estruturas narrativas, a obra de de Vélez reúne as melhores características da tradição peruana de contos e amplia suas possibilidades, segundo escreveu Rubén Quiroz.
As narrativas vão muito além das meras complexidades das relações amorosas e tocam profundamente em temas maiores, como a natureza do migrante ou as famosas dores de nossa cultura neoliberal instaurada. Não falta humor aos contos do escritor.
Mario Vargas Llosa, prêmio Nobel de Literatura e primo de Pedro Llosa Vélez, no posfácio, escreveu: "São seis contos longos, ou romances curtos - textos em que a linguagem, os episódios e os personagens, mas sobretudo a arquitetura e os pontos de vista com que as histórias são contadas, encaixam-se de tal maneira que parecem capítulos de um romance. Como sempre em literatura, é a forma que enriquece ou empobrece o conteúdo, e a forma será tanto mais bem-sucedida quanto mais invisível ela for. É o que acontece nestas histórias: em cada uma delas, o leitor tem a certeza de que esta, e não outra, era a única maneira de contar, para que ficassem tão genuínas, tão convincentes e tão sutis. Todas são excelentes, sem que nenhuma tenha falhas ou enfraqueça o conjunto". 

O delírio da depressão

Muitos estão definindo a depressão de "a doença do século". Realmente. os números e as circunstâncias são preocupantes. No Brasil, segundo dados da Organização Mundial da Saúde, em 2017, 6% da população, em torno de 11 milhões de pessoas, estaria sofrendo os males da doença.
Segundo dados da empresa IQVIA, empresa americana de auditoria de medicamentos, entre julho de 2013 e junho de 2014 foram consumidos, no Brasil, 47 milhões de comprimidos antidepressivos e, de julho de 2017 a junho de 2018, o número de comprimidos saltou para 71 milhões. Um aumento de impressionantes 66%. Problemas sociais e psicológicos da atualidade, banalização de prescrição e outras causas são apontadas, para os números que assustam.
O delírio da depressão (Editora Buqui, 387 páginas, R$ 80.00) do médico, psicoterapeuta e escritor irlandês Terry Lynch, autor do bestseller Beyond Prozac e de Selfhood, obra a ser lançada dia 19/11, das 17h às 20h, na PocketStore (Félix da Cunha, 1.167), trata de um tema importantíssimo: o exame detalhado de uma falsa teoria, segundo o autor, que teria impregnado a sociedade. O livro é o primeiro volume, de uma série de três, intitulada O mito desiquilíbrio químico do cérebro, e foi traduzido por Lia Beatriz Lautert Fleck.
Para o autor, a questão dos desiquilíbrios químicos cerebrais na depressão é uma falácia. Ele afirma que nunca houve evidência científica confiável de haver algum desiquilíbrio ou deficiência de serotonina, ou de qualquer outra substância química cerebral, na depressão.
A tese é uma bomba jogada em cinquenta anos de exames, diagnósticos e prescrições de psicoterapeutas e, segundo o autor, o erro de lógica de muitos médicos tem prejudicado severamente o progresso real e significativo no entendimento e respostas à depressão.
Para Terry Linch, existe uma forma melhor de entender a depressão, com base numa apreciação mais profunda das experiências e comportamentos humanos. Segundo ele, as empresas farmacêuticas estão se retirando das pesquisas da psiquiatria por que dizer às pessoas que elas têm um desequilíbrio químico pode não ser ético.
O escritor irlandês prefere acreditar que o tratamento para a depressão passa por psicoterapia e pelo entendimento de traumas e problemas para que as pessoas posam assumir a responsabilidade por eles. Os medicamentos, se usados, devem ser retirados em pouco tempo, desmistificando um dos mitos mais disseminados e nocivos nos tempos modernos.
Linch se atreve a desafiar a biologização e a hegemonia farmacêutica na depressão, e entende que, a permanecer as coisas como estão, o desenvolvimento de uma compreensão holística abrangente da depressão fica comprometido. O autor questiona profundamente, com base em dados científicos, os procedimentos das empresas farmacêuticas, os psiquiatras e médicos clínicos que adotam a teoria do desiquilíbrio químico e afirma que o fenômeno psicológico do "pensamento de grupo" permitiu que a teoria se tornasse insolúvel.

Lançamentos

Goulart traz textos sensíveis e pitorescos, resultantes das mil leituras (e mil vidas) do autor

Goulart traz textos sensíveis e pitorescos, resultantes das mil leituras (e mil vidas) do autor


REPRODUÇÃO/DIVULGAÇÃO/JC
  • Anotações de um leitor curioso (Editora Movimento, 112 páginas) (acima), do consagrado jornalista e cronista Antônio Goulart, traz textos sensíveis e pitorescos, resultantes das mil leituras (e mil vidas) do autor. "Li esta seleção de causos e citações com prazer, encantamento e uma pitada de inveja", escreveu o jornalista Nilson Souza na apresentação.
  • Aventuras no topo da África - Trekking no Kilimanjaro (Metamorfose, 222 páginas), 4ª Edição, comemorativa dos 20 anos do lançamento do livro de Airton Ortiz, jornalista de aventura, fala de informações geográficas e históricas, dúvidas e sensações sinceras e da grande experiência de sair do Brasil para chegar até o céu da África.
  • Sobre a estupidez - Três ensaios (Editora Unisinos, 96 páginas), de Robert Musil, Dietrich Bonhoeffer e Johann E. Erdmann, tem apresentação de Nélio Schneider: "Três ensaios abordando um tema sempre atual: o da estupidez humana, que tem adquirido nova notoriedade e candência na paisagem sociopolítica do Brasil e na cultura midiático-social mundial".

A propósito...

Por certo que o tema comporta discussões e deve ser analisado com a seriedade e a profundidade que merece, diante de sua magnitude. São dezenas e dezenas de milhões de pessoas no mundo envolvidas com a questão. A "doença do século" tem imensas repercussões nas pessoas, nas famílias, nas escolas, nos locais de trabalho, nas sociedades, na saúde, na economia e mesmo na política e pede análise percuciente.
O delírio da depressão é, sem dúvida, uma contribuição humana, generosa e saudável que o autor apresenta para um problema de caráter mundial. Nas páginas finais do livro está um utilíssimo Index, no qual estão centenas de verbetes para auxiliar os leitores a encontrarem referências sólidas para o entendimento da depressão e a buscar caminhos de superação. (Jaime Cimenti)