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- Publicada em 08 de Agosto de 2019 às 21:44

Do rock ao clássico com afeto

Há quem diga, com propriedade, que o amor e a música são as coisas mais próximas de Deus. Não dá para não lembrar disso ao ler o livro Do rock ao clássico - Cem crônicas afetivas sobre música (Agir, 256 páginas) do premiado e consagrado jornalista e escritor Arthur Dapieve, nascido no Rio de Janeiro em 1963. Ele já trabalhou no Jornal do Brasil, em O Globo, é comentarista do Estúdio i da GloboNews e no Redação Sportv, além de professor de jornalismo na PUC-Rio.
Há quem diga, com propriedade, que o amor e a música são as coisas mais próximas de Deus. Não dá para não lembrar disso ao ler o livro Do rock ao clássico - Cem crônicas afetivas sobre música (Agir, 256 páginas) do premiado e consagrado jornalista e escritor Arthur Dapieve, nascido no Rio de Janeiro em 1963. Ele já trabalhou no Jornal do Brasil, em O Globo, é comentarista do Estúdio i da GloboNews e no Redação Sportv, além de professor de jornalismo na PUC-Rio.
Os textos do décimo-primeiro livro de Arthur tratam de rock estrangeiro e brasileiro, músicas populares, black music e clássicos. Kurt Cobain, David Bowie, Bob Dylan, Beatles, Rolling Stones, Legião Urbana, Rappa, Kid Abelha, Plebe Rude, Roberto Carlos, Paulinho da Viola, Chico, Milton, Bill Evans, Bach, Handel e centenas de outras celebridades musicais estão nos textos ágeis, afetuosos e modernos do autor.
Diz Arthur: "Meus primeiros LPs foram as antologias duplas dos Beatles, a vermelha e a azul: uma antologia dupla dos Rolling Stones; o primeiro volume dos "maiores sucessos" de Bob Dylan; Wind and wuthering do Gênesis, Atom heart mother (o disco da vaca) e The dark side of the Moon (o disco do prisma) do Pink Floyd. No futuro, perceberia que quase todos os grandes gêneros não brasileiros estavam contidos naquela meia dúzia de LPs: rock, pop, blues, jazz, música clássica, até um quê de música indiana. A partir daquele núcleo deu-se um Big Bang. A eles se uniram, ao entender que vivíamos sob uma ditadura militar, os discos poéticos e politizados de Chico Buarque e, daí, o samba, o choro, a valsa e até um quê de fado. A coletânea em suas mãos - uma seleção de cem colunas dos meus 25 anos de colaboração para o jornal O Globo - é constituída pelos ecos e fragmentos daquele momento primordial. Afinal, como escreveu Camus, a obra de um homem "nada mais é do que esse longo caminho para reencontrar, pelos desvios da arte, as duas ou três imagens simples e grandes, às quais o coração se abriu uma primeira vez".
Na introdução, escreveu Tárik de Souza: "o livro oferece um raro e provocante híbrido, com leveza de cronista e pertinácia analítica, sem prejuízo da emoção, várias vezes debulhada. O autor conduz a uma dupla viagem: a transformação da música através dos tempos e sua própria jornada".

lançamentos

  • Nenhum amor igual ao meu e outros poemas (Patuá, 144 páginas), do premiado poeta, músico e homem de cultura Álvaro Santi, traz densos e bem elaborados poemas, como versos como "Recuso acreditar que é impossível/viver em paz, em pátria soberana./Ou vamos acordar a pátria livre, ou ela permanece em sua cama". Apresentação do professor Sergius Gonzaga.
  • O senhor das caminhadas (AGE Editora, 144 páginas), do advogado, professor universitário e colaborador comunitário Mauro Fiterman, apresenta contos que aproveitam a simplicidade do cotidiano das pessoas para provocar um tema permanente: a necessidade de cultivar bons valores no dia a dia. Valorizando os pequenos passos, pais e filhos percorrerão melhor suas vidas, em nossa sociedade contemporânea.
  • Desbravadores da Matemática - Da alavanca de Arquimedes aos fractais de Mandelbrot (Zahar,328 páginas, tradução de George Schlesinger), de Ian Stewart, um de nossos maiores matemáticos, traz matemática e história, para entender melhor os alicerces de muitas ciências da atualidade. Ian lançou no Brasil 17 Equações que mudaram o mundo, pela Zahar.
 

Dia dos Pais

Domingo é Dia dos Pais. O cronista não foge da pauta. Saio de casa e caminho com meu pai. Jovem, aos 67, ele esqueceu de respirar, de uma hora para outra, e aí ficou encantado, vivo até eu ou alguém não o lembrar. O pai trabalhou na manhã do dia em que se foi para cima. Cinquenta e sete anos de trabalho, ano que vem ele faria cem anos. Entramos nos jardins do Dmae e ele diz: te anima, sorri, levanta a cabeça, costas para cima!
Ao falecer ele tinha empresa com quinhentos colaboradores, uma vida confortável, sem ostentações e passou os últimos invernos na Itália, de onde veio, em 1949, de navio, com minha mãe e meu irmão. Ele tinha 29, a mãe 21 e o saudoso Gianfranco, 5 meses. Foram para Nova Prata, onde nasceu minha gloriosa irmã Jussara e onde eu fui gerado, para depois nascer na imortal Bento Gonçalves. Alberto nasceu em Treviso, tinha sete irmãos e a família ia bem com a alfaiataria e loja de meus avôs. Problemas, dificuldades e aos 14 meu pai foi trabalhar como auxiliar de operário na Alfa Romeu. Quarenta anos depois, no Brasil, depois de muita luta, comprou um Alfa Romeu.
Soldado na II Guerra Mundial na Itália, onde conseguiu formar-se Geômetra, o pai chamava Mussolini de comediante, não gostava de totalitarismos e preferia outros assuntos. Os horrores da guerra e do pós-guerra e as dificuldades de chegar com uma mão na frente e outra atrás no Brasil nunca tiraram o gosto dele pela família, pelo trabalho, pelos livros, música, viagens, amigos e boa mesa. Vendedor de livro lá em casa nem precisava falar muito.
Me ensinou o dia ideal: oito horas de descanso, oito de trabalho e oito de lazer. Dizia ele: tudo o que é exagerado está errado; a verdade está no meio; os corretores estão de olho na comissão; pede desconto e paga à vista; não pede dinheiro emprestado para banco; reza de noite; trata todas, todas as pessoas bem, com educação; a gente só sabe que não sabe; o importante é o amor, a família; por vezes a gente cobra caro por algo ou por um trabalho e aí pode ser uma vez só; melhor entrar e sair pela porta da frente.
O pai pensava, escrevia, cantava e falava bem, mas ficaram mais os gestos, o exemplo, o jeito de ser e a alma. Uma vez me levou a viajar pela Itália durante várias semanas. Na madrugada da volta, depois de centenas de quilômetros ele guiava o pequeno Fiat 600 e eu perguntei: onde vamos amanhã? Sacudiu a cabeça, pensou que o pirralho de onze anos era insaciável, mas desviou o caminho por umas dezenas de quilômetros para levá-lo, ou"cansá-lo", até Collodi, cidade do Pinóquio. Lojas fechadas, vi o famoso boneco nas vitrines. Depois acho que dormi, sonhando com a próxima viagem.
O pai comprava bilhetes de loteria, mas dizia que o trabalho era a loteria. O pai tinha amigos, parentes e conhecidos pobres, classe média e ricos, mas uma vez, depois um vinho, uvas, figos e queijinho com o querido Silvio disse: o importante não é o que tu comes, mas com quem tu comes.
O pai não era perfeito. Não permitiu que seus filhos tivessem o privilégio de começar do zero, de se fazer por conta própria, ser um self-made man como ele. Gostava de brincar, ele.

a propósito...

Sou pai há pouco tempo, vinte e nove anos. Estou aí acertando e errando, tomara que com muito tempo pela frente, aprendendo com as minhas filhas, que não desistem de tentar me "melhorar" ainda mais. É difícil educar os pais. Melhor é gostar deles, aceitá-los e carregá-los dentro do coração e da mochila, como se eles fossem um kit-vida, um seguro-saúde eterno, uma chave mágica capaz de abrir os caminhos futuros que os filhos vão escolhendo e trilhando pelo mundo.
(Jaime Cimenti)