Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

- Publicada em 04 de Julho de 2019 às 21:28

Saramago, José, personagens e ficções

Autobiografia (Companhia das Letras, 246 páginas), romance do grande e premiado escritor português José Luís Peixoto, com capa e projeto gráfico da TAG - Experiências Literárias, marca os cinco anos de sucesso da TAG, que trata de pessoas e livros com cuidado e afeto crescentes.
Autobiografia (Companhia das Letras, 246 páginas), romance do grande e premiado escritor português José Luís Peixoto, com capa e projeto gráfico da TAG - Experiências Literárias, marca os cinco anos de sucesso da TAG, que trata de pessoas e livros com cuidado e afeto crescentes.
Autobiografia, publicado em primeira mão, mostra porque José Luís Peixoto é hoje um dos mais destacados autores da literatura portuguesa contemporânea, ao lado de nomes como José Saramago, Urbano Tavares Rodrigues, António Lobo Antunes, Mia Couto, Gonçalo M. Tavares e tantos outros, que renovaram a linguagem e os conteúdos e mereceram reconhecimento nacional e internacional.
O romance apresenta intrigantes jogos metaliterários e tem como protagonista nada menos do que José Saramago, o primeiro escritor de língua portuguesa a receber o Nobel de Literatura. José, um jovem escritor, na Lisboa dos anos 1990, de repente vê seu caminho se cruzar com o de Saramago em diversas ocasiões e a partir desses encontros nasce uma história em que realidade e ficção se mesclam.
O leitor é chamado a participar do jogo literário, onde o escritor José, bêbado e jogador endividado, é convidado para escrever uma biografia de Saramago. De início, José transforma pessoas reais como Saramago, suas esposas e o escritor Urbano Tavares Rodrigues em personagens de ficção. Depois personagens de livros de Saramago entram na dança e a ficção vai reinar soberana, que afinal a literatura também e principalmente serve para preencher as lacunas da memória.
A jornalista Pilar del Rio, última esposa de Saramago e presidente da Fundação Saramago, escreveu que "com o ambicioso pretexto de escrever sobre outro autor, José Luís Peixoto entra pelos infernos da criação literária e que Autobiografia é um exercício de leitura prazeroso e estimulante que nos mostra muito do ofício de escrever e de como dois escritores podem ser protagonistas de um jogo que nunca poderia ser leviano, embora seja, completamente, fictício. É pura criação, criação literária".
 

Lançamentos

Ralé (Diadorim, 218 páginas), do consagrado jornalista, escritor e editor Flávio Ilha, traz contos sobre medo, amor e ódio narrados com destreza, linguagem límpida e fluência narrativa. Dores da carne e da alma, violência das ruas, periferias e quartéis e dos lugares onde os endinheirados emulam felicidade estão na obra, que retrata um universo áspero com grande sensibilidade.
A benção das tormentas (Wonderful Editora, 110 páginas), contos do médico uruguaianense Renato Soares Gutierrez, escritos durante trinta anos, editados por Fernando di Primio Conceição, falam de benzedeiras, fé e pedofilia, do garçom Belú, da "evaporação" do maluco João Simplício, do "Rivelino" local e de outras histórias, com pequenos grandes detalhes e muita emoção.
Culinária da Família Oltramari (Plus Editora, 180 páginas), traz receitas e fotos em cores organizadas por Fernando Oltramari, com coordenação editorial de Roque Jacoby. São 170 receitas de bolachas, bolos, cucas, pães, doces e sobremesas, cremes, sopas, frutos do mar, carnes e acompanhamentos, fruto de décadas de cultura italiana e destinadas a unir a família em torno da mesa.
 

E palavras... Música

Pensando bem e ouvindo bem, acho que para que outro mundo seja possível e para que este velho mundo sem porteira que temos aí desse uma melhoradinha, é preciso mais música. Música da boa, com harmonia, temas, letras e arranjos dignos de nossos ouvidos maltratados por essas aporrinholas eletrônicas e essas letras tenebrosas.
A audição é nosso primeiro sentido. Na barriga da mãe não vemos, cheiramos, tocamos e não sentimos gostos. Mas ouvimos sons, palavras, música. Pessoas idosas com demência e outras terríveis doenças do sistema nervoso central (o nosso software), quando ouvem alguns sons ou melodias conhecidas, têm sua memória ativada.
A música e o amor são as coisas mais próximas de Deus. Se você não acredita em Deus, pense que música e amor são as coisas mais próximas da vida, pronto. Talvez a única linguagem realmente universal, a música bem poderia ser mais utilizada para as pessoas e os países se entenderem melhor. Geralmente ao som de música boa, as pessoas apresentam comportamentos mais harmoniosos, riem, dançam, cantam e choram lágrimas de alegria ou tristeza.
Quem sabe a música funcione como uma forma de tirar as pessoas de sua incomunicabilidade, solidão e individualismo crescentes nesses tempos de alta tecnologia e redes sociais tantas vezes antissociais. No cinema a trilha sonora quando é boa se torna personagem dos filmes, como, por exemplo, as inesquecíveis melodias de Nino Rotta nos filmes de Fellini.
Pensando bem, o melhor dos Estados Unidos é o jazz, o melhor do Brasil é a bossa nova e o samba e o melhor dos países da Europa, em geral, é a música. Poucos elementos culturais atravessam o tempo, a geografia, as almas e os corações como a música. Ouvimos as canções desde a barriga da mãe até as últimas células vivas de nossos ouvidos. Uma canção nos leva para tempos, pessoas, perfumes, ambientes e lembranças por vezes inimagináveis. Beethoven ouvia música até depois de ficar surdo, dizem.
Música, cantores, compositores, letristas e músicos geralmente inspiram o melhor nas pessoas, geralmente acordam nos humanos sentimentos e ações do bem. É muito isso, num mundo de muita coisa feia, de muita dissonância e de poucas "orquestras" que toquem com afinação. Bem, mesmo com desafinação, é melhor do que música nenhuma. No peito dos desafinados também bate um coração, disse o Tom Jobim, nosso Maestro Soberano, que tanta falta nos faz e que tanto ajuda os músicos e cantores de todos os bares, restaurantes, teatros e espaços do Brasil e do exterior. Tom ajuda até hoje os colegas a ganhar seu pãozinho com manteiga, cantando e tocando Garota de Ipanema no Rio, em Porto Alegre, em Salvador, em Paris e no Japão. Tom é o Santo Padroeiro dos Músicos. Há muitos tons, mas um só Jobim, um de nossos maiores tesouros nacionais.
Música é quando não precisamos palavras, letras e permitimos que os sons expressem delicadamente o que não conseguimos dizer com palavras ou gestos. Música é o que jamais vamos conseguir revelar de todo falando, escrevendo ou mexendo os olhos, os lábios, os pés e as mãos. Música ajuda a gente a viver. Música é o Tony Bennett sobrenatural, vivo, cantando e ensinando coisas boas para a Lady Gaga.
 

A propósito...

Bento Gonçalves, eu tinha quatro anos, estava com meu amigo Aldinho, mesma idade, os dois de pijama e pé no chão na frente de casa. Nove da manhã, acho. Aí foi chegando uma bandinha com uns sete ou oito músicos. Flauta, tarol, trombone, bumbo, por aí. Música da boa. Eu e Aldinho saímos atrás, sem avisar. Fomos atrás da banda até o Centro, mais ou menos um quilômetro. Os músicos se dispersaram. Os sons continuaram nas nossas cabeças. Aí um conhecido, o Galaor, perguntou o que a gente fazia ali. "A gente veio atrás da banda." Nos levou para casa. A bandinha toca até hoje em nossas mentes. Vai tocar até o fim, que está bem longe, não é meu querido amigo Aldo Meneguzzi Jr.?