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LIVROS

- Publicada em 01 de Fevereiro de 2019 às 01:00

O simples e o complexo na aldeia

Nenhum olhar (Dublinense, 224 páginas), nova edição brasileira do romance do grande escritor português José Luís Peixoto (Galveias, 1974), vencedor do prestigiado Prêmio José Saramago de 2001, é uma boa oportunidade para os leitores brasileiros entrarem em contato com a alta literatura de Peixoto, autor dos celebrados Cemitério de pianos (Prêmio Calamo Outra Mirada, Espanha, 2007) e Galveias (Prêmio Oceanos, 2016).
Nenhum olhar (Dublinense, 224 páginas), nova edição brasileira do romance do grande escritor português José Luís Peixoto (Galveias, 1974), vencedor do prestigiado Prêmio José Saramago de 2001, é uma boa oportunidade para os leitores brasileiros entrarem em contato com a alta literatura de Peixoto, autor dos celebrados Cemitério de pianos (Prêmio Calamo Outra Mirada, Espanha, 2007) e Galveias (Prêmio Oceanos, 2016).
Peixoto é um dos autores mais destacados da literatura portuguesa contemporânea que, com justiça, tanto brilha nestas últimas décadas pelo mundo. A obra ficcional e poética do autor figura em dezenas de antologias traduzidas em vários idiomas e tem sido estudada em universidades nacionais e estrangeiras.
Nenhum olhar trata dos silêncios, das palavras, da simplicidade e da complexidade da vida de uma vila rural isolada, sem nome, onde o cotidiano e os personagens são objeto de um olhar sensível, aguçado e profundo do romancista. A cozinheira, o serralheiro, o pastor taciturno, o velho sábio Gabriel e os irmãos siameses Elias e Moisés estão na narrativa sobre a aldeia alentejana onde há poucas palavras, muito silêncio e mais profundidade de vida e sentimentos do que se pode imaginar num primeiro olhar.
Na apresentação, diz o escritor Reginaldo Pujol Filho: "E assim, no enredo e nas vozes que cria para os personagens, foge de um naturalismo sociologizante. Nos pontos de vista e discursos que cria, abre espaço para o poético e para a invenção. Investiga no profundo do interior rural de Portugal e na profundeza das pessoas mais anônimas, suas lendas, sua violência silenciosa e suas belezas carentes de algum olhar para tratar de temas aqueles que dizem respeito a qualquer pessoa".
"Hoje o tempo não me enganou. Não se conhece uma aragem na tarde. O ar queima, como se fosse um bafo quente de lume, e não ar simples de respirar, como se a tarde não quisesse já morrer e começasse aqui a hora do calor. Não há nuvens, há riscos brancos, muito finos, desfiados de nuvens. E o céu, daqui, parece fresco, parece a água limpa de um açude. Penso: talvez o céu seja um mar grande de água doce e talvez a gente veja as coisas ao contrário e a terra seja como um céu e quando a gente morre, quando a gente morre, talvez a gente caia e se afunde no céu." Assim se inicia o romance de Peixoto.

Lançamentos

  • A volta ao mundo em 80 dias (Editora Zahar, 274 páginas, tradução de André Telles), romance clássico e um dos mais queridos do genial Jules Verne, traz a fantástica viagem do calado e pacato inglês Phileas Fogg e seu valete francês Jean Passepartout que pretendem dar a volta ao mundo em 80 dias. Da Inglaterra ao Japão, passando pela Índia e pela China, de navio, trem e elefante, os dois tentarão cumprir a missão.
  • As palavras e o cuidado - Arteterapia e literatura (Sana Arte, 112 páginas), da consagrada e experiente arquiteta, urbanista, escritora, poeta e palestrante Marilice Costi, é obra que detalha com propriedade seu fazer como arteterapeuta, especialmente em oficinas de poesia. O livro vem em boa hora, num momento em que a Arteterapia se insere no conjunto da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS.
  • Referências culturais do município de São José do Norte - Rio Grande do Sul (Pluscom, 136 páginas), organizado pela professora Carmem Schiavon, traz textos dela, Daniel Porciuncula Prado, Artur Henrique Barcelos, Gianpaolo Adomilli e Mauro Dillmann sobre história, pesca, ofícios e saberes, aspectos religiosos e culturais, sobre Zeméco e outros tópicos. Publicação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - RS.
 

Marina Solé Pagot, escritora

Há 43 anos escrevo resenhas e críticas literárias para jornais e revistas. No Jornal do Comércio, já são 25 anos de publicação semanal e ininterrupta desta página, na qual já registrei lançamentos de uns 6 mil livros e foram publicadas cerca de 800 crônicas sobre temas do cotidiano.
Não digo isso para me vangloriar, mas para lembrar que histórias e livros, inclusive os eletrônicos, são essenciais para os seres humanos. Ler e contar histórias são importantes como o ar que respiramos para seguirmos vivos. Desde as conversas pré-históricas em volta da roda de fogo até as histórias nas plataformas digitais atuais, o caminho de um contar histórias para os outros é milenar. E a vida dos livros é tão imprevisível e cheia de voltas quanto a vida das pessoas.
Coração de Obsidiana - Os três escolhidos (Edição da autora, 356 páginas), trilogia com narrativas fantásticas da estudante Marina Solé Pagot, jovem escritora nascida em Carlos Barbosa em 29 de abril de 2002, mostra que sempre existem boas surpresas e novidades, mesmo para veteranos colunistas de livros. Marina escreveu sua primeira obra, Coração de Obsidiana, em 2014, aos 12 anos de idade. O cavaleiro branco e Reino de memórias sãos os dois outros livros, que formam a trilogia Coração de Obsidiana, publicada agora em volume único.
No prefácio, o experiente escritor Diogo Guerra escreve: "Com todos os delírios possíveis e imagináveis que somente a escrita pode nos proporcionar, você, leitor, se envolverá pelas poções mágicas, os magos e pensará, afinal, que voar não é impossível. O livro faz uma releitura de mais de dois séculos dos personagens de todas as fantasias dos contos de fadas que seduziram jovens e adultos ao longo das décadas: Alice no país das maravilhas, Peter Pan, A Bela e a Fera, O Mágico de Oz... Enquanto houver crianças, sempre haverá histórias para contar".
As narrativas mostram Beatriz, Tomás e Davi, adolescentes "normais", envolvidos na vida real por fantasias que lhes foram contadas. Os três se encontram numa busca incessante para derrotar a perversa e implacável Rainha Má. Eles enfrentam as visões sombrias de seus escondidos passados nebulosos, que estão nos confins de suas mentes e seguem o recado: cuidado com as sombras.
A autora, aliás, deixou um recado para os leitores, antes da narrativa. "Quer chamar 'tudo isso' de outra história chata de contos de fadas? Saiba que não começarei com Era uma vez; e que, provavelmente, não acabarei com E viveram felizes para sempre."
É isso. Marina não conta uma história com princesas, coroas e castelos e, com ousadia e talento, reconta o contado e o recontado, e acrescenta seus personagens e fantasias no mar de histórias que começou nas cavernas e se dirige ao infinito, mar este feito de realidade, fantasia, liberdade e aventuras, muitas aventuras, tipo assim, a vida real e a imaginada, ou as duas juntas, mais palavras e silêncios.
 

A propósito...

A literatura fantástica, durante muito tempo, seguiu somente ao lado da "grande literatura" ou da "literatura séria" mas, nas últimas décadas, em especial, ganhou o respeito e o destaque merecidos. Autores como C.S. Lewis, J.R.R. Tolkien, George R.R. Martin, Hans Christian Andersen, Mario Zimmer Bradley e J.K. Rowling, entre outros, trataram de fantasia, horror e ficção científica e revelaram a força da literatura fantástica. Marina Solé Pagot segue por essa trilha, em meio ao real, às fantasias e aos infernos e paraísos que estão dentro e fora de nós. Palavras, silêncios, ler e contar histórias, disso precisamos para viver. E muito.