Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

- Publicada em 16 de Novembro de 2018 às 01:00

Vitor Necchi e o nosso tempo

Não existe mais dia seguinte (Editora Taverna, 196 páginas,R$ 44,90), do professor, jornalista e escritor Vitor Necchi, nascido em Porto Alegre em 1970, apresenta 60 crônicas sobre três temporalidades: o presente, tratando de nosso fundo fraturado e violento; o pretérito, com memórias, reminiscências, personagens, fatos e universo familiar, afetivo e cultural do autor; e a terceira temporalidade, que pode ser definida como o momento em que Necchi deixa um pouco de lado o rigor jornalístico para se direcionar à narrativa ficcional. A crônica, muitas vezes, como se sabe, mescla os atributos do jornalismo com os da literatura.
Não existe mais dia seguinte (Editora Taverna, 196 páginas,R$ 44,90), do professor, jornalista e escritor Vitor Necchi, nascido em Porto Alegre em 1970, apresenta 60 crônicas sobre três temporalidades: o presente, tratando de nosso fundo fraturado e violento; o pretérito, com memórias, reminiscências, personagens, fatos e universo familiar, afetivo e cultural do autor; e a terceira temporalidade, que pode ser definida como o momento em que Necchi deixa um pouco de lado o rigor jornalístico para se direcionar à narrativa ficcional. A crônica, muitas vezes, como se sabe, mescla os atributos do jornalismo com os da literatura.
Necchi é jornalista formado pela Ufrgs, mestre em Comunicação Social pela Pucrs e é doutorando em Letras na Ufrgs. Alguns dos textos que compõem a coletânea foram publicados em Zero Hora, nos jornais digitais Sul21 e Carta Maior, e outros foram escritos para o Facebook e para um blog, o Cacto, que o autor manteve nos primeiros anos deste século XXI. O olhar e a escrita do autor são sensíveis, profundos e os textos, elegantes, fazem referências às artes, à música, ao cinema e à literatura.
Quer dizer, as crônicas de Necchi, tratando de diversidade, memória, o imediatismo das notícias, morte, racismo, privacidade, ódio contra os LGBTQI e ascensão de movimentos fascistas, entre outros temas palpitantes, não apenas registram nossos dias com atenção e delicadeza. Elas se relacionam com as produções culturais que envolvem os temas e aí os textos ganham outras dimensões.
Como é envelhecer? Quem cuida da gente e como? Para onde vão nossos livros quando morremos? Depois que tivermos partido, alguém escreverá sobre nós, sobre nosso modo de falar e sobre nossos pensamentos e amores? Porque obituários silenciam sobre casamentos homoafetivos? Por que a luta de classes sumiu do jornalismo? Por que determinados discos e livros nos tocam tanto? Essas e outras questões estão na obra, que, como se percebe, fala - e muito - sobre esses nossos tempos tão rápidos, cambiantes e estilhaçados.
Não existe mais dia seguinte traz crônicas que biografam os tempos, as pessoas e os acontecimentos destas últimas décadas e mostra que ainda existem cronistas no Brasil e não apenas autores de pequenos artigos de opinião. Não é pouco.

Lançamentos

Quem move as peças (Editora Moinhos, 236 páginas, tradução de Fernando Miranda), romance do premiado e consagrado escritor e tradutor argentino Ariel Magnus, autor de Un chino em bicicleta, a partir dos diários do avô judeu Heinz Magnus, traz narrativa extremamente bem construída e moderna, com humor, memórias e referências a outros textos literários. Personagens fictícios, figuras históricas, ficção e realidade estão na obra.
A elegância do silêncio (Modelo de nuvem, 224 páginas) de Gilmar Marcílio, escritor e filósofo, apresenta uma coletânea de crônicas, muitas publicadas no jornal Pioneiro, para o qual escreve atualmente. Marcílio habilmente trabalha temas do cotidiano, como a política, a arte de viver, os caminhos da mente e a busca da perfeição e o faz com a bagagem literária e filosófica das muitas leituras que faz desde a infância.
A política da fé e a política (É Realizações, 232 páginas), do historiador Michael Joseph Oakeshott (1901-1990), aborda ceticismo, fé e política. O autor fala de Rousseau e Marx, que acreditam em seres dominando a vida social e política e fala de céticos como Montaigne, Pascal e Hobbes, para quem governos não são perfeitos. Oakeshott busca balancear fé na capacidade humana com uma medida de ceticismo não absoluto.

Dia da República

Quinta-feira foi o dia de comemoração da Proclamação da República. Muitos estão contentes com as últimas eleições republicanas, outros nem tanto. Normal. É a democracia, a vida, a mensagem das urnas, a alternância do poder e a expectativa de evolução. Não é fácil, nunca foi, nem vai ser. As oposições cumprirão seu democrático papel, de olho nos atos dos novos governantes e focadas nas próximas eleições. Normal. Tomara que todos, situação e oposições, tenham boa fé e pensem no que é melhor para o País e não apenas no que interessa mais para grupos, partidos e pessoas. Os cidadãos brasileiros agradecem.
Melhor desejar e esperar que o bom senso prevaleça, que o nível do debate não seja do tipo aquele de banheiro de boteco de quinta categoria. Baixar o nível e provocar divisões deletérias ao fim e ao cabo não interessam a ninguém e muito menos ao Brasil. Talvez interesse a algum estrangeiro. Precisamos conservar nossas tradições republicanas de resolver as divergências com base em diálogos e ações pacíficos. Há quem diga que a sociedade brasileira já foi mais calma. De certa forma é verdade, mas se os líderes não souberem ouvir e atender os reclamos sociais, aí realmente a violência vai passar, ainda mais, das redes sociais para as calçadas, ruas e praças. Deus ajude que não.
A partir do presidente da República, exemplo máximo e nacional de comportamento para todos, até o mais simples cidadão e trabalhador, todos devemos tentar dialogar da melhor forma possível, buscando o que for melhor. Passadas as eleições, terminados os arroubos de campanha, a retórica incendiária e os exageros de costume, é hora de baixar a bola, colocá-la no centro do campo e recomeçar o jogo. O jogo democrático, republicano, sem bola de propina.
Tomara que a economia se descole o quanto possível da má política e tomara que as micro, médias e pequenas empresas mereçam bastante atenção, elas que fornecem em torno dos 90% dos empregos em nosso País. Os 13 milhões de desempregados agradecerão muito.
Sei que não estou dizendo grandes ou pequenas novidades, mas também acho que não devemos cultivar utopias ultrapassadas e nem achar, com pessimismo, que o futuro é uma terrível distopia. Que entrem em férias os apocalípticos de plantão e os arautos do caos. Precisamos de convívio sereno, harmonioso e capaz de propiciar um futuro melhor para nossos filhos, netos e bisnetos. No primeiro dia de aula das faculdades de Direito, o estudante aprende o milenar brocardo de Ulpiano, do Corpus Iuris Civilis: "ubi homo societas, ibi societas, ibi jus". Em bom português: Onde está o homem, há sociedade; onde existe sociedade há Direito. Nenhuma sociedade se desenvolve sem um mínimo de ordem, segurança e paz social. Isso é mais velho que andar a pé ou que a Sé de Braga, mas segue válido.
Há milênios a democracia vai se reinventando e não há fórmulas definitivas e acabadas, não custa lembrar. Não custa lembrar que a democracia é o sistema político menos pior e que devemos, realisticamente, seguir aprimorando o que está aí.

A propósito...

Hoje com as redes sociais temos todos um divã, uma poltrona de psicoterapeuta como tribuna livre para falar tudo, toda hora, sem limites. É bom desabafar, pôr para fora. O problema é o que fazer com tantos tarros abertos e sem um psicoterapeuta coordenando a "terapia de grupo" geral e liberada. É complicado. Melhor pensar um pouco antes de soltar o verbo. Melhor tentar agredir, ofender e brigar o mínimo. Somos demasiadamente humanos, estamos nos achando, mas, pensando bem, a vida é curta, passa depressa e deve ser maior do que essas discussões chatas e estéreis. Discussões bizantinas intermináveis sobre o sexo dos anjos. Hoje em dia teria que ser sobre "os sexos" dos anjos, que a coisa anda polissexual, para ser "politicamente correto". (Jaime Cimenti)