Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

- Publicada em 31 de Outubro de 2018 às 22:20

Antônio Carlos Cortes, cronista

De Pero Vaz de Caminha, autor de nossa crônica-certidão de nascimento nacional, a Luis Fernando Veríssimo, Arnaldo Jabor, Cony e Zuenir Ventura, passando por Machado de Assis, José de Alencar, Lima Barreto, João do Rio, Antônio Maria, Fernando Sabino, Clarice Lispector, Rachel de Queiroz, Paulo Mendes Campos, Nelson Rodrigues e o genial Rubem Braga, que definitivamente deu status de gênero literário para a crônica no Brasil, a crônica é coisa nossa, brasileiríssima. Atualmente, na maior parte do tempo, a crônica é um pequeno artigo de opinião.
De Pero Vaz de Caminha, autor de nossa crônica-certidão de nascimento nacional, a Luis Fernando Veríssimo, Arnaldo Jabor, Cony e Zuenir Ventura, passando por Machado de Assis, José de Alencar, Lima Barreto, João do Rio, Antônio Maria, Fernando Sabino, Clarice Lispector, Rachel de Queiroz, Paulo Mendes Campos, Nelson Rodrigues e o genial Rubem Braga, que definitivamente deu status de gênero literário para a crônica no Brasil, a crônica é coisa nossa, brasileiríssima. Atualmente, na maior parte do tempo, a crônica é um pequeno artigo de opinião.
Degraus da vida (Renascença/Palmarinca, 138 páginas), de Antônio Carlos Côrtes, porto-alegrense, advogado, radialista, escritor e, atualmente, conselheiro de Cultura do Estado do Rio Grande do Sul, é seu terceiro volume de crônicas. Bailarina do sinal fechado e Rua da Praia 40o são os anteriores, editados pela Palmarinca.
Côrtes trata, com inteligência e sensibilidade, de racismo, futebol, política, Natal, Guaíba e de pessoas anônimas ou personagens da história como Alcides Cruz, entre outros muitos temas. Ao mesmo tempo em que dá um toque literário aos textos, apresenta dados jornalísticos e históricos e algumas fotos para compor o grande painel que nos apresenta com acontecimentos e pessoas importantes destes nossos dias tão tumultuados e carentes de delicadeza. Não é pouca coisa.
Em tempos em que muitos cronistas bebem apenas em dados de frios meios eletrônicos para escrever, Côrtes, com emoção, humildade e amor pela vida, anda pelas ruas, sente os perfumes, ouve os sons e as vozes do cotidiano, pousa seu olhar nas pessoas e nas coisas e vai registrando, com toques literários, o que lhe impressiona. O primeiro e mais longo texto do volume é dedicado ao capitão e engenheiro civil Paulo Sérgio Paim, homem negro que, depois de passar por muito trabalho e dificuldades na vida, formou-se em engenharia e é um belo exemplo de vida e de superação.
Pois é, mesmos nesses tempos de tecnologia da informação, virtualidades e coisas assim, um livro impresso como o de Antônio Carlos Côrtes é bom de pegar, cheirar a tinta, folhear com carinho e curtir o prazer que só a leitura silenciosa e solitária de um volume impresso pode proporcionar.

Lançamentos

Mulheres gaúchas na imprensa do século XIX - Almanaque de lembranças luso-brasileiro (Educs, 190 páginas), organizado pela professora Cecil Jeanine Albert Zinani, por Maria Eunice Moreira e prefaciado por Nilda Stecanela, traz trabalhos de especialistas com ótica feminista, buscando resgatar a produção intelectual feminina ainda não muito difundida. A obra fala de 11 autoras gaúchas do século XIX.
Imagine um bruxo que recorta o céu em pedaços de azul (Criadeira Livros, 28 páginas), da premiada escritora e jornalista paulista Mariza Baur, com ilustrações em cores de Roberta Asse, conta sobre Sulfuroso, o bruxo do bem, a gata Felícia e a menina Flipó. Obra originada de oficina no Festival Literário Flipoços. Autógrafos neste domingo, às 17h30min, na Feira do Livro.
Última lira (Est Edições, 184 páginas), do consagrado professor, poeta, escritor e jornalista J.H. Dacanal, traz dezenas de poemas do autor e os anexos A arte, O artista e o poder, e Sobre os gêneros literários. "Olvidar os mortos / Um dia é lei / Por mais que a alma / Renitente o negue / No estrênuo e vão / Afã da vida / Calculando tola / A inequação fatal: /Se em nós viveram eles / Na memória doutros/ Viveremos nós". Versos do livro, do poema Lex Mundi.
 

Oscar Allgayer, construtor de histórias

Quem de nós não tem mil histórias para contar sobre projetos, construções, materiais, engenheiros, arquitetos, decoradores, construtores, peões, fornecedores, prestadores de serviços e prazos, ah, sim, os prazos aqueles, sem muito prazo fixo. Em algumas cidades do interior, as obras das igrejas nunca terminavam, mas aí não era problema de prazo, o negócio era outro que não tem a ver com este texto sobre o interessante, original e bem-humorado livro Reengenharia do humor (Evangraf, 112 páginas), do dr. Oscar Allgayer, engenheiro civil e de minas pela Ufrgs e diretor, há 35 anos, da conhecida empresa Allgayer Engenharia Ltda. O volume trata de histórias sobre obras, pessoas, situações e acontecimentos ocorridos em construções, o que, desde já, o coloca como original em termos de conteúdo.
Allgayer tem 61 anos e começou a trabalhar aos 14. Estudou no Grupo Escolar Padre Rambo, no Colégio Júlio de Castilhos e na Escola Técnica Parobé, num tempo em que escolas públicas eram ótimas. Consta que Oscar era bom em redações. Os textos da obra mostram que ele gosta de contar histórias e sabe como fazê-lo. Engenheiro, muitas vezes, gosta mais de números do que de palavras. Oscar gosta dos dois. Na apresentação do livro, o consagrado jornalista e escritor Silvio Lopes escreveu: "O autor soube construir sua vida e a de sua família sobre a rocha. A vida pulsa num ambiente profissional como nos canteiros de obras da construção civil conforme nos atestam as histórias aqui contadas. Histórias de vida, de sonhos realizados e outros nem tanto são corriqueiras, como o são algumas histórias engraçadas, inusitadas, que se constroem a partir das relações de amizade dos que compartilham por meses e até anos a realização de alguns projetos. A Reengenharia do Humor nos traz essas histórias. São fatos da vida real que moldam os destinos daqueles que se tornam inclusive familiares a partir dos relacionamentos construídos nesses ambientes de trabalho. Parabéns ao Oscar Allgayer por ter decidido dividir conosco essas histórias que fizeram parte de sua vitorioso trajetória de vida.
As histórias têm ilustrações de Marco Aurélio e envolvem obras da Galeria Chaves e as luzes vermelhas e azuis da nova capela do Grêmio Futebol Porto-alegrense e as rígidas ordens do dr. Hélio Dourado, que até nas veias tinha o sangue azul tricolor.
Num município do Interior, o prefeito dá um jeito especial sobre obras e áreas verdes. Allgayer, em uma das crônicas, fala de sua participação no programa Sala de Redação e de sua admiração pelo saudoso jornalista Paulo Sant'Anna. Em outro texto, Allgayer conta como se fazia para chegar em Xangri-Lá na década de 1950 pilotando uma flamante Kombi Luxo azul e branca. Lá, os Tramontina iam de Galaxy Azul, os Oliveira de DKW e o seu Presser ia de poderoso Ford 1951. Bons tempos.
Ah, cabe ressaltar que o livro é uma publicação independente, está nas Livrarias Cameron e que parte dos recursos arrecadados com sua comercialização será destinada às instituições AACD e Kinder, que se dedicam ao atendimento de crianças com necessidades especiais.

A propósito...

Obras, empregos, desenvolvimento, disso precisamos muito e rápido. Tomara que a economia se descole tanto quanto possível da política, que nos próximos tempos e nos próximos governos estaduais e federais os canteiros possam dar trabalho a milhões de pessoas e fazer girar a roda da nossa combalida economia. Bom, aí de repente teremos mais histórias e livros do Oscar Allgayer, de preferência contando sobre projetos, construções, prazos e finais felizes. Ou não, que na vida temos também problemas e tristezas. Não fosse assim a existência não teria tanta graça. Somos viventes em constante construção e contar histórias é essencial como o ar que a gente respira. (Jaime Cimenti)