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- Publicada em 30 de Novembro de 2020 às 21:20

O Benedito que não existia


GERSON KAUER/EV/DIVULGAÇÃO/JC
Sabe onde o diabo perdeu as botas? Pois é... Benedito é de ali pertinho. O pai, ele mal conheceu. Da mãe, tinha lembrança nenhuma. Nasceu em casa; era o segundo e último filho do casal. Não foi registrado, também não foi batizado e nunca estudou em escola.
Sabe onde o diabo perdeu as botas? Pois é... Benedito é de ali pertinho. O pai, ele mal conheceu. Da mãe, tinha lembrança nenhuma. Nasceu em casa; era o segundo e último filho do casal. Não foi registrado, também não foi batizado e nunca estudou em escola.
Como perdeu os pais quando criança, foi criado pelo irmão, seis anos mais velho. Teve que ir ao batente desde cedo, para ter o que comer. Analfabeto, trabalhava em troca de comida, na lavoura dos vizinhos. Assim Benedito passou a infância, a juventude e a maturidade.
Como não tinha registro de nascimento, nunca teve documentos pessoais. Não se apresentou para o serviço militar, dessarte não tinha certificado de reservista. Não fez alistamento eleitoral, tampouco tinha carteira de trabalho. E também não tinha CPF - conjunção que lhe dava basicamente direito a nada.
Benedito não casou e não teve filhos. Teve uma namorada aqui, outra acolá, nada que fosse levado adiante. Aprendeu a tocar sanfona; fazia isso para os conhecidos e para os patrões eventuais, alegrando as noites escuras e serenas do longínquo distrito onde morava.
Assim Benedito envelheceu, trabalhando na roça, em troca de pouso e de comida, sem saber ler e escrever, sem documentos, sozinho no mundo. À noite, seguidamente tocava sanfona. Precocemente, as rugas marcaram seu rosto, exposto incansavelmente ao sol, sob a proteção de puídos chapéus de palha. Suas mãos envelheceram e enrijeceram antes das mãos dos amigos.
Aos 50 anos, o corpo de Benedito já não ostentava força, nem agilidade. Sua dentadura foi estragando aos poucos - por isso seu sorriso mostrava apenas um único dente, escurecido, meio torto. Mesmo assim, ele ainda sorria. Estava feliz, porque um advogado o estava ajudando a conseguir a aposentadoria, com o que poderia, enfim, ter uma velhice tranquila.
Mas para entrar com o pedido previdenciário precisava ao menos de algum documento de identificação pessoal, para comprovar que ele era o Benedito. Assim, houve o ingresso de uma "ação de lavratura de assento de nascimento extemporâneo". Na audiência de justificação, Benedito contou sua história. A juíza confidenciou, depois, que tivera que segurar as lágrimas, quando, após terminar a narrativa, Benedito abrira aquele sorriso de um dente só, feliz, esperançoso, com um brilho nos olhos.
Isso, porque a magistrada garantira que, sem demora, daria a sentença. Compromisso cumprido, a juíza proferiu a sentença na semana seguinte. Benedito agora existia, tinha uma identidade.
Alguns meses depois, Benedito foi ao fórum, procurou o escrivão, a quem disse que ali tinha ido porque "queria agradecer pessoalmente à juíza que tinha cumprido a palavra". Admitido no gabinete, compartilhou a alegria de que, naquele dia, havia recebido o primeiro pagamento de sua aposentadoria. A confidência do visitante fez a magistrada, de novo, quase chorar:
- Doutora, agora vou começar a juntar dinheiro para fazer a minha dentadura. Se a senhora me der licença, quando eu estiver de dentadura, dentro de alguns meses, volto aqui para lhe agradecer de novo.
E Benedito partiu sorridente. A juíza espera que, sem tardança, ele faça nova visita, dessa vez como protagonista de um sonhado sorriso Colgate ou Kolynos...
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(Sintetizado a partir de relato da juíza Denise Damo Comel, do Tribunal de Justiça do Paraná, publicado pelo Conselho Nacional de Justiça em "A Justiça Além dos Autos").

Páginas da morte

"Tampouco morto encontrarei a paz. Utilizam-me enquanto vivo e encontrarão um modo de fazê-lo quando eu estiver morto." Esta afirmação de Diego Maradona, pronunciada em 1996, faz parte de uma coletânea de 1.000 frases organizadas por Marcelo Gantman e Andrés Burgo no livro "Diego dijo". ("Diego disse").
Ontem, soube-se - pela imprensa argentina - que os 11 filhos do jogador preparam uma grande contenda com muitas ações em busca dos quinhões de seu espólio.

Um novo Dpvat

A dissolução na semana passada da Seguradora Líder, que foi criada para administrar o Dpvat, não significa o fim do seguro obrigatório. Para as perícias e para o pagamento de sinistros e indenizações em 2021, a liquidação será feita pela Caixa Econômica Federal.
É de lembrar que a sigla significa "Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de via Terrestre". Foi instituído em 1974 durante o governo de Ernesto Geisel e, durante 45 anos carreou muito dinheiro para 57 seguradoras que - mesmo sendo concorrentes - se reuniram em lucrativo consórcio.
A Susep começa a preparar para 2022 um novo modelo de seguro obrigatório.

Hematomas da alma

O Supremo Tribunal Federal negou, na quinta-feira (27), recurso do empresário Lírio Albino Parisotto à condenação criminal pela agressão física de sua ex-mulher Luiza Brunet. O julgado confirmou a condenação aplicada em abril de 2019 pelo Tribunal de Justiça de São Paulo: serviços comunitários a serem fixados pelo Juízo da Execução. Durante dois anos, Parisotto também deverá se apresentar mensalmente no Fórum de São Paulo.
Luiza comemorou que "depois de quatro anos, posso dizer que virei uma página da minha vida. A verdade apareceu e é definitiva". Ex-modelo, empresária e hoje ativista pelos direitos da mulher, ela conclama: "Acreditem, denunciem quando houver agressões. Pode demorar, mas quando a justiça é feita, o sentimento é de reparação".
O embrulho criminal começou em 21 de maio de 2016, em Nova York, com uma agressão verbal, chutes e um soco no olho direito de Luiza, no prédio do apartamento em que eles passavam temporada de férias. Na época, uma frase dela foi marcante: "A maquiagem forte está escondendo os hematomas da minha alma". Não houve ingresso de ação cível de reparação moral, nem de dissolução de sociedade de fato.

A propósito (1)

O gaúcho Parisotto (Nova Bassano, * 18/12/1953) é um dos bilionários do Brasil e do mundo (1.577º). Seu sucesso começou com a empresa Videolar, em Caxias do Sul (RS), introduzindo o conceito da fita de vídeo cassete gravada sob medida, na mesma duração dos filmes famosos. Assim, fabricava, para um filme de 100 minutos, fitas na sua exata medida, usando na duplicação o produto magnético apenas suficiente, sem sobras de matéria-prima, obtendo economia de escala. Foi também segundo suplente do senador Eduardo Braga (PMDB).
Segundo a revista Forbes, a fortuna de Parisotto é superior a US$ 1,5 bilhão. Tem um fundo de investimentos superior a R$ 1 bilhão na corretora Geração Futuro. É controlador da Petroquímica Innova.

A propósito (2)

Filha de Luiz da Silva, agricultor de Sobral (CE) e de Alzira Botelho, costureira de Almenara (MG), Luíza Botelho da Silva - 58 anos de idade atual - nasceu em uma casa humilde em Itaporã (MS). Foi a segunda filha de uma prole de mais sete irmãos.
Quando Luiza completou 9 anos, a família passava por dificuldades; seus pais decidiram ir em busca de oportunidades. Partiram então para o Rio de Janeiro, onde ela começou a trabalhar como babá, aos 12 de idade. Durante a adolescência foi empregada doméstica, empacotadora em supermercado e vendedora de loja de roupas. Seu sucesso profissional começou nos anos 1980, como Luiza Brunet, modelo requisitada e capa de revistas masculinas.