Distante três centenas de quilômetros da Capital, o município é de 25 mil habitantes; na cidade são cerca de 10 mil. População, em boa parte, moradora da zona rural, predominantemente formada de gente simples e muito respeitosa.
Em mais um dia comum de trabalho, o assíduo juiz - logo no primeiro item da pauta - manda apregoar a audiência de uma ação que envolve uma questão possessória. Entram as partes e colocam-se, corretamente, junto às duas mesas que ladeiam o magistrado. Impossível o acordo, é chamada a primeira testemunha.
Aproxima-se então um senhor de idade. Ele exala álcool, ficando evidente que o bafo é recente. São 9h10min da manhã.
O juiz não resiste e, com voz firme, questiona:
- O senhor ingeriu bebida alcoólica antes de vir aqui no fórum?
- O senhor me desculpe, doutor. A manhã está fria, é a primeira vez na minha vida que venho num fórum, para encarar um juiz assim de perto, logo cedo. Tive que tomar um liso de cachaça, no bar do outro lado da praça aqui defronte, para acalmar os nervos! - a calma testemunha responde convictamente.
Diante da transparente sinceridade da resposta, o magistrado prossegue com a audiência e ouve a testemunha, que presta um depoimento isento.
Encerrado e assinado o termo, o juiz encerra grato e professoral:
- Agradeço ao senhor por ter vindo prestar este serviço à Justiça. Mas agora volte calmo, direto para casa, sem necessidade de repetir a ida no barzinho do outro lado da praça...
O cidadão faz um gesto respeitoso e sacramenta:
- Doutor, que seja cumprida a sua vontade, aqui na terra, como no céu.