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Relações Internacionais

- Publicada em 30 de Setembro de 2019 às 21:42

China celebra 70 anos da República Popular com cerimônia gigante

Cerca de 100 mil civis e 15 mil militares devem desfilar na Praça Tiananmen para lembrar a revolução de 1949

Cerca de 100 mil civis e 15 mil militares devem desfilar na Praça Tiananmen para lembrar a revolução de 1949


/MADOKA IKEGAMI/AFP/JC
Thiago Copetti, de Pequim
Thiago Copetti, de Pequim
A celebração dos 70 anos da fundação da República Popular da China, completos em 1 de outubro, dia em que o Partido Comunista tomou o poder no país, será tão gigante quanto é a segunda maior economia do mundo. Cem mil civis farão parte do desfile na Praça Tiananmen, em frente à Cidade Proibida, em Pequim, e se somarão aos 15 mil militares. Isso apenas em terra, porque no ar o espetáculo será igualmente grandioso: 160 aviões integram a festa, assim como 70 mil pombas brancas e 70 mil balões que serão soltos ao final do evento, entre outros muitos números apoteóticos.
Embora o gigante asiático prefira ser visto como pacifista - os chineses ressaltam sempre que nunca foram colonizadores de nenhuma outra nação, ao contrário dos europeus - está prevista uma impressionante apresentação de novas armas e equipamentos militares de alta tecnologia. De acordo com a agência EFE, informações extra-oficiais dizem que o governo exibiria, entre outros aparatos, um drone capaz de lançar mísseis.
A cerimônia dos 70 anos da República Popular ocorre em um momento emblemático para o país em questões externas e internas. Internacionalmente, o fato mais relevante é, sem duvida, a guerra comercial com os Estados Unidos. Internamente, enfrenta protestos em Hong Kong, que não quer perder algumas liberdades concedidas à zona especial, e o abate da maior parte de seu plantel de suínos devido à peste suína africana. O abate tem elevado os preços de todas as carnes, inflacionando a vida da população, o que o governo combate com a ampliação das importações. Neste caso, com ganhos para países como o Brasil, que tem ampliado as vendas de carnes suína, bovina e de frango para o mercado chinês.
Sobre a guerra comercial com os Estados Unidos, travada há mais de um ano e que ainda parece longe de um fim, as preocupações mundiais e seus impactos são generalizados. O conflito pode ter novos capítulos ainda neste início de outubro, quando representantes dos dois países se reúnem novamente para negociar embargos e negócios. Ainda que a elevação de tarifas norte-americanas tenha afetado centenas de produtos chineses, o ministro do Comércio da China, Zhong Shan, afirmou nesta semana que o país tem conseguido driblar seus efeitos, ainda que parcialmente. "Temos conseguido minimizar essas pressões comerciais diversificando mercados e exportando mais produtos com alta tecnologia, como na área de medicina e veículos elétricos" resumiu Zhong.
Wang Shouwen, representante do governo chinês para negócios internacionais, ao falar sobre o encontro marcado para o dia 4 em Washington, afirmou estar confiante de que os negociadores chegarão a um acordo ao menos parcial. "Acreditamos em tratativas que levem a benefícios mútuos, em um acordo onde ambos ganharão", ponderou Wang.
Se para os dois países o encontro pode ter um resultado win-win (ganha-ganha), como gostam de reforçar os chineses, para o Brasil o resultado pode não ser positivo. De acordo com notícias publicadas pelos próprios jornais chineses, como o Global Times, no encontro entre representantes dos EUA e China, o retorno das compras de soja de produtores norte-americanos deve ser colocado como moeda de troca pelos negociadores dos Estados Unidos para reduzir as restrições impostas por Donald Trump a produtos chineses. Isso porque, com a redução das compras da oleaginosa proveniente dos EUA nos últimos 12 meses, os estoques norte-americanos estão elevados, apresentando seu maior nível histórico. Quando esses 28 milhões de toneladas que estão estocadas começarem a ser escoadas, as compras do Brasil devem reduzir e os preços internacionais tendem a cair.

Dependência da venda de soja é risco para o Brasil

No meio da disputa travada entre as duas maiores economias do mundo - EUA e China - o Brasil tem se beneficiado, ainda que momentaneamente. Mas os primeiros sete meses de 2019, por diferentes razões, mostram que o país precisa ficar atento tanto às oportunidades quanto aos desafios econômicos de sua relação com a China. Um dos principais produtos que levaram as trocas comerciais terem alcançado próximo de US$ 100 bilhões no ano passado - uma marca histórica - vem desacelerando os embarques em 2019.
De acordo com o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), as exportações de soja para o mercado chinês caíram 26% em valores e de 16% em volume entre janeiro e agosto de 2019 na comparação com o mesmo período de 2018. "Isso se deve, em parte, à peste suína africana, que obrigou o país a eliminar milhões de animais neste ano, e como a soja é utilizada para ração animal, o consumo chinês diminuiu significativamente", explica Túlio Cariello, coordenador do CEBC.
A dependência elevada da soja para o superávit da balança comercial - representou cerca de 36% das vendas à China em 2018 - enfrenta riscos reais e próximos. Um acordo com os Estados Unidos, por exemplo, levaria a uma retração imediata, por exemplo. Para Cariello, o Brasil deveria se empenhar mais em diversificar a pauta comercial indo além da oleaginosa. Mas, com sua competitividade internacional reduzida devido ao elevado Custo Brasil - o que inclui os altos impostos e custos logísticos - o país deveria se focar em alguns nichos de mercado, recomenda.