Mundo cruel I

Como dizem por lá, faz parte da paisagem. Certa vez, conselheiros do tirano soviético Josef Atalin o avisaram que milhões de mortes ordenadas por ele estavam chocando o Ocidente e tirando o lustro do comunismo. "Dez pessoas mortas são uma tragédia; 10 milhões de mortos é uma estatística", respondeu ele com um dar de ombros.

A ministra Teresa Cristina, da Agricultura, parece sinceramente alarmada com a redução da área plantada de arroz no Estado. Sua preocupação procede. Desde a explosão dessa cultura na Fronteira-Oeste, no início dos anos 1970, os orizicultores acostumaram-se com ciclos de vacas gordas e vacas magras. Essa história de arroz gostar de água embaixo e sol em cima simplifica o problema. O arroz paga pouco, ponto. E, por isso, os desistentes aumentam.

Por isso, o alarme soou em Brasília. Ao persistir esse abandono, o cereal faltará, e o preço vai subir para o consumidor, não exatamente na mesma proporção para o produtor, cansado desse vaivém. E os que não desistem têm essa expertise. No meio desse entrevero, chegam os profetas do óbvio com palavras de ordem tipo "tem que ser bom para todo mundo". Com uma só frase, revogaram a lei da oferta e da procura com falsa sabedoria salomônica.

O Banco Central prepara mudança na legislação para permitir que um mesmo imóvel seja dado em garantia em mais de um financiamento, por instituições financeiras diferentes e prazos diversos. Doutor Guedes, certamente o senhor sabe que a crise do suprime de 2008 nos Estados Unidos começou assim. Com tremores secundários até hoje.

O austríaco naturalizado brasileiro Ernesto Moster, dono do lendário Restaurante Dona Maria, na rua José Montaury, costumava dizer que o homem é o único animal que cai no mesmo buraco duas vezes.

Não foi a Capital que teve o dia mais quente nesta estação. Teutônia chegou a 41,7°C dia 27 de dezembro do ano passado, e, em Santa Cruz do Sul, os termômetros chegaram a 41,3°C, segundo matéria do jornal O Informativo com dados da MetSul.

Ou quase nada. Depois de assustar o mundo, turbinado que foi por parte da comunidade e dos meios de comunicação, o coronavírus - mas podem chamá-lo de Covid-19 - está como o brocardo, a montanha pariu um ratinho. Certo, matou gente na faixa de risco, como idosos já fragilizados por outras doenças, mas novos casos vão minguando, e a taxa de letalidade segue com o ponteiro marcando 2,3% dos infectados.

O mapa mundial dos casos do Covid-19 atualizado on-line mostrava que, às 12h de ontem, havia 73.337 casos, com 1.875 mortes, isso depois da atualização dos chineses dos números mostrados em janeiro. Talvez nunca se saiba o quanto as rigorosas medidas de contenção da China e outros países ajudaram ou não no abrandamento do vírus, mas o certo é que toda uma monstruosa cadeia ganhou muito dinheiro.

O dólar elevado, inicialmente induzido pelo governo, que, agora, sofre pressão de alta, lembra a animação Aprendiz de Feiticeiro, com Mickey Mouse. Depois que se aciona a varinha mágica uma vez, ela adquire vida própria e começa a fazer diabruras.