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Cinema

- Publicada em 28 de Janeiro de 2022 às 03:00

Cenas

Hélio Nascimento
Peter Bogdanovich (1939-2022) foi diretor, crítico e ensaísta. De certa maneira ele materializou com sua ação uma observação de Godard de que a diferença entre críticos e cineastas é praticamente inexistente e se manifesta apenas em exterioridades. O realizador, ao lado de companheiros de geração, como Truffaut, Rohmer e Chabrol, foi, ele próprio, outra prova de tal constatação. Todos foram, antes de realizarem filmes, críticos, os primeiros a destacar a importância de inúmeros cineastas, principalmente americanos, desprezados por aqueles que, pensando em escrever sobre cinema, estavam apenas tomando a literatura e o teatro como modelos a serem copiados e não vistos como referências obrigatórias. Os franceses eram fascinados pela obra de Hitchcock.
Peter Bogdanovich (1939-2022) foi diretor, crítico e ensaísta. De certa maneira ele materializou com sua ação uma observação de Godard de que a diferença entre críticos e cineastas é praticamente inexistente e se manifesta apenas em exterioridades. O realizador, ao lado de companheiros de geração, como Truffaut, Rohmer e Chabrol, foi, ele próprio, outra prova de tal constatação. Todos foram, antes de realizarem filmes, críticos, os primeiros a destacar a importância de inúmeros cineastas, principalmente americanos, desprezados por aqueles que, pensando em escrever sobre cinema, estavam apenas tomando a literatura e o teatro como modelos a serem copiados e não vistos como referências obrigatórias. Os franceses eram fascinados pela obra de Hitchcock.
Bogdanovich, por sua vez, era devoto de John Ford, sobre o qual realizou um documentário e escreveu um ensaio. O documentário, que tinha o título de Dirigido por John Ford, foi exibido aqui em Porto Alegre no auditório da Assembleia Legislativa, numa época em que aquele espaço tinha aparelhagem para exibir filmes em 16 e 35 milímetros e até em 70 milímetros. Bogdanovich teve também o privilégio de entrevistar os cineastas que admirava, entrevistas estas que depois foram publicadas em livro, ao qual deu o título de Afinal quem faz os filmes, publicado no Brasil pela Companhia das Letras, em 2000, com tradução de Henrique W. Leão. Bogdanovich, um fascinado pelo passado do cinema, foi autor de uma frase que ficou célebre entre os saudosistas: "todos os filmes bons já foram feitos". Mas o próprio Bogdanovich desmentiu tal afirmação, realizando obras como Na mira da morte, A última sessão de cinema, Lua de papel e Marcas do Destino. De certa forma, a frase tinha o objetivo de lembrar que a importância da obra dos maiores não tem tempo e valerão para sempre.
Os diretores fazem os filmes, mas não exercem sozinhos tal atividade. Dependem de muitos fatores e, principalmente, da presença de atores e atrizes. Alguns até assumiram várias funções. Charles Chaplin é o exemplo maior, e também é necessário lembrar que alguns filmes de Clint Eastwood e Woody Allen não seriam os mesmos se seus diretores ficassem ocultos. E há também os que costumam trabalhar com a mesma equipe, como antigamente Ford, Bergman e outros mostraram ser necessário. Muitos intérpretes fizeram história por imporem a filmes sua personalidade. Um deles, sem qualquer dúvida, foi Sidney Poitier (1924-2022). A primeira vez que foi notado já foi em filme excepcional: O ódio é cego, um título brasileiro bem apropriado para os dias de hoje, realizado em 1950 pelo grande Joseph L. Mankiewicz. Este foi um dos primeiros filmes a abordar de forma rigorosa o tema do racismo e a violência por ele gerada.
Outro triunfo foi em 1950, quando o ator interpretou um dos alunos de Sementes de violência, de Richard Brooks, outro filme no qual o preconceito era exposto, criticado, condenado e derrotado pelo humanismo, este presente na admirável cena da descoberta do coral pelo professor vivido por Glenn Ford. Mas foi em Acorrentados, realizado por Stanley Kramer em 1958, um dos marcos do cinema de denúncia americano, também interpretado admiravelmente por Tony Curtis, que ele se impôs de forma definitiva. Recebeu merecidamente prêmios por outros filmes, mas foram estes os mais notáveis. E sua face, manchada pela agressão num plano de O ódio é cego, na cena do hospital, quando o médico se defronta com um racista, ficará para sempre na memória dos cinéfilos.
Woody Allen, com O festival do amor, não está apenas mostrando que continuará realizando um filme por ano. Mostra, também, que o cinema ocupa lugar destacado na memória, na recuperação de imagens clássicas, todas elas, de uma ou outra forma, relacionadas à trama narrada. E também sugere ao espectador que ative sua cinemateca particular, aquela que vez por outra, assim como temas musicais e trechos literários, ocupa nossa memória, e nos faz recuperar privilégios que permitiram conhecimentos de momentos de antologia. É o cinema como participante de relevo na criação das luzes e sombras de uma época.
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