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Cinema

- Publicada em 31 de Dezembro de 2021 às 03:00

O último ato

Hélio Nascimento
Se o diretor Adam Mckay fosse alguém com talento superior, seu novo filme, este Não olhe para cima, estaria provavelmente ao lado de obras que antes também abordaram o tema do fim da humanidade. Elementos não faltam no roteiro, escrito por ele a partir de argumento de David Sirota, para que esta sátira fosse algo mais bem elaborado do que é visto na tela. Porém, seria injusto classificar o filme como algo desprovido de méritos. Não se limitando a ser a crônica dos últimos dias de seus personagens e da população da Terra, o relato evidencia de maneira irônica e de forma bastante clara aqueles sinais que revelam uma crise de valores, que terminam formando um corpo gigantesco e de inigualável poder de destruição. O filme trata, portanto, de focalizar a marcha de um sistema rumo a uma crise fatal, tal a incapacidade de seus integrantes de erguer barreiras protetoras para evitar um choque frontal com a maior das ameaças. A alegoria proposta por McKay aproxima o filme de títulos que abordaram a mesma crise de forma dramática, pois embora tangencie a comédia, se aproxima também do drama, principalmente naqueles planos que registram a natureza em seus instantes derradeiros. O elemento cômico jamais será instrumento para a criação de algo afastado da realidade quando for utilizado com argúcia e lucidez. Ao utilizá-lo, o cineasta deste último ato da história humana o faz de forma a colocar o espectador diante de um espetáculo no qual a inteligência é derrotada pela mediocridade e a lucidez, vencida por uma cegueira que impede o afastamento de interesses apenas materiais.
Se o diretor Adam Mckay fosse alguém com talento superior, seu novo filme, este Não olhe para cima, estaria provavelmente ao lado de obras que antes também abordaram o tema do fim da humanidade. Elementos não faltam no roteiro, escrito por ele a partir de argumento de David Sirota, para que esta sátira fosse algo mais bem elaborado do que é visto na tela. Porém, seria injusto classificar o filme como algo desprovido de méritos. Não se limitando a ser a crônica dos últimos dias de seus personagens e da população da Terra, o relato evidencia de maneira irônica e de forma bastante clara aqueles sinais que revelam uma crise de valores, que terminam formando um corpo gigantesco e de inigualável poder de destruição. O filme trata, portanto, de focalizar a marcha de um sistema rumo a uma crise fatal, tal a incapacidade de seus integrantes de erguer barreiras protetoras para evitar um choque frontal com a maior das ameaças. A alegoria proposta por McKay aproxima o filme de títulos que abordaram a mesma crise de forma dramática, pois embora tangencie a comédia, se aproxima também do drama, principalmente naqueles planos que registram a natureza em seus instantes derradeiros. O elemento cômico jamais será instrumento para a criação de algo afastado da realidade quando for utilizado com argúcia e lucidez. Ao utilizá-lo, o cineasta deste último ato da história humana o faz de forma a colocar o espectador diante de um espetáculo no qual a inteligência é derrotada pela mediocridade e a lucidez, vencida por uma cegueira que impede o afastamento de interesses apenas materiais.
Desde A hora final, realizado por Stanley Kramer em 1959, o cinema tem abordando este tema. Mas foi em Doutor Fantástico, produzido em 1964, que o ponto mais alto de tal temática atingiu seu ponto máximo. Igualmente satírica, a versão de Stanley Kubrick para o apocalipse atômico mostrava a loucura gerada por ameaças da guerra-fria e restos do macartismo, registrando também a persistência de fantasias utilizadas pelo nazismo para pôr em ação aberrações originadas em preconceitos e sentimentos de superioridade. Um filme do qual Não olhe para cima se aproxima bastante no que se refere a aspectos exteriores da narrativa é Melancolia, que Lars von Trier realizou em 2011. Naquele filme também uma gigantesca ameaça vinda dos confins do universo aparecia com algo que vinha dar um ponto final na civilização. Mas é claro que a irreverência cômica prevalece no filme de McKay, não faltando mesmo o herói americano, primeiro enviado ao espaço e depois novamente no solo empunhando uma arma e exclamando que não será apanhado vivo. É um descendente daquele texano no filme de Kubrick que se lança junto com a bomba, julgando-se um defensor do Ocidente, enquanto nos salões da Casa Branca renasce o nazismo.
As referências à atualidade são muitas, algumas atingindo plenamente o alvo, principalmente quando focaliza aquele casal de apresentadores de televisão, atuando sempre de forma a tentar desviar o telespectador daquilo realmente importante, substituído por um formalismo encenado e falsos sorrisos. E não poderia faltar as tentativas de desmoralizar a ciência e a utilização por parte do governo de espetáculos luxuosos para tentar encobrir verdades indesejáveis. Papel importante também exerce um milionário que exerce poder total sobre a presidente americana e a convence contra qualquer atitude destinada a salvar o planeta, pois interessa a ele apenas as riquezas detectadas no gigantesco asteroide que se aproxima. E um aviso aos apressados e desinteressados por informações sobre o filme visto: os créditos finais contém duas cenas, uma delas colocada depois de que tudo parece ter sido concluído. Nesta cena, de certa maneira, está tudo resumido. Além da referência a títulos de filmes sobre sobreviventes, tal cena retoma uma das situações desenvolvidas no relato, ao mesmo tempo em que expõe toda a amplidão do desastre. O cenário e a palavra são utilizados para expor a imensidão do terror finalmente alcançado e o desespero de um Édipo entre ruinas.
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