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Cinema

- Publicada em 01 de Outubro de 2021 às 03:00

Sombras do passado

Hélio Nascimento
Há os que, ao criticar ditaduras, optam pela mensagem fácil e por aqueles recursos que sempre resultam em sucesso quando aqueles que os utilizam costumam colocar em evidência justamente as palavras e as imagens que plateias focadas em efeitos e não em causas preferem ouvir e contemplar. É fácil criticar arbitrariedades e o emprego da barbárie para aparentemente resolver problemas e apossar-se do poder. Mais difícil é a opção pela busca das origens de conflitos e vê-las de maneira a colocar o espectador diante das fontes da ira. Esta é que exige profundidade no rumo da contemplação das imagens onde se esconde a fera, onde se ocultam as ameaças. A primeira tendência sempre descamba em panfletos inconsequentes que costumam fazer sucesso junto a um público devidamente preparado para aplaudi-los. A segunda opção exige um olhar mais penetrante, algo que termina por colocar na tela dados relevantes e que expõem todo um processo que costuma, além de revelar fontes da agressividade humana, ser concluído pela exposição de métodos que sintetizam o mais nefasto dos irracionalismos, aquele que através de métodos desumanos sonha com a perfeição. O cinema chileno, que nos últimos anos tem ocupado posição de relevo ente as cinematografias da América Latina, volta com este Aranha, realizado por Andrés Wood sobre um roteiro de Guillhrmo Calderón, a mostrar como é possível ser contundente e direto na crítica a um regime brutal e desumano, sem cair na oratória vazia.
Há os que, ao criticar ditaduras, optam pela mensagem fácil e por aqueles recursos que sempre resultam em sucesso quando aqueles que os utilizam costumam colocar em evidência justamente as palavras e as imagens que plateias focadas em efeitos e não em causas preferem ouvir e contemplar. É fácil criticar arbitrariedades e o emprego da barbárie para aparentemente resolver problemas e apossar-se do poder. Mais difícil é a opção pela busca das origens de conflitos e vê-las de maneira a colocar o espectador diante das fontes da ira. Esta é que exige profundidade no rumo da contemplação das imagens onde se esconde a fera, onde se ocultam as ameaças. A primeira tendência sempre descamba em panfletos inconsequentes que costumam fazer sucesso junto a um público devidamente preparado para aplaudi-los. A segunda opção exige um olhar mais penetrante, algo que termina por colocar na tela dados relevantes e que expõem todo um processo que costuma, além de revelar fontes da agressividade humana, ser concluído pela exposição de métodos que sintetizam o mais nefasto dos irracionalismos, aquele que através de métodos desumanos sonha com a perfeição. O cinema chileno, que nos últimos anos tem ocupado posição de relevo ente as cinematografias da América Latina, volta com este Aranha, realizado por Andrés Wood sobre um roteiro de Guillhrmo Calderón, a mostrar como é possível ser contundente e direto na crítica a um regime brutal e desumano, sem cair na oratória vazia.
Nas suas sequências iniciais, marcadas por uma violência captada com o máximo de realismo e ao mesmo tempo por focalizar um concurso de beleza, o filme de Wood já torna evidente sua forma narrativa. Nos momentos iniciais paralelamente acompanhamos cena desenrolada durante o período em que o Chile era governado pelo socialista Salvador Allende e outra que focaliza um assustador exemplo de violência ocorrido nos dias atuais. Ao mesclar duas linhas narrativas, o cineasta e seu roteirista une fases diversas de seus personagens principais. Ora estamos acompanhado as ações do grupo Pátria e Liberdade, empenhado em sabotar o governo legal. Ora vemos as mesmas pessoas, décadas mais tarde. Na verdade, o filme elege um trio cujos integrantes separam-se e passam a rumar por caminhos diferentes. O casal é agora integrante do sistema resultante de modificações que afastaram do poder Pinochet e seus seguidores e o terceiro elemento aparece agora ligado a grupos de contestadores igualmente movidos pela irracionalidade e pela violência. As cenas no manicômio realçam de forma clara o desequilíbrio que tenta transformar o uso de armas como instrumento essencial na defesa da democracia, um sinistro anacronismo de nossos dias, Aranha é também um filme que recusa qualquer forma de doutrinação, deixando ao espectador o direito às conclusões.
Uma das cenas mais impactantes de toda a narrativa é a da igreja, com aquele plano fixo que se prolonga ao máximo e que transmite sem que se torne explícito o horror então em andamento. O massacre é produto de outra corrente ameaçadora: o nacionalismo extremado, do qual o racismo não está ausente. Ao mesclar habilmente passado e presente, o filme procura mostrar que certos impulsos nem sempre são controlados. A cena da visita do filho, que traz as evidências de que o passado está retornando, é acompanhada pelos latidos do cão, que quase sempre acompanha a que hoje é uma empresária de sucesso. A agressividade exposta através do animal, surge como uma forma de procurar esconder registros de ações reveladoras da essência de uma sociedade ameaçada. O aparecimento, durante a noite, do amante é como a ilustração, através de um pesadelo, de um passado comprometedor que retorna, como símbolo de uma tentação que pode se transformar em nova ameaça. A entrevista que conclui a narrativa é uma encenação que coloca o espectador diante de um ritual que parece dizer que a cultura - e a citação a Mozart reforça essa ideia - não é um obstáculo capaz de deter autoritarismos gerados pelas frustrações causadas por engrenagens opressoras e deformadoras, utilizadas visando a manter um mecanismo em funcionamento.
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