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Cinema

- Publicada em 24 de Setembro de 2021 às 03:00

Salas fechadas

Hélio Nascimento
O fechamento quase simultâneo de dois complexos exibidores em Porto Alegre ilustra de forma bem clara a crise que o cinema verdadeiro, aquele que é visto em telas apropriadas, vem enfrentando desde que a pandemia modificou para pior hábitos e costumes. A ameaça não se limita ao aspecto quantitativo, mas a própria qualidade da programação. Os dois complexos fechados - o Guion e o Espaço Itaú de Cinema - se destacavam não apenas pelos cuidados com a seleção de filmes exibidos, pois também ofereciam aos espectadores condições técnicas de alta qualidade. O primeiro deles conferia ênfase a produções de centros produtores de um modo geral ausentes, mas sem deixar de abrir espaço para produções norte-americanas importantes. O segundo, com um número maior de salas, mesclou filmes de grande apelo popular com obras dedicadas a um público mais atento. Ambos, portanto, tiveram papel importante no processo de manter o interesse pelas várias formas de expressão do cinema. Diante do quadro atual, os pessimistas acreditam que a época de ouro do cinema terminou, até porque os mais destacados cineastas em atividade já ultrapassaram os 70 anos de idade e alguns como Polanski e Costa-Gavras rumam para os 90, marca que Eastwood já ultrapassou, realizando, segundo dizem, uma obra-prima, Cry Macho. Os otimistas acreditam na renovação e apostam em novos talentos, que já tem aparecido em alguns filmes. Mas a verdade é que os obstáculos, além de vírus e variantes, incluem fortes concorrente, que retiraram do cinema o monopólio da imagem em movimento, para lembrar uma constatação de Fellini.
O fechamento quase simultâneo de dois complexos exibidores em Porto Alegre ilustra de forma bem clara a crise que o cinema verdadeiro, aquele que é visto em telas apropriadas, vem enfrentando desde que a pandemia modificou para pior hábitos e costumes. A ameaça não se limita ao aspecto quantitativo, mas a própria qualidade da programação. Os dois complexos fechados - o Guion e o Espaço Itaú de Cinema - se destacavam não apenas pelos cuidados com a seleção de filmes exibidos, pois também ofereciam aos espectadores condições técnicas de alta qualidade. O primeiro deles conferia ênfase a produções de centros produtores de um modo geral ausentes, mas sem deixar de abrir espaço para produções norte-americanas importantes. O segundo, com um número maior de salas, mesclou filmes de grande apelo popular com obras dedicadas a um público mais atento. Ambos, portanto, tiveram papel importante no processo de manter o interesse pelas várias formas de expressão do cinema. Diante do quadro atual, os pessimistas acreditam que a época de ouro do cinema terminou, até porque os mais destacados cineastas em atividade já ultrapassaram os 70 anos de idade e alguns como Polanski e Costa-Gavras rumam para os 90, marca que Eastwood já ultrapassou, realizando, segundo dizem, uma obra-prima, Cry Macho. Os otimistas acreditam na renovação e apostam em novos talentos, que já tem aparecido em alguns filmes. Mas a verdade é que os obstáculos, além de vírus e variantes, incluem fortes concorrente, que retiraram do cinema o monopólio da imagem em movimento, para lembrar uma constatação de Fellini.
O cinema, além de concorrentes poderosos, sempre teve inimigos, entre os quais a censura, algo corrigido, no Brasil, pela Constituição de 1988. Houve outros, inclusive os assim chamados comunicadores que se deliciavam em previr o seu fim, depois do advento da televisão, da qual dependiam. O aumento significativo de venda de ingressos nas últimas décadas indicou uma tendência contrária, pois a televisão, seja pela transmissão de eventos cinematográficos, seja pela divulgação de diversas atividades, terminou servindo de apoio ao cinema, inclusive pela participação na realização de filmes para a tela grande. Os problemas atualmente enfrentados certamente serão superados, mesmo que o cinema nunca mais seja o mesmo, até porque nenhuma arte até hoje foi imune a modificações, seja em suas formas de expressão, seja na amplitude de público e lugares de exibição. As salas de projeção hoje são outras e vale ressaltar que as condições de projeção atualmente propiciam a certos filmes realizados há algumas décadas ressurgir de forma que nem os contemporâneos puderam apreciar.
Para amenizar a tristeza causadas pelo fechamento de 11 salas exibidoras, a reabertura daquelas localizadas no Bourbon Country, agora com outro nome e como sempre dirigidas por Adhemar Oliveira, está sendo anunciada. Os critérios serão os mesmos e espera-se que, num momento em que as ameaças perdem a força, graças às vacinas e aos cuidados que a maioria da população adotou, o público volte a ser numericamente o mesmo. Caso contrário estaremos condenados a contemplar uma decadência que, alastrando-se por vários setores, não chegue ao ponto de nos privar do cinema de qualidade. Salas foram fechadas antes. Cinemas dedicados a filmes importantes tiveram seu ciclo completado. O capítulo atual será provavelmente apenas mais um obstáculo a ser ultrapassado. No passado, iniciativas valiosas e que deixaram sua marca na criação de novas plateias e depois encerraram atividades devido a fatores diversos também aconteceram. O Bristol com seus ciclos esclarecedores e que permitiam visões ampliadas da obra de cineastas, as experiências com os cinemas Marabá e Capitólio (hoje Cinemateca), a programação do Cinema-1/Sala Vogue e mesmo exibições nos horários normais das salas, patrocinadas pelo Clube de Cinema de Porto Alegre, tudo representa um passado que merece ser sempre lembrado, ao mesmo tempo que ressalta a relevância de um processo que merece ser preservado.
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