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Cinema

- Publicada em 09 de Julho de 2021 às 03:00

Variações sobre um tema

Hélio Nascimento
As relações entre cineastas e atores e atrizes vindas quase sempre do teatro nem sempre são harmoniosas e geralmente marcadas por conflitos, principalmente quando a passagem do palco para um espaço diante das câmaras está nos seus primeiros momentos. Na longa entrevista concedida ao critico alemão Hellmuth Karasek publicada em livro intitulado E o resto é loucura, editado no Brasil pela DBA, em tradução de Flávia Buchwaldt, o cineasta Billy Wilder narra um fato acontecido entre seu colega George Cukor e o então iniciante Jack Lemmon. O ator vinha do teatro, onde se havia especializado em papeis cômicos. Na primeira vez diante de uma câmera ele foi muito elogiado pelo diretor que previu para ele um grande futuro. Porém, Cukor lhe pediu que repetisse a cena, interpretando um pouco menos. Depois da segunda vez, o cineasta lhe pediu novamente que interpretasse ainda menos. E assim o trabalho continuou, sempre o ator sendo orientado a interpretar menos, até que Lemmon, irritado, perguntou ao cineasta se o que desejava é que ele não interpretasse. Cukor, não escondendo a alegria, respondeu que finalmente o ator havia entendido o que ele desejava. Este episódio de certa forma resume a diferença entre duas artes, pois a câmera não é um espectador de teatro e sim um instrumento utilizado para registrar uma realidade que deve ser transmitida sem utilizar aqueles recursos indispensáveis ao trabalho no palco. Mestres como Elia Kazan e Luchino Visconti, homens de teatro (o segundo também de ópera) sempre, quando dirigiram filmes, deixaram claro as diferenças, mesmo que em muitas passagens de seus filmes exaltassem recursos teatrais, como na extraordinária abertura do filme Senso, realizado pelo segundo cineasta citado.
As relações entre cineastas e atores e atrizes vindas quase sempre do teatro nem sempre são harmoniosas e geralmente marcadas por conflitos, principalmente quando a passagem do palco para um espaço diante das câmaras está nos seus primeiros momentos. Na longa entrevista concedida ao critico alemão Hellmuth Karasek publicada em livro intitulado E o resto é loucura, editado no Brasil pela DBA, em tradução de Flávia Buchwaldt, o cineasta Billy Wilder narra um fato acontecido entre seu colega George Cukor e o então iniciante Jack Lemmon. O ator vinha do teatro, onde se havia especializado em papeis cômicos. Na primeira vez diante de uma câmera ele foi muito elogiado pelo diretor que previu para ele um grande futuro. Porém, Cukor lhe pediu que repetisse a cena, interpretando um pouco menos. Depois da segunda vez, o cineasta lhe pediu novamente que interpretasse ainda menos. E assim o trabalho continuou, sempre o ator sendo orientado a interpretar menos, até que Lemmon, irritado, perguntou ao cineasta se o que desejava é que ele não interpretasse. Cukor, não escondendo a alegria, respondeu que finalmente o ator havia entendido o que ele desejava. Este episódio de certa forma resume a diferença entre duas artes, pois a câmera não é um espectador de teatro e sim um instrumento utilizado para registrar uma realidade que deve ser transmitida sem utilizar aqueles recursos indispensáveis ao trabalho no palco. Mestres como Elia Kazan e Luchino Visconti, homens de teatro (o segundo também de ópera) sempre, quando dirigiram filmes, deixaram claro as diferenças, mesmo que em muitas passagens de seus filmes exaltassem recursos teatrais, como na extraordinária abertura do filme Senso, realizado pelo segundo cineasta citado.
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Serguei Eisenstein foi um dos inventores da linguagem cinematográfica. Sequências como a das escadarias de Odessa no Encouraçado Potemkin e da batalha no lago gelado em Alexander Newski são exemplos que comprovam tal afirmativa. Ele deve muito a David Griffith, o grande pioneiro, mas há algo que os separa. Enquanto Griffith procurava colocar personagens reais como ponto de partida, Eisenstein visava o épico no qual indivíduos eram simples figuras. Parece que tentou corrigir tal postura em O prado de Bejin, mas como o filme foi proibido e depois destruído, por ordem das autoridades ou em um bombardeio nazista não é possível saber se houve realmente tal atitude. Mas a verdade é que no díptico Ivan, o terrível, ele resolveu realizar um filme sobre o teatro, um ritual operístico que nada tem de realista. Ele próprio conta que numa determinada cena chegou a pedir ao ator Nikolai Tcherkassow que movimentasse as orelhas em determinada cena. Era uma brincadeira, mas que ilustra o método do cineasta. Stanley Kubrick reconhecia o gênio de Eisenstein, mas não deixou de lembrar sua dificuldade ou recusa de dirigir intérpretes ou encenar sequências de forma realista.
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Ingmar Bergman, também homem de teatro e que considerava sua obra para os palcos mais importante de que seus filmes, também sabia as diferenças entre as duas artes e seus pontos de aproximação. Quando realizou sua versão de A flauta mágica, a ópera de Mozart, sobre libreto de Schikaneder, utilizou cantores profissionais, mas exigiu que durante as cenas cantassem não da maneira como fariam num palco e sim sem qualquer esforço. Obviamente gravou toda a ópera de forma correta, mas só utilizou a parte sonora na montagem final, dublando os cantores com a utilização de suas vozes como se estivessem num palco. Com isso preservou a partitura original e afastou ênfases não percebidas pelo espectador de um teatro e que seriam reveladas pela câmera. De certa forma, o recurso bergmaniano, depois utilizado por outros cineastas, foi um exemplo esclarecedor. Cukor e Bergman tinham razão. O cinema não necessita de recursos utilizados num palco. Deve muito a todas artes e delas soube ressaltar sua maior missão: colocar o ser humano diante da realidade.
 
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