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Cinema

- Publicada em 22 de Abril de 2021 às 21:37

Cinelândia desfeita

Hélio Nascimento
Num tempo em que se começa a falar sobre a recuperação do Centro da cidade, um tema abordado depois de décadas em que a decadência se tornou mais evidente a cada dia, mesmo que em alguns espaços possam ser notados focos de resistência, talvez seja interessante falar sobre a extinção praticamente completa da cinelândia local, algo que sobrevive apenas na memória dos que a frequentaram no passado. Certamente, o grande número de cinemas em funcionamento na região central era fator decisivo para que a cidade ostentasse um brilho que aos poucos foi se apagando. É perfeitamente compreensível o entusiasmo de turistas ao visitarem países em que o passar do tempo não alterou para pior o cenário cultural, com teatros e cinemas funcionando regularmente nos espaços de sempre. Porém, é importante atenção para as causas que originaram uma deprimente alteração no cenário que habitamos. Sem dúvida, mais importante do que constatar a importância que manifestações culturais recebem em outros países, é procurar saber as origens de uma transformação que nada acrescentou de positivo para o setor cultural e para a qualidade da vida na cidade. Os interessados em simbolismos estão autorizados a ver no crescente número de farmácias, esses estabelecimentos tão essenciais, e no desaparecimento dos cinemas a expressão de uma enfermidade que se aprofunda e se alastra. Não se trata apenas da concorrência dos excelentes cinemas localizados em centros comerciais e nem da expansão da rede exibidora para outros locais. É possível também lembrar atrações domésticas permitidas por novas tecnologias, mas nada justifica um processo que enfraqueceu a qualidade da vida urbana e transformou o ato de sair de casa em desafio a ser enfrentado.
Num tempo em que se começa a falar sobre a recuperação do Centro da cidade, um tema abordado depois de décadas em que a decadência se tornou mais evidente a cada dia, mesmo que em alguns espaços possam ser notados focos de resistência, talvez seja interessante falar sobre a extinção praticamente completa da cinelândia local, algo que sobrevive apenas na memória dos que a frequentaram no passado. Certamente, o grande número de cinemas em funcionamento na região central era fator decisivo para que a cidade ostentasse um brilho que aos poucos foi se apagando. É perfeitamente compreensível o entusiasmo de turistas ao visitarem países em que o passar do tempo não alterou para pior o cenário cultural, com teatros e cinemas funcionando regularmente nos espaços de sempre. Porém, é importante atenção para as causas que originaram uma deprimente alteração no cenário que habitamos. Sem dúvida, mais importante do que constatar a importância que manifestações culturais recebem em outros países, é procurar saber as origens de uma transformação que nada acrescentou de positivo para o setor cultural e para a qualidade da vida na cidade. Os interessados em simbolismos estão autorizados a ver no crescente número de farmácias, esses estabelecimentos tão essenciais, e no desaparecimento dos cinemas a expressão de uma enfermidade que se aprofunda e se alastra. Não se trata apenas da concorrência dos excelentes cinemas localizados em centros comerciais e nem da expansão da rede exibidora para outros locais. É possível também lembrar atrações domésticas permitidas por novas tecnologias, mas nada justifica um processo que enfraqueceu a qualidade da vida urbana e transformou o ato de sair de casa em desafio a ser enfrentado.
A partir da década de 1930, os cinemas do Centro de Porto Alegre foram se transformando em atrações frequentadas por grande parte da população local. Tínhamos os cinemas Imperial, Rio (que depois passou a se chamar Guarany), Rex, Central, Roxy (depois Ópera), todos na Rua dos Andradas. O número foi ampliado com a inauguração, em 4 de setembro de 1940, do Vera Cruz (depois Victória, a partir de 12 de setembro de 1953), na Borges de Medeiros. Também eram do grupo principal Carlos Gomes, Capitólio (hoje Cinemateca) e por vezes o Coliseu, que também funcionava como teatro. Na década de 1950 era inaugurado o Cacique e passaram a funcionar também o Palermo, na Sete de Setembro, que depois passou a se chamar Rivoli, e o Continente (depois Lido), na Borges de Medeiros. Na Sete de Setembro, em 1960, passou a funcionar o novo Rex, depois do fechamento do primeiro, na Andradas. Outro importante cinema dedicado a lançamentos foi o Marabá, na Coronel Genuíno. E voltando à década de 1930, é necessário mencionar, fora do Centro, o Ypiranga, na Cristóvão Colombo, que se dedicava, principalmente, a operetas filmadas, gênero muito explorado pelo cinema alemão da época. Acontecimento importante foi a transformação dos cinemas Avenida e Colombo, afastados do Centro, em lançadores dos filmes da Metro, empresa que tinha salas em várias cidades e que em Porto Alegre dividia antes espaço com outras produtoras. De certa forma, tal fase, iniciada em 9 de abril de 1952, mostrou que havia possibilidades a serem exploradas fora do Centro. Os dois cinemas foram os precursores do Moinhos de Vento (depois Coral), Cinema-1/Sala Vogue, dos ciclos do Bristol e outros.
Tal expansão enriqueceu o panorama exibidor, não o enfraqueceu, algo que iria acontecer mais tarde, quando os problemas criados pelo crescimento quantitativo teriam como resultado soluções paliativas. Sobraram as salas da Casa de Cultura Mario Quintana e os espaços administrados pelo Sindicato dos Bancários e o Santander. São locais que oferecem programação alternativa e de interesse para os que não estão apenas voltados para filmes produzidos para grandes plateias. O saudosismo deixa de ser algo deletério quando não se opõe ao progresso e exalta o que deveria ser preservado. Não é reacionarismo pensar que as luzes da cidade deveriam permanecer acesas, iluminando as ribaltas onde o cinema desfila sua importância e sua grandeza.
 
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