Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cinema

- Publicada em 25 de Março de 2021 às 21:11

Floresta submersa

Hélio Nascimento
Certamente não é necessário um mergulho tão profundo e um ritual tão extenso como os praticados pelo mergulhador Craig Foster para que algumas descobertas sobre rituais essenciais ditados pela natureza sejam descobertos. Mas não há dúvida alguma de que o trabalho de Pippa Ehrlich e James Reed, este Professor polvo, é um trabalho que impressiona principalmente pelas belezas captadas pela câmera, uma viagem a um mundo desconhecido pelos habitantes da superfície. Não são poucos os momentos que as imagens como que transformam o protagonista em um descobridor de novos mundos e novas formas de vida. Não é o primeiro filme a captar as belezas ocultas pelos oceanos, mas, pelo tema que aborda, é, sem dúvida, um pioneiro. O filme, que vai representar, na categoria documentário, a África do Sul na próxima premiação da Academia de Hollywood, é muito superior a alguns títulos recentes que, no campo da ficção, abordaram tema semelhante. Esta tentativa de "diálogo" entre um ser humano e uma criatura das profundezas se apresenta como documentário. Porém, nenhum espectador se deixará iludir pela extraordinária habilidade do editor Dan Schwalm, que divide com Ehrlich a montagem do filme, do fotógrafo Roger Horrocks e de toda equipe técnica. A sequência da perseguição empreendida por um tubarão é claramente um brilhante exercício de montagem no qual imagens captadas em momentos diferentes são utilizadas para a criação de uma admirável cena de suspense. A base do relato é uma entrevista concedida aos realizadores e na qual é narrada uma experiência passada e definitiva vivida pelo entrevistado.
Certamente não é necessário um mergulho tão profundo e um ritual tão extenso como os praticados pelo mergulhador Craig Foster para que algumas descobertas sobre rituais essenciais ditados pela natureza sejam descobertos. Mas não há dúvida alguma de que o trabalho de Pippa Ehrlich e James Reed, este Professor polvo, é um trabalho que impressiona principalmente pelas belezas captadas pela câmera, uma viagem a um mundo desconhecido pelos habitantes da superfície. Não são poucos os momentos que as imagens como que transformam o protagonista em um descobridor de novos mundos e novas formas de vida. Não é o primeiro filme a captar as belezas ocultas pelos oceanos, mas, pelo tema que aborda, é, sem dúvida, um pioneiro. O filme, que vai representar, na categoria documentário, a África do Sul na próxima premiação da Academia de Hollywood, é muito superior a alguns títulos recentes que, no campo da ficção, abordaram tema semelhante. Esta tentativa de "diálogo" entre um ser humano e uma criatura das profundezas se apresenta como documentário. Porém, nenhum espectador se deixará iludir pela extraordinária habilidade do editor Dan Schwalm, que divide com Ehrlich a montagem do filme, do fotógrafo Roger Horrocks e de toda equipe técnica. A sequência da perseguição empreendida por um tubarão é claramente um brilhante exercício de montagem no qual imagens captadas em momentos diferentes são utilizadas para a criação de uma admirável cena de suspense. A base do relato é uma entrevista concedida aos realizadores e na qual é narrada uma experiência passada e definitiva vivida pelo entrevistado.
É em tal ponto que pode ser iniciado o questionamento sobre a verdadeira categoria do filme. Ele não é ficção, na medida em que reconstitui uma experiência real, evidenciada com absoluta clareza quando contemplamos a emoção que toma conta do narrador quando ele relembra determinada passagem. Mas também não é integralmente um documentário, por utilizar amplamente recursos técnicos para reconstituir acontecimentos passados. No entanto, ele se aproxima do gênero ao reconstituir fatos reais, acontecidos no mesmo cenário e novamente praticados pelo mesmo personagem. Afinal, os pais do documentário, Robert Flaherty e John Grierson, utilizaram a mesma técnica em Nanook, o esquimó (1922) e Drifters (1929). Porém, fazer com que seres humanos reconstituam diante das câmeras seu cotidiano é algo diverso do que encenar experiências passadas com a utilização de imagens registradas em outro contexto. É uma diferença formal, exterior, que não altera nem prejudica aquilo que os realizadores desejam transmitir. Eis um tema interessante a ser colocado, o que permite que um filme como este seja algo que mescla duas correntes do cinema. Até porque em qualquer filme de ficção há elementos de documentário e o equivalente se pode dizer do último gênero, na medida em que as imagens captadas passam por uma elaboração na qual certamente não estará ausente a imaginação do realizador.
O protagonista do filme é apresentado, em suas próprias palavras, como alguém que, no período abordado, passava por um momento difícil em sua vida. Os problemas por ele enfrentados não são inteiramente revelados. Algumas dificuldades no relacionamento com o filho são mencionadas, mas nada além disso. Mergulhar no oceano é um símbolo poderoso se o objetivo é chegar às causas do sofrimento emocional. Essa descoberta de uma floresta submersa e nunca antes vista é como uma revelação. Percorrer seus caminhos é como caminhar em um cenário antes desconhecido. Não é apenas a descoberta de outro mundo. É um retorno ao primeiro cenário. O filme de Ehrlicht e Reed pretende então registrar em imagens os perigos enfrentados na luta pela sobrevivência e o ciclo eterno da vida. Nas cenas finais e não por acaso nas mãos do filho aparece o recomeço e o futuro, precedidos pela dor e o sacrifício. O filme seria mais poderoso se relacionasse com mais intensidade os dramas da superfície com os conflitos e as lutas submersas. Mesmo assim é obra que fascina e emociona e também, pelo menos em parte, por reafirmar a força do documentário.
 
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO