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Cinema

- Publicada em 26 de Fevereiro de 2021 às 03:00

A riqueza das imagens

Hélio Nascimento
Quando o cinema deu os seus primeiros passos, no final do século XIX, era visto como uma atração de feira, uma nova distração. Até mesmo um dos Irmãos Lumière, segundo a lenda, o chamou de de uma invenção sem futuro. De qualquer forma era a primeira vez que a imagem em movimento se concretizava numa tela. Personagens da pintura e da fotografia adquiriam vida. Méliès o transformou a seguir em instrumento de encanto e magia. Se começou como documentário, logo em seguida o cinema passou a privilegiar a fantasia. Estava criada a ficção cinematográfica. Mas foram poucos os que viam na tela branca transformada, ao mesmo tempo, em espaço real e em painel enriquecido pela imaginação um novo meio de expressão. Tratava-se apenas de fotografia animada ou uma imitação do teatro. Griffith e Eisenstein foram os primeiros a perceber as potencialidades do invento. Descobriram que as imagens poderiam ser manipuladas de forma a transformar elementos visuais em nova forma de expressão. Os aspectos problemáticos relacionados ao racismo de Nascimento de uma nação não anulam descobertas fundamentais e os compromissos políticos de O encouraçado Potemkin não impedem a constatação de outro passo decisivo para a emancipação do cinema como nova arte. Os dois filmes revelavam, sem retirar de cena a palavra, pois o cinema não era mudo e sim silencioso, que elementos indispensáveis tinham que ser encontrados na imagem e não nas palavras. A mão que acaricia o combatente que volta ao lar, no primeiro, e os três leões que se transformam num só para simbolizar a revolta, no segundo, são exemplos clássicos do poderio da imagem no cinema.
Quando o cinema deu os seus primeiros passos, no final do século XIX, era visto como uma atração de feira, uma nova distração. Até mesmo um dos Irmãos Lumière, segundo a lenda, o chamou de de uma invenção sem futuro. De qualquer forma era a primeira vez que a imagem em movimento se concretizava numa tela. Personagens da pintura e da fotografia adquiriam vida. Méliès o transformou a seguir em instrumento de encanto e magia. Se começou como documentário, logo em seguida o cinema passou a privilegiar a fantasia. Estava criada a ficção cinematográfica. Mas foram poucos os que viam na tela branca transformada, ao mesmo tempo, em espaço real e em painel enriquecido pela imaginação um novo meio de expressão. Tratava-se apenas de fotografia animada ou uma imitação do teatro. Griffith e Eisenstein foram os primeiros a perceber as potencialidades do invento. Descobriram que as imagens poderiam ser manipuladas de forma a transformar elementos visuais em nova forma de expressão. Os aspectos problemáticos relacionados ao racismo de Nascimento de uma nação não anulam descobertas fundamentais e os compromissos políticos de O encouraçado Potemkin não impedem a constatação de outro passo decisivo para a emancipação do cinema como nova arte. Os dois filmes revelavam, sem retirar de cena a palavra, pois o cinema não era mudo e sim silencioso, que elementos indispensáveis tinham que ser encontrados na imagem e não nas palavras. A mão que acaricia o combatente que volta ao lar, no primeiro, e os três leões que se transformam num só para simbolizar a revolta, no segundo, são exemplos clássicos do poderio da imagem no cinema.
Porém, apesar dessas afirmações, o cinema teve de enfrentar preconceitos e mais do que isso a força de artes que há séculos detinham o interesse dos seres humanos. Não foi fácil, principalmente depois da chegada do som, que aproximou o cinema do teatro, a imposição de uma nova forma de arte. Mesmo antes, muitos filmes foram feitos para registrar superficialmente acontecimentos históricos e transpor para a tela peças ou romances célebres, com o objetivo de mostrar que o novo meio poderia também ser algo a ser visto com seriedade. Um olhar para o passado, principalmente através de consultas a jornais e mesmo a histórias do cinema escritas nos anos 1940 e 1950, confirmará o respeito e admiração a muitos realizadores que depois seriam amplamente superados pelos diretores que perceberam a existência de novos espaços a serem explorados. É verdade que o teatro shakespeariano foi transformado em cinema por Laurence Olivier e Joseph L. Mankiewicz e que uma ópera de Mozart deu origem a um filme admirável pelas mãos de Ingmar Bergman. Tudo isso, pois são vários exemplos, provou que o cinema podia se aproximar de outras artes sem perder sua autonomia. Mas até hoje certos preconceitos permanecem, mesmo que cineastas como Minnelli e Walsh já tenham tido sua obra amplamente revisada por instituições culturais.
São muitos os filmes que, embora dotados de méritos, foram ignorados pela crítica ainda não liberta do teatro e da literatura, o que não significa dizer que é necessário o afastamento de monumentos de conhecimento indispensável. Talvez porque tais críticos não tenham percebido que um personagem para ser definido não necessita citar um poema ou um trecho de qualquer obra consagrada. Basta que tal figura seja filmada com um livro na mão, por exemplo. No primeiro caso temos o que os críticos da geração que começou a escrever na década de 1960 chamavam de cinema literário. No segundo, a síntese alcançada por cineastas mais interessados em explorar a imagem. Mas é curioso lembrar que cineastas da nouvelle-vague, que como críticos saudavam, com razão, a riqueza das imagens de alguns cineastas norte-americanos, não dispensavam certos momentos em que fragmentos de obras de romancistas e pensadores eram citadas. Este é um exemplo de encontro entre palavras e imagens, uma síntese, algo que o cinema, por ser uma reunião de todas as artes, sempre foi. E esta, sem dúvida, é a prova de sua grandeza.
 
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