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Cinema

- Publicada em 05 de Fevereiro de 2021 às 03:00

Pai e filho

Hélio Nascimento
O lançamento da nova versão cinematográfica da história de Carlo Collodi sobre Pinóquio, dirigida por Matteo Garrone e tendo Roberto Benigni no papel de Geppeto, tem proporcionado diversas citações, plenamente justificadas, ao clássico desenho animado produzido pela empresa Disney em 1940, principal responsável pela fama universal do boneco de madeira. Mas uma curiosidade parece ter sido esquecida. No ano de 2002, após o sucesso, obtido por A vida é bela, Benigni resolveu arriscar o prestígio então obtido por aquele trabalho e dirigiu e interpretou um filme sobre o escultor e o boneco. Para surpresa de muitos o filme foi um fracasso tanto de bilheteria como de crítica e teve exibição limitada. E parece ter sido esquecido. Outra curiosidade é que o próprio diretor interpretava o papel de Pinóquio. Agora, no filme de Garrone ele vive o papel de Geppetto, passando a ser o escultor e o criador de uma figura feita a partir de um misterioso tronco de madeira, que depois de trabalhado se transforma numa criatura falante e portadora de sentimentos humanos. Portanto, o filme de Garrone não é o primeiro a narrar a história utilizando intérpretes e cenários reais. Tem sido classificada como uma versão sombria da história, por em seus cenários dar ênfase a aspectos reveladores de uma grave crise social. Sob tal aspecto a leitura está correta, mas o filme traz outros temas, o que certamente não passará despercebido aos que se interessam pela utilização do realismo cênico e seu relacionamento com a fantasia.
O lançamento da nova versão cinematográfica da história de Carlo Collodi sobre Pinóquio, dirigida por Matteo Garrone e tendo Roberto Benigni no papel de Geppeto, tem proporcionado diversas citações, plenamente justificadas, ao clássico desenho animado produzido pela empresa Disney em 1940, principal responsável pela fama universal do boneco de madeira. Mas uma curiosidade parece ter sido esquecida. No ano de 2002, após o sucesso, obtido por A vida é bela, Benigni resolveu arriscar o prestígio então obtido por aquele trabalho e dirigiu e interpretou um filme sobre o escultor e o boneco. Para surpresa de muitos o filme foi um fracasso tanto de bilheteria como de crítica e teve exibição limitada. E parece ter sido esquecido. Outra curiosidade é que o próprio diretor interpretava o papel de Pinóquio. Agora, no filme de Garrone ele vive o papel de Geppetto, passando a ser o escultor e o criador de uma figura feita a partir de um misterioso tronco de madeira, que depois de trabalhado se transforma numa criatura falante e portadora de sentimentos humanos. Portanto, o filme de Garrone não é o primeiro a narrar a história utilizando intérpretes e cenários reais. Tem sido classificada como uma versão sombria da história, por em seus cenários dar ênfase a aspectos reveladores de uma grave crise social. Sob tal aspecto a leitura está correta, mas o filme traz outros temas, o que certamente não passará despercebido aos que se interessam pela utilização do realismo cênico e seu relacionamento com a fantasia.
O cinema tem em seu passado momentos importantes nos quais narrativas nas quais a fantasia teve papel relevante e os problemas de adaptar o universo gerado pela imaginação ao mundo real foram plenamente resolvidos. Bergman, em A flauta mágica, foi um deles. Spielberg, em E.T., outro. Rosi, se a volta ao passado for ainda maior, também resolveu o problema em Felizes para sempre. E também é impossível esquecer um clássico como A bela e a fera, de Cocteau. Garrone, que depois de Dogman passou a ser visto como um dos melhores cineastas italianos da atualidade, tem justificado esta nova versão por seu interesse em ver um lado da história que não parece ter interessado a outros realizadores. Seu filme obviamente não se dirige ao público infantil, mas certamente também não causará entusiasmo entre cinéfilos que já contemplaram no passado resultados muito melhores. O filme que está sendo exibido no Brasil em cópias dubladas em inglês, procura encontrar uma harmonia entre realidade e fantasia. A sequência do teatro de marionetes e depois a do circo são exemplos nos quais o cineasta se aproxima, sem alcançá-lo plenamente, de tal encontro. O problema é que ao utilizar atores em situações fora da realidade, o resultado é artificial em termos de cinema que se pretende realista, a ponto de ver, na história narrada, uma oportunidade de crítica social.
Bem melhor são as opções feitas pelo diretor quando não necessita apelar para distorções. As cenas do colégio, por exemplo, mesmo que a figura do professor seja dominada pela caricatura superficial, conseguem resumir a ideia de que a civilização traz consigo elementos repressivos, por vezes dolorosos, como nos castigos impostos aos alunos. Certamente, Garrone não está, em tais momentos, falando do passado, mas registrando um processo onde estão as causas do surgimento de figuras como as dos falsos amigos e de outras distorções espalhadas pela narrativa. No entanto, ao optar pelos caminhos mais fáceis, Garrone termina vítima dos dilemas criados pela utilização das alegorias. Ao misturar desenho animado com cenários reais ele termina diluindo sua proposta. Tudo ficaria melhor se o realizador transformasse as sugestões do relato original em situações reais. Há apreciáveis momentos em seu filme, mas o conjunto é insatisfatório. Outros diretores talentosos também padeceram ao se deparar com tal dilema. Um deles, Stanley Donen, foi uma das vítimas. O codiretor de Cantando na chuva, em sua versão de O pequeno príncipe, foi salvo do desastre total pelo seu colega Bob Fosse, que em sua aparição como a cobra deixou clara a importância da sugestão e da imagem em movimento. Algo que Garrone parece ter esquecido.
 
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