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Cinema

- Publicada em 29 de Janeiro de 2021 às 03:00

Obras concluídas

Hélio Nascimento
Sem muita repercussão por aqui, dois importantes cineastas cubanos morreram há alguns dias. Um deles, Juan Carlos Tabío, ficou conhecido dos cinéfilos locais por ter assinado, junto com o mais notável cineasta de Cuba, Tomás Gutierres Alea, a direção dos dois últimos filmes daquele realizador, Morango e chocolate e Guantanamera. Os dois filmes foram vencedores do Festival de Gramado. O primeiro deles também recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Berlim e também foi selecionado pela Academia de Hollywood e integrou a lista de concorrentes ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira. Quem também faleceu foi Enrique Pineda Barnet, que igualmente teve um de seus filmes, La Bella del Alhambra, exibido em Gramado. Barnet morreu dia 12, aos 87 anos. Tabío, no dia 18, aos 77.
Sem muita repercussão por aqui, dois importantes cineastas cubanos morreram há alguns dias. Um deles, Juan Carlos Tabío, ficou conhecido dos cinéfilos locais por ter assinado, junto com o mais notável cineasta de Cuba, Tomás Gutierres Alea, a direção dos dois últimos filmes daquele realizador, Morango e chocolate e Guantanamera. Os dois filmes foram vencedores do Festival de Gramado. O primeiro deles também recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Berlim e também foi selecionado pela Academia de Hollywood e integrou a lista de concorrentes ao Oscar de melhor filme em língua estrangeira. Quem também faleceu foi Enrique Pineda Barnet, que igualmente teve um de seus filmes, La Bella del Alhambra, exibido em Gramado. Barnet morreu dia 12, aos 87 anos. Tabío, no dia 18, aos 77.
Um dos primeiros filmes de Barnet foi Giselle, realizado em 1965, versão cinematográfica integral do balé criado por Jean Coralli e Jules Perrot, sobre música de Adolphe Adam. Tal filme era uma evidente tentativa de realçar a volta ao país de Alicia Alonso, que interpretou o papel principal. Depois de uma vitoriosa carreira nos Estados Unidos ela havia regressado a seu país e no filme de Barnet contracenava com o marido, Fernando Alonso. La bela del Alhambra, realizado em 1989, tinha como cenário a célebre casa de espetáculos e reconstituía conflitos políticos do início do século passado. Este filme também foi aceito pela Academia e concorreu ao Oscar daquele ano. Reconstituição de época das mais caprichadas e um painel integrado por canções do repertório da América Latina eram os méritos mais destacados do filme.
Acometido de doença grave, Alea não tinha condições de dirigir sozinho seus dois últimos projetos. Por isso, segundo se comentava na época, a parceria com Tabío. Tanto Morango e chocolate, em 1993, como Guantanamera, em 1995, foram obras excepcionais, não apenas por seus méritos formais. Foram filmes marcados pela inconformidade e a coragem. O primeiro deles era uma denúncia sobre as perseguições aos homossexuais em Cuba. Ao mesmo tempo também criticava com humor e irreverência os lugares-comuns, as respostas prontas, o sectarismo e as superficialidades, sem esquecer, é claro, o maniqueísmo, este inimigo da racionalidade incapaz de perceber as riquezas das contradições. Há uma cena em que, depois de ouvir uma canção de Ernesto Lecuona e antes de emitir uma opinião, um personagem pergunta pela nacionalidade do compositor e recebe surpreso a informação que o autor era cubano. O filme era um ataque direto à burocracia e ao automatismo gerado em seres humanos pela força do autoritarismo.
A surpresa maior viria a seguir com Guantanamera, filme que depois de exibido e se transformado no maior êxito de público em Cuba, originou alguns problemas para o Instituo Cubano de Artes e Indústria Cinematográfica (INCAIC). Exibido em Gramado causou espanto em alguns setores. O trajeto percorrido pela burocracia e que fazia um cortejo fúnebre percorrer todo o território cubano, um símbolo mais que evidente, formava um painel bem-humorado e ao mesmo tempo vigoroso, sobretudo no trecho em que, sob chuva, o cortejo é acompanhado por uma narrativa que fala sobre o silêncio imposto às novas gerações, impossibilitadas de exercer seu papel no processo de renovação. E há a cena em que um grupo de pessoas se curva diante de uma estátua e a brincadeira sobre a falta de comida e a abundância de cachaça e charuto. E não é possível esquecer a cena final, quando um burocrata do regime, durante um discurso, é abandonado pelo público em um cemitério, pedindo desesperadamente para que não o deixem só, um clamor que parece uma citação de um pedido de socorro semelhante feito por um ex-presidente brasileiro, alguns anos antes da realização do filme.
Guantanamera certamente ficará como exemplo de cinema inserido em seu tempo. Parte da crítica brasileira, sempre pronta a saudar heróis e a exaltar fantasias que se refugiam em mundos paralelos, deu pouco espaço a esses dois filmes, mas eles ficarão como exemplos de como o cinema é um poderoso instrumento destinado a revelar dados indispensáveis para a compreensão de uma época.
 
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