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Cinema

- Publicada em 08 de Janeiro de 2021 às 03:00

Incertezas

Hélio Nascimento
Não é a primeira vez que o cinema enfrenta problemas e inimigos. Quando uma invenção francesa da década de 1920 passou a ser utilizada por uma empresa norte-americana, a Fox, tal investimento foi uma resposta vigorosa e eloquente ao surgimento da televisão, tida então como uma ameaça imbatível e definitiva. A tela ampla, o formato retangular e a utilização do som direcional, espalhado por toda a sala, transformou os pequenos aparelhos domésticos em miniaturas incapazes de ameaçar a predominância do invento dos Lumière. Mas o processo não terminou com o lançamento de O manto sagrado, em 1953. Seria uma ilusão que o combate tivesse terminado. Mesmo porque tal tipo de confronto nunca termina. A tela doméstica foi ampliada, ganhou cor e recursos que a tornaram um aceitável recurso para a revisão de clássicos e o conhecimento de filmes desprezados pelo circuito exibidor. Coube também a ela permitir o acesso a obras que, pelo menos em países onde o cinema ainda não foi reconhecido como elemento cultural indispensável ao conhecimento de uma época, raramente eram mostrados nas salas exibidoras. Este foi um papel importante da televisão e que não pode ser ignorado. Mas também é necessário salientar que o verdadeiro cinema não foi derrotado, mesmo em tal setor. Mostras retrospectivas continuaram a ser realizadas, cinemas especializados em clássicos passaram a funcionar em diversos países, cinematecas foram criadas com a finalidade de conservar imagens. Mas o cinema não ignorou a televisão. Pelo contrário: a utilizou como precioso elemento de divulgação. Tal disputa parecia amenizada e todos lucraram com as inovações que aos poucos foram surgindo. No que se relaciona ao cinema, o surgimento de novas salas, distantes das ameaças da atual vida urbana e dotadas de condições técnicas perfeitas, ampliou o número de espectadores.
Não é a primeira vez que o cinema enfrenta problemas e inimigos. Quando uma invenção francesa da década de 1920 passou a ser utilizada por uma empresa norte-americana, a Fox, tal investimento foi uma resposta vigorosa e eloquente ao surgimento da televisão, tida então como uma ameaça imbatível e definitiva. A tela ampla, o formato retangular e a utilização do som direcional, espalhado por toda a sala, transformou os pequenos aparelhos domésticos em miniaturas incapazes de ameaçar a predominância do invento dos Lumière. Mas o processo não terminou com o lançamento de O manto sagrado, em 1953. Seria uma ilusão que o combate tivesse terminado. Mesmo porque tal tipo de confronto nunca termina. A tela doméstica foi ampliada, ganhou cor e recursos que a tornaram um aceitável recurso para a revisão de clássicos e o conhecimento de filmes desprezados pelo circuito exibidor. Coube também a ela permitir o acesso a obras que, pelo menos em países onde o cinema ainda não foi reconhecido como elemento cultural indispensável ao conhecimento de uma época, raramente eram mostrados nas salas exibidoras. Este foi um papel importante da televisão e que não pode ser ignorado. Mas também é necessário salientar que o verdadeiro cinema não foi derrotado, mesmo em tal setor. Mostras retrospectivas continuaram a ser realizadas, cinemas especializados em clássicos passaram a funcionar em diversos países, cinematecas foram criadas com a finalidade de conservar imagens. Mas o cinema não ignorou a televisão. Pelo contrário: a utilizou como precioso elemento de divulgação. Tal disputa parecia amenizada e todos lucraram com as inovações que aos poucos foram surgindo. No que se relaciona ao cinema, o surgimento de novas salas, distantes das ameaças da atual vida urbana e dotadas de condições técnicas perfeitas, ampliou o número de espectadores.
Porém, nunca houve um inimigo como o atual. O vírus que nos ameaça está sendo um cúmplice de todos os adversários do cinema, desde os que o ignoram e prefeririam que ele não existisse até aqueles que parecem hipnotizados pelas novas tecnologias. O fechamento das salas exibidoras é certamente um golpe do qual o cinema dificilmente conseguirá se recuperar. Há os otimistas, que acreditam que passado algum tempo o público voltará a frequentar as salas exibidoras e tudo voltará ao normal. E há os pessimistas que preveem um futuro sombrio, para não dizer a concretização do capítulo final. Estes últimos certamente, estão atentos a um processo de diluição evidente. Todo um desenvolvimento foi invertido e um desfecho melancólico é algo provável. Quando Cidadão Kane foi exibido pela primeira vez em Porto Alegre, no cinema Vera Cruz, foi recebido com vaias e retirado de cartaz após o primeiro dia. Anos mais tarde, Hiroshima, Meu Amor permaneceu um mês em cartaz no cinema Ópera. Depois, O ano passado em Marienbad ultrapassou os sete primeiros dias no Guarany. O progresso era então evidente. E nem se torna necessário lembrar os êxitos de bilheteria alcançados por filmes de nível das mais diversas procedências e o interesse que eles despertavam. Uma simples consulta aos jornais da época comprovará tal afirmação. Páginas inteiras eram dedicadas a nomes como Bergman, Visconti, Kubrick, Resnais, Fellini, Truffaut, Wajda, isso para não falar em mestres que sabiam se expressar num cinema aparentemente apenas voltados a grandes plateias, como Lean, Hitchcock, Mankiewicz, Ford e tantos outros. E isso numa época em que o cinema, como constatou Fellini, já não possuía o monopólio da imagem em movimento.
Outro tema a não ser esquecido é o da simplificação, algo que evidencia um grande retrocesso. O cinema sempre reservou espaço para as plateias infantis, no qual algumas obras-primas foram realizadas. É natural e importante que tal prática continue sendo utilizada. O que preocupa é a predominância de filmes que, longe de fornecer aos novos e pequenos espectadores algo valioso, se revelam interessados em infantilizar adultos e voltados apenas para efeitos especiais. Resta esperar que algo melhor surja depois desta fase sombria. Talvez nossa arte sobreviva num cenário onde a imaginação não seja vilipendiada e nem a inteligência ofendida.
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