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Cinema

- Publicada em 03 de Dezembro de 2020 às 21:28

Filmografia iluminada

Hélio Nascimento
Há vários filmes que, voltados para o fenômeno da criação cinematográfica, deixaram valiosas contribuições ao processo destinado a colocar o espectador diante das raízes e da elaboração de obras destinadas a colocar nas telas imagens nascidas de experiências pessoais e visões de mundo. Não é, portanto, uma novidade que o cineasta Hector Babenco receba neste Babenco - Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou uma homenagem composta não apenas de reveladoras sequências de seus filmes, pois é importante ressaltar que este documentário também é, assim como aquele dedicado por Wim Wenders a Nicholas Ray, o registro dos últimos meses da vida do cineasta. A surpresa é de que se trata da obra de uma realizadora estreante, beneficiada por sua ligação com o cineasta, é verdade, mas que revela uma intimidade com a narrativa cinematográfica surpreendente e marcada por lances originais, alguns deles achados preciosos e enriquecedores. Bárbara Paz coloca seu primeiro longa-metragem no espaço já ocupado por outros documentários notáveis produzidos em anos recentes pelo cinema brasileiro, mas com uma novidade, dispensa a entrevista e procura mesclar a essência de filmes feitos no passado com a resistência de um artista diante da ameaça maior. A ausência de opiniões e elogios de amigos e admiradores faz com que o filme se comunique com o espectador através apenas das imagens dos filmes de Babenco e pelos registros feitos pela realizadora dos últimos dias do cineasta.
Há vários filmes que, voltados para o fenômeno da criação cinematográfica, deixaram valiosas contribuições ao processo destinado a colocar o espectador diante das raízes e da elaboração de obras destinadas a colocar nas telas imagens nascidas de experiências pessoais e visões de mundo. Não é, portanto, uma novidade que o cineasta Hector Babenco receba neste Babenco - Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou uma homenagem composta não apenas de reveladoras sequências de seus filmes, pois é importante ressaltar que este documentário também é, assim como aquele dedicado por Wim Wenders a Nicholas Ray, o registro dos últimos meses da vida do cineasta. A surpresa é de que se trata da obra de uma realizadora estreante, beneficiada por sua ligação com o cineasta, é verdade, mas que revela uma intimidade com a narrativa cinematográfica surpreendente e marcada por lances originais, alguns deles achados preciosos e enriquecedores. Bárbara Paz coloca seu primeiro longa-metragem no espaço já ocupado por outros documentários notáveis produzidos em anos recentes pelo cinema brasileiro, mas com uma novidade, dispensa a entrevista e procura mesclar a essência de filmes feitos no passado com a resistência de um artista diante da ameaça maior. A ausência de opiniões e elogios de amigos e admiradores faz com que o filme se comunique com o espectador através apenas das imagens dos filmes de Babenco e pelos registros feitos pela realizadora dos últimos dias do cineasta.
Desde seu primeiro filme, O rei da noite, até o último, Meu amigo hindu, sem esquecer que antes ele havia realizado em parceria com Roberto Farias o documentário O fabuloso Fittipaldi, o cineasta deixou evidente que pertencia ao grupo daqueles capazes de realizar filmes dotados do mérito de compartilhar com o púbico o interesse despertado por certos temas. Enquanto alguns colegas do País que o acolheu estavam mais preocupados com alegorias e protestos, Babenco percebeu, ao lado de outros diretores brasileiros, que valorizavam a realidade e personagens verdadeiros, que as alegorias estavam prontas: bastava retirá-las do real. Há uma cena do filme de Bárbara Paz que ilustra com perfeição tal método. É quando vemos o diretor de Pixote diante de uma favela. Em tal plano o diretor está diante de um exemplo eloquente de um imenso fracasso, responsável direto pela desumanidade e a violência. É no filme citado, provavelmente sua obra-prima, que os trilhos da cena final não apenas ilustram a busca de um caminho, mas a trajetória que levará o personagem ao desastre, algo que a realidade confirmará mais tarde, quando o intérprete do menino rejeitado teve o final antecipado pelo cinema.
Outro mérito do filme é não utilizar a cor. Todos os filmes de Babenco foram realizados a cores. Mas a realizadora transformou todas as cenas reconstituídas em preto-e-branco. Tal recurso confere ao documentário uma unidade que reforça a ideia de que a obra resultante da contemplação da realidade está indissoluvelmente ligada a uma vida anterior. Argentino de nascimento, brasileiro por opção, Babenco não foi apenas um cineasta latino-americano. Além de realizar, depois dos filmes brasileiros, trabalhos na Argentina, ele também deixou obras para o cinema norte-americano. Como realizador ele foi, como o cinema, universal. Merece estar no cenário da bela sequência final, colocada junto aos créditos de encerramento, quando a câmera termina revelando que o encontro com a fantasia gerada pelo cinema pode ser o exemplo maior da felicidade. E não poderia faltar o epílogo de Meu amigo hindu, quando o cinema volta a se impor como fonte de alegria e vitalidade, numa homenagem a um dos mais belos e estimulantes filmes da história. É de lamentar que um filme como este esteja sendo lançado em uma época difícil para o cinema, pois é daqueles que merecem o maior espaço possível para serem devidamente valorizados. Porém, ele é um exemplo de luta e resistência. E também um dos mais notáveis momentos do documentário brasileiro. É neste gênero que este relato cinematográfico sobre Babenco brilha e aponta caminhos, além de se constituir em bela lição de como usar a técnica para espalhar na tela marcas do talento e da sensibilidade.
 
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