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Cinema

- Publicada em 13 de Novembro de 2020 às 03:00

Filmes e autores

Hélio Nascimento
No início era a imagem que reinava absoluta. Tanto nos registros documentais de acontecimentos cotidianos como na utilização da fantasia, que permitia até mesmo uma viagem à Lua, o cinema revelou que sua matéria principal se encontrava no conjunto de figuras registradas pela câmera de filmar. O cinema colocava, assim, em seus primeiros passos, o público diante de imagens que exigiam a racionalidade para ser devidamente compreendidas. O fato de algumas pessoas sentirem-se ameaçadas pelo trem que se aproximava da estação revela uma súbita perda de sentido do real. Porém, além disso, a ameaça sentida por alguns naquela primeira sessão expressa com clareza a força que imagens em movimento numa tela podem concentrar. Esta, então, é a característica principal do cinema. Mas esta é uma forma que seria enriquecida com o passar do tempo, quando os primeiros cineastas, aqueles dignos de tal nome, descobriram as imensas possibilidades do novo meio de expressão, entre elas a capacidade de se aproximar de outras artes. A primeira e errada constatação é de que o cinema seria apenas um prolongamento do teatro. Tal impressão foi corrigida quando Griffith e depois Eisenstein revelaram que o cinema tinha meios próprios para se impor como uma nova arte, sem abandonar os princípios das que o antecederam e até os utilizando para seu próprio enriquecimento.
No início era a imagem que reinava absoluta. Tanto nos registros documentais de acontecimentos cotidianos como na utilização da fantasia, que permitia até mesmo uma viagem à Lua, o cinema revelou que sua matéria principal se encontrava no conjunto de figuras registradas pela câmera de filmar. O cinema colocava, assim, em seus primeiros passos, o público diante de imagens que exigiam a racionalidade para ser devidamente compreendidas. O fato de algumas pessoas sentirem-se ameaçadas pelo trem que se aproximava da estação revela uma súbita perda de sentido do real. Porém, além disso, a ameaça sentida por alguns naquela primeira sessão expressa com clareza a força que imagens em movimento numa tela podem concentrar. Esta, então, é a característica principal do cinema. Mas esta é uma forma que seria enriquecida com o passar do tempo, quando os primeiros cineastas, aqueles dignos de tal nome, descobriram as imensas possibilidades do novo meio de expressão, entre elas a capacidade de se aproximar de outras artes. A primeira e errada constatação é de que o cinema seria apenas um prolongamento do teatro. Tal impressão foi corrigida quando Griffith e depois Eisenstein revelaram que o cinema tinha meios próprios para se impor como uma nova arte, sem abandonar os princípios das que o antecederam e até os utilizando para seu próprio enriquecimento.
Narrar uma história aproxima o cinema do romance. Colocar personagens em cena revela a importância que o teatro exerce na sua forma de se expressar. Impossível negar a relevância da pintura, da escultura, da música e da dança na formação e na continuidade de imagens em movimento numa tela. Tais considerações nos encaminham para a constatação de que tudo o que esse material revela, no que refere ao valor quantitativo, mostra que o cinema é uma arte proveniente de uma ação coletiva. Porém, há um regente diante de tal orquestra. Um verdadeiro cineasta é aquele que sabe utilizar tais elementos e os talentos que os manejam de uma forma a expressar uma visão de mundo. A existência de autores cinematográficos, sem diminuir a importância de atores, atrizes, fotógrafos, cenógrafos, roteiristas e todos o que trabalham na realização de um filme, deriva da manipulação criativa de todos esses elementos. Assim, o realizador é o autor do que é visto na tela. É fácil chegar à tal conclusão. Alguns cineastas trabalham por vezes com equipes diferentes. Mas ninguém dotado de olhar atento deixará de perceber que todos os filmes de Hitchcock, Fellini, Bergman e Visconti, por exemplo, têm sua assinatura e sua autoria claramente expressas. Até trabalhando sobre textos de roteiristas diversos, os verdadeiros autores sempre deixam sua marca na encenação e na formação das imagens.
Mesmo no teatro, o encenador é quem impõe sua visão sobre o texto original, que pode adquirir outro sentido se outro for o diretor. Está sendo anunciado, agora, o novo filme de David Fincher, Mank. Trata-se de uma cinebiografia de Herman Mankiewicz (1897-1953), que era irmão do grande Joseph L. Mankiewicz (1909-1993), o realizador de A malvada e Dizem que é pecado. O irmão mais velho nos últimos anos, teve seu nome colocado em evidência devido a uma polêmica sem maior sentido, depois que ele foi apontado como o principal responsável por tudo o que Cidadão Kane (1941), dirigido por Orson Welles (1915-1985), tem de excepcional. Vale lembrar que nos créditos do filme, colocados no final, Welles e Mankiewicz aparecem como os dois autores do roteiro. Os responsáveis por tal polêmica esqueceram que, em 1933, o diretor William K. Howard (1899-1954) realizou, sobre um roteiro de Preston Sturges (1898-1959), O poder e a glória, sobre a vida de um milionário cuja trajetória era narrada sem ordem cronológica, o filme tendo início com a morte do protagonista. A mesma técnica utilizada em Cidadão Kane. Mas o importante aqui, deixando de lado o fato de que o Mankiewicz roteirista, não tem em sua trajetória nada marcante além daquela participação, é que Welles tem uma obra na qual sua autoria é evidente em cada plano filmado. O próprio Welles em Verdades e mentiras, diante da Catedral de Chartres, de forma narcisista, ironizou tal polêmica, perguntando que "diante de tal magnificência qual é a importância de um nome?".
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