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Cinema

- Publicada em 30 de Outubro de 2020 às 03:00

Musical

Hélio Nascimento
No documentário Santiago, que muitos consideram o maior produzido pelo cinema brasileiro, João Moreira Salles utiliza em determinada passagem uma cena de um dos musicais dirigidos por Vincente Minnelli, A roda da fortuna (The Band Wagon), realizado em 1953. A cena, uma das mais famosas e belas do gênero, de certa forma resume e define uma forma de expressão cinematográfica. Em tal sequência, Fred Astaire e Cyd Charisse caminham por um parque, certamente pensando nas diferenças que profissionalmente os separam e dificultam a participação de ambos em um espetáculo que está na fase de ensaio. E com toda a certeza também pensam em como a harmonia entre uma bailarina clássica e um astro de uma dança afastada dos modelos tradicionais poderia resulta em algo novo e harmônico. De repente, a fantasia se intromete na realidade e o espectador é brindado com um número coreográfico que é dos mais belos até hoje registrados por uma câmera cinematográfica. Não é apenas pelo fato de aquele filme ser o preferido do personagem do documentário que Salles utiliza de tal obra um fragmento. É que a sequência do parque expressa de forma bem clara a essência de um gênero: a busca de um mundo onírico no qual os sonhos e os desejos humanos sejam concretizados. Numa entrevista concedida a Jean Domarchi e Jean Douchet, dois críticos da fase áurea dos Cahiers du Cinéma, o diretor Minnelli, que em seus filmes sempre desenvolveu a temática relacionada à fantasia e à realidade, lembra que o sonho é elemento fundamental, sendo a ele relacionada a primeira pergunta feito por um psiquiatra. No citado documentário brasileiro o personagem, o mordomo de uma família rica, é fascinado por grandezas passadas, entre elas a música e chega mesmo a se trajar a rigor para tocar ao piano uma peça de Beethoven. Eis a distância entre a realidade e o procurado pelo ser humana devidamente reduzida. E certamente não apenas é um acaso o filme anterior de Salles, também um documentário extraordinário, ser dedicado a um dos maiores pianistas brasileiros, Nelson Freire, internacionalmente reconhecido.
No documentário Santiago, que muitos consideram o maior produzido pelo cinema brasileiro, João Moreira Salles utiliza em determinada passagem uma cena de um dos musicais dirigidos por Vincente Minnelli, A roda da fortuna (The Band Wagon), realizado em 1953. A cena, uma das mais famosas e belas do gênero, de certa forma resume e define uma forma de expressão cinematográfica. Em tal sequência, Fred Astaire e Cyd Charisse caminham por um parque, certamente pensando nas diferenças que profissionalmente os separam e dificultam a participação de ambos em um espetáculo que está na fase de ensaio. E com toda a certeza também pensam em como a harmonia entre uma bailarina clássica e um astro de uma dança afastada dos modelos tradicionais poderia resulta em algo novo e harmônico. De repente, a fantasia se intromete na realidade e o espectador é brindado com um número coreográfico que é dos mais belos até hoje registrados por uma câmera cinematográfica. Não é apenas pelo fato de aquele filme ser o preferido do personagem do documentário que Salles utiliza de tal obra um fragmento. É que a sequência do parque expressa de forma bem clara a essência de um gênero: a busca de um mundo onírico no qual os sonhos e os desejos humanos sejam concretizados. Numa entrevista concedida a Jean Domarchi e Jean Douchet, dois críticos da fase áurea dos Cahiers du Cinéma, o diretor Minnelli, que em seus filmes sempre desenvolveu a temática relacionada à fantasia e à realidade, lembra que o sonho é elemento fundamental, sendo a ele relacionada a primeira pergunta feito por um psiquiatra. No citado documentário brasileiro o personagem, o mordomo de uma família rica, é fascinado por grandezas passadas, entre elas a música e chega mesmo a se trajar a rigor para tocar ao piano uma peça de Beethoven. Eis a distância entre a realidade e o procurado pelo ser humana devidamente reduzida. E certamente não apenas é um acaso o filme anterior de Salles, também um documentário extraordinário, ser dedicado a um dos maiores pianistas brasileiros, Nelson Freire, internacionalmente reconhecido.
O musical tem origem nobre, pois descende da ópera, do singspiel (mistura de diálogos falados e música) e dos espetáculos musicais que tanto sucesso fizeram e até hoje fazem nos palcos de todo mundo. Alguns clássicos, como My Fair Lady, de George Cukor, e West side story, de Robert Wise, tem sua origem nos palcos ingleses e americanos, assim como Amadeus, de Milos Forman. Mas outros foram pensados diretamente para o cinema, como Sinfonia de Paris, de Minnelli, e Cantando na chuva, de Stanley Donen e Gene Kelly. Este último, certamente o mais estimulante de todos, também tem o seu lado de documentário ao reconstituir, com humor e irreverência, as tentativas de fazer do cinema um espetáculo no qual o som exercesse um papel fundamental. Uma ambição concretizada. Mas este clássico do cinema tem um problema, pois o balé nada tem a ver com o tema principal. Tal não ocorre com Sinfonia de Paris, no qual o trecho no qual impera a coreografia resume a história, tem um final aparentemente melancólico, desmentido pelo epílogo na escadaria, um prolongamento da fantasia, pois os protagonistas ainda vestem as roupas do baile dos artistas.
O gênero não permaneceu limitado geograficamente e teve seguidores em todo o mundo. O mais notável deles é certamente Os guarda-chuvas de Cherboug, no qual os diálogos foram substituídos por recitativos. O filme é um notável trabalho de Jacques Demy, um verdadeiro ensaio sobre a destruição de sonhos e o império da realidade. O nosso cinema também teve seus momentos no gênero. O mais notável deles é Tudo azul, realizado em 1952 por Moacyr Fenelon, a partir de um roteiro de Alinor Azevedo e Henrique Pongetti. O protagonista vive um cotidiano difícil, mas ao tentar o suicídio termina realizando o sonho de se transformar num compositor de sucesso. Outra vez o tema do sonho e a realidade. E não deixa de ser uma ousadia o filme Sinfonia da necrópole, que Juliana Rojas realizou em 2014, sobre o cotidiano de coveiros de um cemitério paulista. Uma prova de que o gênero tem uma ampliação bem maior do que muitos imaginam.
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