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Cinema

- Publicada em 22 de Outubro de 2020 às 21:33

Policial

Hélio Nascimento
Se o gênero western é aquele que privilegia os grandes espaços, o cenário que se confunde com o horizonte, o policial coloca o seu protagonista, geralmente um agente do estado ou um detetive particular, limitado pelas barreiras da vida urbana, num palco onde predominam as sombras e tudo parece confuso e só devidamente esclarecido no epílogo. Um reconstitui o passado, outro se materializa no presente. No primeiro predomina a destreza no manejo das armas. No segundo, sem que a violência seja abandonada, o raciocínio e a experiência predominam. Porém, os gêneros por vezes trocam ou mesclam características. Há pouco, Quentin Tarantino, em Os oito odiados, fez com a quase totalidade da ação transcorresse num cenário apenas. E no admirável Os intocáveis, de Brian De Palma, uma fantasia sobre a imposição da justiça, em alguns planos da sequência desenrolada na fronteira com o Canadá, o gênero, tantas vezes enobrecido por John Ford, é homenageado com imagens notáveis e valorizadas pela música de Ennio Morricone. O policial é certamente aquele gênero que expressa com extrema clareza a temática da ruptura com as normas civilizatórias. A violência que explode de diversas maneiras deflagra a resposta do braço armado do sistema. Mas antes é necessário identificar o criminoso, quando se trata de um desafio proposto de forma inesperada. Em outros casos, como em alguns filmes de Alfred Hitchcock, o transgressor é identificado nas primeiras cenas, mas sua ação revela o que há de reprimido e oculto na natureza humana. E no combate às quadrilhas, o gênero se expressa através da exaltação dos meios legais destinados a manter uma engrenagem em funcionamento.
Se o gênero western é aquele que privilegia os grandes espaços, o cenário que se confunde com o horizonte, o policial coloca o seu protagonista, geralmente um agente do estado ou um detetive particular, limitado pelas barreiras da vida urbana, num palco onde predominam as sombras e tudo parece confuso e só devidamente esclarecido no epílogo. Um reconstitui o passado, outro se materializa no presente. No primeiro predomina a destreza no manejo das armas. No segundo, sem que a violência seja abandonada, o raciocínio e a experiência predominam. Porém, os gêneros por vezes trocam ou mesclam características. Há pouco, Quentin Tarantino, em Os oito odiados, fez com a quase totalidade da ação transcorresse num cenário apenas. E no admirável Os intocáveis, de Brian De Palma, uma fantasia sobre a imposição da justiça, em alguns planos da sequência desenrolada na fronteira com o Canadá, o gênero, tantas vezes enobrecido por John Ford, é homenageado com imagens notáveis e valorizadas pela música de Ennio Morricone. O policial é certamente aquele gênero que expressa com extrema clareza a temática da ruptura com as normas civilizatórias. A violência que explode de diversas maneiras deflagra a resposta do braço armado do sistema. Mas antes é necessário identificar o criminoso, quando se trata de um desafio proposto de forma inesperada. Em outros casos, como em alguns filmes de Alfred Hitchcock, o transgressor é identificado nas primeiras cenas, mas sua ação revela o que há de reprimido e oculto na natureza humana. E no combate às quadrilhas, o gênero se expressa através da exaltação dos meios legais destinados a manter uma engrenagem em funcionamento.
Se o objetivo é desvendar um crime, identificar o criminoso e a ele impor o devido castigo, o gênero policial tem suas raízes numa das primeiras manifestações culturais do Ocidente: o teatro grego. No palco da antiguidade, pela primeira vez foram vistas figuras heroicas e trágicas que antes protagonizavam epopeias ou se mantinham vivas em narrativas anônimas. Um desses personagens foi Édipo. A tragédia de Sófocles é claramente uma investigação que levará ao esclarecimento de um crime. Na verdade, dois, pois o rei protagonizou em seu passado duas ações contrárias aos limites impostos pela civilização: o assassinato e o incesto. Édipo, de certa forma, é o primeiro detetive da história. Mas um detetive que investiga a si próprio, o que de certa forma, se a trama de um policial se destina a expor o que permanecia encoberto, fala ao espectador e ao leitor sobre temas relacionados ao conflito básico, gerado pela submissão do ser humanos aos imperativos do processo civilizatório. Alan Parker, em Coração satânico, tangenciou essa temática, mas não foi o único a dela se aproximar.
Para muitos, Chinatown, de Roman Polanski, realizado sobre um roteiro de Robert Towne, é um dos maiores filmes policiais até hoje feitos. Assim, um dos gêneros criados pelo cinema americano tem entre seus destaques uma obra dirigida por um cineasta polonês. No Western acontece algo parecido, pois poucos são os que retiram Era uma vez no Oeste, do italiano Sergio Leone, da lista dos maiores. O filme de Polanski não é apenas um relato sobre a corrupção e a violência na Los Angeles da década de 1930. O tema do desejo proibido é relacionado com um poder tão amplo como ilegal. O detetive não apenas descobre uma trama criminosa. Ele também revela outra agressão, aquela que investe sobre uma das normas impostas pela civilização. Poucos filmes têm um final tão dramático e impactante como Chinatown, quando a punição maior é imposta a uma figura inocente. Este filme realizado por um europeu em território americano é um dos exemplos mais eloquentes da universalidade do cinema. Os gêneros são diferentes um dos outros apenas em suas formas exteriores, assim como os filmes não tem em sua nacionalidade nenhuma forma de limitação. Variações em torno de temas tendem ao infinito e se ampliam por vários países. E obras importantes continuam a ser realizadas no gênero policial. E não se trata apenas da busca de transgressores, mas de revelar a essência quando sempre esquecida ou desfigurada pela superficialidade e a negligência diante de fenômenos que deveriam ter suas causas devidamente identificadas.
 
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