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Cinema

- Publicada em 16 de Outubro de 2020 às 03:00

Western

Hélio Nascimento
É necessário começar com uma correção. Muitos, quando escrevem sobre o gênero western, costumam lembrar que, segundo André Bazin, o grande teórico francês, tal forma de expressão cinematográfica é "o cinema americano por excelência". Esta definição, no entanto, não é daquele crítico. O elogio é o título de um livro escrito por Jean Louis Rieupeyrout, que foi prefaciado por Bazin. A confusão, portanto, até pode ser perdoada, pois o prefácio é um texto indispensável para quem desejar se aproximar dos signos e da essência daquele gênero. Mesmo que em alguns trechos, como na referência à revolução russa de 1917, acontecimentos posteriores tenham evidenciado a necessidade de ser evitados entusiasmos antes dos acontecimentos históricos permitirem julgamentos definitivos. Tal introdução é um exemplo poderoso de análise sobre um dos mais notáveis caminhos percorridos pelo cinema.
É necessário começar com uma correção. Muitos, quando escrevem sobre o gênero western, costumam lembrar que, segundo André Bazin, o grande teórico francês, tal forma de expressão cinematográfica é "o cinema americano por excelência". Esta definição, no entanto, não é daquele crítico. O elogio é o título de um livro escrito por Jean Louis Rieupeyrout, que foi prefaciado por Bazin. A confusão, portanto, até pode ser perdoada, pois o prefácio é um texto indispensável para quem desejar se aproximar dos signos e da essência daquele gênero. Mesmo que em alguns trechos, como na referência à revolução russa de 1917, acontecimentos posteriores tenham evidenciado a necessidade de ser evitados entusiasmos antes dos acontecimentos históricos permitirem julgamentos definitivos. Tal introdução é um exemplo poderoso de análise sobre um dos mais notáveis caminhos percorridos pelo cinema.
Em sua apresentação do livro de Rieupeyrout, Bazin lembra que a idade do western é quase a mesma do cinema. Foi em 1903, oito anos após a sessão organizada pelos Irmãos Lumière, que Edwin S. Porter realizou The Great train robbery, um filme de 12 minutos, que alcançou grande sucesso de bilheteria e no qual havia algumas inovações que certamente não passaram despercebidas do olhar de Griffith. E não há dúvida de que o gênero, que anos depois exerceria papel importante na glória obtida por John Ford, para citar apenas um exemplo, por sua necessidade de uma narrativa quase sempre movimentada foi essencial no aprimoramento das técnicas de montagem.
Em seu texto, Bazin faz constatações consolidadas pelo tempo. Ressalta a universalidade do gênero, relacionando-o a mitos e lendas e mesmo a formas de narrativas clássicas. Certa vez, outro grande teórico, o brasileiro Paulo Emilio Salles Gomes, numa época em que até a admiração por alguns cineastas russos tornava suspeito o admirador, escreveu que para gostar de O Encouraçado Potemkin o espectador não precisava ser socialista, comunista ou anarquista. Bastava saber o que significa uma injustiça. Era uma forma de tornar universal a narrativa de Eisenstein. Aquele clássico, por sinal, foi deturpado numa versão sonora editada na década de 1950, quando um locutor entusiasmado declamava palavras que apenas retiravam da última imagem seu significado mais amplo, sua universalidade. Com os clássicos do western não poderia acontecer a mesma coisa e até hoje eles podem vistos, em cinematecas e em telas reduzidas em suas versões originais. E certamente Bazin não ficaria surpreso com o aparecimento, entre os melhores do gênero, de um filme dirigido por um cineasta italiano, Sérgio Leone, que ao realizar Era uma vez no oeste, confirmou a universalidade do gênero. Povoado por vilões e justiceiros, o western em alguns momentos pode ter se rendido ao maniqueísmo, mas na maioria das vezes expressou em imagens e situações esse impulso essencial que move o ser humano em busca de um cenário no qual a justiça seja exercida com correção e lucidez.
São muitos os títulos do gênero que frequentam listas de melhores de todos os tempos, elaboradas por cineastas e críticos. Um dos mais citados é Rastros de ódio, de John Ford, uma variação em tornos do tema da Odisseia. Ford também aparece em tais listas com No tempo das diligências, Paixão dos fortes e O homem que matou o facínora. George Stevens deixou sua marca com o notável Shane. E clássicos igualmente imunes ao passar do tempo são Matar ou morrer, de Fred Zinnemann, uma alegoria sobre o medo e a coragem, e O matador, de Henri King, a busca por uma harmonia inalcançável. A lista, certamente, será ampliada se as consultas receberem a contribuição de um número maior de admiradores. O western, hoje praticamente desaparecido, embora com suas digitais estejam presentes em inúmeras aventuras atuais, muitas delas indignas do modelo, teve seu último título expressivo quando Clint Eastwood realizou Os imperdoáveis, filme no qual todo o maniqueísmo é abandonado e a correção, imposta pelo impulso primitivo, numa noite de temporal, como se um processo fosse flagrado em sua primeira manifestação. O castigo imposto pela vingança antes de a civilização dele surgida ditar suas leis.
 
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