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Cinema

- Publicada em 20 de Agosto de 2020 às 20:41

Telas vazias

O ano de 2020 ficará, com toda a certeza, marcado como o mais sombrio da história da exibição cinematográfica. Os mais otimistas acreditam que, passada a pandemia, tudo aos poucos voltará ao normal. As salas de exibição voltarão a receber grande público e os rituais do espetáculo serão outra vez praticados. Mas mesmo estes reconhecem que o tempo para que tudo volte ao que era antes será longo. Os pessimistas contemplam um cenário desolador. Muitas salas de exibição terão de enfrentar severos obstáculos para retomar atividades, depois de meses de paralisação. E algumas provavelmente jamais conseguirão voltar. O cinema não irá desaparecer, até porque o desafio atual não é o primeiro, mesmo que seja o pior inimigo até agora enfrentado.
O ano de 2020 ficará, com toda a certeza, marcado como o mais sombrio da história da exibição cinematográfica. Os mais otimistas acreditam que, passada a pandemia, tudo aos poucos voltará ao normal. As salas de exibição voltarão a receber grande público e os rituais do espetáculo serão outra vez praticados. Mas mesmo estes reconhecem que o tempo para que tudo volte ao que era antes será longo. Os pessimistas contemplam um cenário desolador. Muitas salas de exibição terão de enfrentar severos obstáculos para retomar atividades, depois de meses de paralisação. E algumas provavelmente jamais conseguirão voltar. O cinema não irá desaparecer, até porque o desafio atual não é o primeiro, mesmo que seja o pior inimigo até agora enfrentado.
Talvez, no futuro, as salas iluminadas pela tela maior sejam um espaço equivalente aos museus, às salas de concerto, aos espaços dedicados ao teatro. Os filmes continuarão a ser consumidos de forma ampla, mas nas telas domésticas e nas miniaturas que cabem na palma da mão. A possibilidade de que o cinema como espetáculo popular desapareça é, sem dúvida, uma ameaça. A forma de espetáculo que o antecedeu em termos de aceitação popular, até por também se expressar através de recursos derivados de todas as outras artes, a ópera, não desapareceu e nem desaparecerá, mas é um exemplo poderoso de como formas de expressão podem, devido a várias circunstâncias, trocarem de lugar e terem sua área de ação reduzida.
A ausência do cinema, que está completando cinco meses, tem, aqui no Brasil um complemento que aumenta a sensação de desalento: a crise na Cinemateca Brasileira, cujos funcionários foram todos demitidos e sem que medidas destinadas à sua manutenção tenham sido anunciadas. A televisão, seja através de séries ou de documentários, tem mostrado a importância da conservação de todo o material filmado. Muito do que hoje se sabe sobre o nazismo, para citar apenas um exemplo, se deve ao cuidado com que as autoridades alemãs tiveram na preservação das imagens registradas pelos órgãos de propaganda hitleristas.
Quando começaram sua participação na Segunda Guerra Mundial, os norte-americanos mobilizaram a experiência e o talento de nomes como John Ford, Frank Capra, George Stevens, John Huston e William Wyler para registrarem imagens que seriam, no futuro indispensáveis, como aquelas captadas nos campos de extermínios descobertos por aliados na Alemanha, depois editadas por Alfred Hitchcock e transformadas num documentário intitulado Memórias dos campos. Um outro exemplo e que deve obrigatoriamente ser lembrado é do major Luiz Thomas Reis (1879-1940) que, nomeado pelo então tenente-coronel Cândido Rondon para filmar as atividades da Comissão de Linhas Telegráficas e Estratégicas de Mato Grosso e Amazonas, realizou vários documentários de importância incontestável. Reis nasceu na Bahia e cursou a Escola de Guerra de Porto Alegre. Depois de seu trabalho com Rondon, ele realizou vários documentários. Segundo um texto publicado pela antiga Embrafilme, "o major Reis parece ter tentado um meio termo entre o seco documentário científico e os filmes que tanto atraíam as curiosas plateias do mundo".
Tudo se modifica e nada permanece como está. É uma ilusão pensar na imobilidade. Um exemplo é o espaço onde está instalada a Cinemateca Capitólio. Uma sala como esta se dedica à conservação de filmes clássicos, mas é bom lembrar que foi ali, no antigo Capitólio, que pela primeira vez foi exibido em nossa cidade um filme de Ingmar Bergman: Juventude. E outro, a seguir: Mônica e o desejo. E ali também foram exibidos clássicos como Umberto D, de Vittorio de Sica, e Os deuses malditos, de Luchino Visconti.
Hoje, filmes como estes são exibidos em locais selecionados, voltando assim, no caso, ao espaço da estreia, cuja manutenção é um dever das autoridades responsáveis pelo setor cultural. O que antes era dedicado a um público amplo com o tempo passa a ser objeto de interesse dos que necessitam conhecer o passado, a fim de criar algo realmente novo. O modelo e a base são imprescindíveis.
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