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Cinema

- Publicada em 10 de Julho de 2020 às 03:00

Palma de Ouro

Hélio Nascimento
A morte do ator Leonardo Villar, aos 96 anos, não apenas marca uma data na história do teatro brasileiro, mais precisamente da companhia Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Em tal palco, no ano de 1960, foi encenada a peça O pagador de promessas, de Dias Gomes, com aquele ator no papel principal, tendo Natalia Timberg vivendo sua companheira. Tal encenação, dirigida por Flávio Rangel, teve entre seus espectadores Anselmo Duarte, ex-galã da Atlântida e da Vera Cruz, que em 1957 havia iniciado sua carreira de diretor de cinema com a comédia Absolutamente certo, que havia sido bem recebida pela crítica e transitado com algum sucesso nas bilheterias. Duarte, que havia presenciado uma das edições do Festival sentiu o clima de tal mostra e imaginou que não seria impossível conseguir naquela que é uma das vitrines mais famosas do cinema mundial uma vitória inédita do cinema brasileiro. Na época, Cannes, Veneza e Berlim eram as mostras mais famosas. O Oscar, numa fase anterior às transmissões internacionais da televisão, não tinha, fora dos Estados Unidos, o prestígio de hoje. E o Bafta britânico e o César francês eram pouco divulgados fora de seus países. A repercussão da vitória do filme brasileiro foi naturalmente muito grande. Concorrendo com obras assinadas por Antonioni, Buñuel, e Bresson, o filme de Duarte recebeu, após sua exibição, uma grande consagração por parte da plateia, o que de certa forma confirmou a impressão do realizador quando assistiu a um festival anterior. Diz a lenda que François Truffaut, um dos integrantes do júri e um hábil polemista, ao notar a divisão do júri e ao perceber no filme brasileiro algumas das qualidades que mais admirava no cinema, entre elas a capacidade de emocionar, batalhou para que a Palma de Ouro fosse concedida a O pagador de promessas.
A morte do ator Leonardo Villar, aos 96 anos, não apenas marca uma data na história do teatro brasileiro, mais precisamente da companhia Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Em tal palco, no ano de 1960, foi encenada a peça O pagador de promessas, de Dias Gomes, com aquele ator no papel principal, tendo Natalia Timberg vivendo sua companheira. Tal encenação, dirigida por Flávio Rangel, teve entre seus espectadores Anselmo Duarte, ex-galã da Atlântida e da Vera Cruz, que em 1957 havia iniciado sua carreira de diretor de cinema com a comédia Absolutamente certo, que havia sido bem recebida pela crítica e transitado com algum sucesso nas bilheterias. Duarte, que havia presenciado uma das edições do Festival sentiu o clima de tal mostra e imaginou que não seria impossível conseguir naquela que é uma das vitrines mais famosas do cinema mundial uma vitória inédita do cinema brasileiro. Na época, Cannes, Veneza e Berlim eram as mostras mais famosas. O Oscar, numa fase anterior às transmissões internacionais da televisão, não tinha, fora dos Estados Unidos, o prestígio de hoje. E o Bafta britânico e o César francês eram pouco divulgados fora de seus países. A repercussão da vitória do filme brasileiro foi naturalmente muito grande. Concorrendo com obras assinadas por Antonioni, Buñuel, e Bresson, o filme de Duarte recebeu, após sua exibição, uma grande consagração por parte da plateia, o que de certa forma confirmou a impressão do realizador quando assistiu a um festival anterior. Diz a lenda que François Truffaut, um dos integrantes do júri e um hábil polemista, ao notar a divisão do júri e ao perceber no filme brasileiro algumas das qualidades que mais admirava no cinema, entre elas a capacidade de emocionar, batalhou para que a Palma de Ouro fosse concedida a O pagador de promessas.
Não foi a primeira vez que o cinema brasileiro obtinha repercussão em mostras europeias. Antes, Lima Barreto, primeiro com o documentário Santuário, em Veneza, e depois com O cangaceiro, em Cannes, tinha conseguido menções especiais. E Tom Payne, havia igualmente obtido destaque com Sinhá moça, também em Veneza. Mas a conquista de O pagador era inédita e, evidentemente, obteve uma repercussão muito maior. Foi no dia 26 de agosto de 1961 que o filme começou a ser rodado em Salvador, tendo como locação principal a Igreja do Passo. A atriz Maria Helena Dias deveria interpretar o principal papel feminino, Rosa, a mulher de Zé do Burro. Porém, devido a um problema de saúde, foi substituída por Glória Menezes, que seria a intérprete de Marli, que terminou sendo vivida na tela por Norma Bengell. O elenco era completado por Dionizio Azevedo, Geraldo Del-Rey, Antônio Pitanga e Othon Bastos. A música foi composta por Gabriel Migliori. Na fotografia trabalhou o britânico Chick Fowle, um dos técnicos que Alberto Cavalcanti trouxe para o Brasil para trabalhar na Vera Cruz. Fowle era um dos mais famosos fotógrafos do cinema inglês, tendo sido o responsável pela iluminação do clássico Night mail. Anselmo Duarte escreveu o roteiro em parceria com o autor da peça.
O filme certamente ficará como um dos momentos mais expressivos de nosso cinema. Muito bem realizado tem alguns momentos que se destacam. Há em seu desenrolar, um fragmento realmente notável: aquele que poderíamos chamar de troca de olhares, um verdadeiro namoro como acentuou, na época, o crítico Novaes Teixeira, entre Zé do Burro e a estátua de Santa Bárbara, ou Iansã. Muitos críticos brasileiros receberam o filme com entusiasmo. Mas não houve unanimidade. Discordâncias são naturais, mas é necessário lembrar que o sucesso de Anselmo não foi bem aceito pelos integrantes do cinema novo, então empenhados em alcançar o sucesso dos franceses da nouvelle-vague. Acusado de academicismo, o filme também foi atacado por não esconder a origem teatral e até mesmo de conservadorismo ao exaltar o papel de uma instituição. Mas assim não pensaram integrantes do júri de outros festivais também vencidos pelo filme, entre eles o de São Francisco, o de Cartagena, o de Acapulco e o de Edimburgo. O pagador de promessas também foi um dos cinco concorrentes ao Oscar, tendo perdido para o francês Sempre aos domingos, de Serge Bourguignon. Em Porto Alegre, o filme foi lançado em setembro de 1962 pelo cinema Cacique.
 
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