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Cinema

- Publicada em 19 de Junho de 2020 às 03:00

Musicais

Com a estreia indefinida devido à pandemia, o novo filme de Steven Spielberg é uma ousadia. Trata-se de uma refilmagem de Amor, sublime amor (West side story), filme realizado em 1961 por Robert Wise e Jerome Robbins. Esta é a primeira vez que um musical é refilmado. E não se trata de um musical qualquer. Na premiação da Academia recebeu 10 estatuetas, inclusive às de melhor filme e direção. Mas não foi o primeiro filme do gênero a vencer o Oscar, pois antes dele foram premiados Broadway Melody, Ziegfeld, o criador de estrelas, Sinfonia de Paris e Gigi.
Com a estreia indefinida devido à pandemia, o novo filme de Steven Spielberg é uma ousadia. Trata-se de uma refilmagem de Amor, sublime amor (West side story), filme realizado em 1961 por Robert Wise e Jerome Robbins. Esta é a primeira vez que um musical é refilmado. E não se trata de um musical qualquer. Na premiação da Academia recebeu 10 estatuetas, inclusive às de melhor filme e direção. Mas não foi o primeiro filme do gênero a vencer o Oscar, pois antes dele foram premiados Broadway Melody, Ziegfeld, o criador de estrelas, Sinfonia de Paris e Gigi.
O filme original era a transposição para o cinema de uma peça musical de Arthur Laurentz, inspirada em Romeu e Julieta, um sucesso nos palcos de Nova York. Um dos grandes roteiristas do cinema norte-americano, Ernest Lehman, foi o responsável pela adaptação. A direção foi de Robert Wise, que nas cenas de dança passou a batuta para Robbins, que havia sido o criador da coreografia original. As canções, muitas delas tornadas famosas, foram escritas por Leonard Bernstein, compositor e maestro, que foi titular da Filarmônica de Nova York, tendo também à frente da Filarmônica de Viena sido responsável por uma célebre integral das sinfonias de Gustav Mahler. Em outro filme que está com as filmagens interrompidas, Bernstein é o principal personagem, numa cinebiografia dirigida por Bradley Cooper, que assim realiza seu segundo longa-metragem, depois da estreia como diretor na refilmagem de Nasce uma estrela. Este é outro filme com estreia ainda não marcada.
Tendo por fonte uma tragédia, o filme de Wise e Robbins é o primeiro musical a se expressar de forma a acentuar o componente dramático da trama mesmo que o epílogo original tenha sido alterado, para que a protagonista seja salva. A peça e depois o filme também não se afastam das mazelas decorrentes de conflitos econômicos e raciais. Spielberg, ao planejar sua versão, certamente pensou numa atualização, tendo como referência manifestações e ações governamentais marcadas pela xenofobia.
Todos os que conhecem a versão original - e serão certamente poucos os cinéfilos que desconhecem a primeira versão - têm o direito de pensar que será muito difícil alcançar o mesmo nível. Um dos pontos altos de West side story era a coreografia de Robbins, para muitos algo muito mais preciso na captação dos temas tratados do que a própria direção de Wise. Talvez tal opinião seja injusta, pois quem conhece os filmes anteriores do cineasta pode notar sua marca em muitas passagens. E uma curiosidade: certos momentos da coreografia pela energia e dramaticidade se assemelham a certos trechos de filmes do realizador de Punhos de campeão. Tal constatação certamente revela que o coreógrafo conhecia os filmes de seu companheiro de direção. Ou então que ambos, pertencentes à mesma cultura, não poderiam deixar de ser semelhantes. Por não estar entre os preferidos dos críticos dos Cahiers du Cinéma, Wise enfrentava restrições, mas a verdade é que, mesmo dividindo a direção, deixou sua marca no filme.
O musical cinematográfico foi um herdeiro dos musicais da Broadway, que por sua vez descendiam da opereta europeia. A ópera, a criação musical do Renascimento, é a matriz. No cinema, o gênero era quase sempre visto como algo menor, puro divertimento. Isso até que, desta vez com inteira razão, críticos franceses perceberam que, no cinema, não era apenas através da palavra que certos temas poderiam ser explicitados e desenvolvidos. Também através do canto e da dança sonhos poderiam ser concretizados.
Não é certamente por acaso que João Moreira Salles, no magnífico Santiago, utiliza a célebre cena do casal caminhando no parque e que de repente começa a dançar. É o momento em que a imaginação supera o real e antecipa o futuro. A mesma coisa acontece com o canto, que prolonga e enriquece o sentido de palavras e frases. Depois de enriquecer vários gêneros e se incluir entre os grandes do cinema, mesmo que sua filmografia registre passagens de pouca inspiração, Spielberg tenta agora provar que também tem algo a dizer numa forma de cinema que teve seus momentos de glória e que talvez reapareça com a luminosidade de outros tempos.
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