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Cinema

- Publicada em 17 de Abril de 2020 às 03:00

Prelúdios

São muitas as cenas de abertura merecedoras de citação em antologias por motivos diversos. Algumas pelo impacto que provocam, outras por resumirem a temática que a seguir será exposta e desenvolvida. Cada espectador tem a sua lista de aberturas favoritas. Mas a relação nunca será completa, o que de certa forma atesta a importância de um prólogo e também a diversidade de opiniões, algo necessário e insubstituível. A relação a seguir mencionada está, portanto, sujeita a críticas e a falhas de memória, mas certamente poucos discordarão de que as obras citadas merecem ser lembradas.
São muitas as cenas de abertura merecedoras de citação em antologias por motivos diversos. Algumas pelo impacto que provocam, outras por resumirem a temática que a seguir será exposta e desenvolvida. Cada espectador tem a sua lista de aberturas favoritas. Mas a relação nunca será completa, o que de certa forma atesta a importância de um prólogo e também a diversidade de opiniões, algo necessário e insubstituível. A relação a seguir mencionada está, portanto, sujeita a críticas e a falhas de memória, mas certamente poucos discordarão de que as obras citadas merecem ser lembradas.
A mais antiga sequência de abertura a ser citada é, também, a mais original, pois se apropria de um conto e o transforma num prólogo de um relato que procura desenvolver o que é sugerido no texto original. Trata-se do trecho inicial de Os assassinos, filme realizado em 1946 por Robert Siodmak, sobre um roteiro de Anthony Veiller, inspirado em um conto de Ernest Hemingway. O filme, que não é tão brilhante como sua abertura, teve uma outra versão, realizada em 1964 por Don Siegel e que tinha em seu elenco Ronald Reagan, futuro presidente dos Estados Unidos.
No filme de Siodmak, a chegada dos assassinos e a passividade com a qual a vítima aceita seu destino é filmada de forma a transformar tal segmento num dos grandes momentos do cinema noir. Em 1951, coube a Henry Hathaway realizar A raposa do deserto, um dos primeiros filmes americanos a mostrar que nem todos na Alemanha aceitavam a política nazista. O filme reconstituía os momentos finais da vida de Erwin Rommel e tinha, antes dos créditos, uma sequência notável que acompanhava um grupo de comandos britânicos num ataque ao quartel general onde provavelmente se encontrava o marechal alemão. Hathaway, que foi um dos grandes do cinema norte-americano, se esmerou neste prólogo notável, que deve muito ao editor James B. Clark.
No ano de 1952, Fred Zinneman dirigiu um dos maiores westerns de todos os tempos: Matar ou morrer. Muitos consideram este filme uma alegoria sobre o machartismo. É possível ampliar esta visão vendo nesta obra-prima sobre a passividade uma sociedade diante da ameaça totalitária. A cena de abertura, acompanhada pelos créditos, focaliza a reunião dos três pistoleiros que depois rumam para a cidade, a fim de esperar a chegada do chefe. Zinnemann e o roteirista Carl Foreman não apenas exaltam a figura do herói, pois também registram a covardia diante do surgimento do grande perigo, configurado na cena inicial.
Dois anos mais tarde, o grande Luchino Visconti, que se dedicou ao cinema, ao teatro e à ópera, realizou um dos grandes prólogos da história do cinema no filme Senso. Ainda nos créditos, ele abre a cena com um trecho encenado de Il Trovatore, aquele no qual o tenor anuncia que irá salvar a vida da mãe. A ação transcorre durante a ocupação austríaca e na plateia se encontram militares do exército ocupante. Os italianos preparam seus panfletos a serem lançados no momento final, quando o tenor conclama a todos para lutarem pela liberdade da pátria-mãe.
Em 1958, Orson Welles, voltando a trabalhar para um grande estúdio norte-americano, abriu A marca da maldade com uma sequência sem cortes que anunciava um atentado. A empresa produtora prejudicou a ideia, colocando os créditos sobre a imagem. Só mais tarde, o original foi restaurado e os créditos colocados no final.
Robert Wise e Jerome Robbins também merecem ser lembrados pelo prólogo de West Side Story, produzido em 1961. Ambos, o segundo também coreógrafo, devem muito ao editor Thomas Stanford pela magnífica montagem da cena inicial, na qual os dois grupos rivais mostram suas intenções nas ruas de Nova York. Stanley Kubrick em 1968 realizou na verdade um média-metragem para iniciar 2001: uma Odisseia no espaço, um momento cinematográfico poderoso e inigualável.
E para que não haja qualquer saudosismo, merece ser incluído entre os mais notáveis trechos iniciais a cena de abertura de J'accuse, o filme que Roman Polanski realizou no ano passado. A cena da degradação do protagonista resume o sentido do filme e se impõe como um fragmento tocado por uma dramaticidade incomum, um prelúdio à altura da magnífica obra a ser vista a seguir.
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