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Cinema

- Publicada em 06 de Março de 2020 às 03:00

Canto de louvor

Depois que realizou Cinzas no paraíso, em 1978, Terrence Malick permaneceu em silêncio durante vinte anos. Parecia que tinha abandonado o cinema. Porém, ao que tudo indica, estava preparando um novo ciclo de filmes marcado pelo empenho de colocar na tela algo ainda não concretizado. Quando anunciou seu regresso com Além da linha vermelha parece não ter encontrado dificuldade alguma em formar seu elenco, pois não foram poucos os nomes famosos que se apresentaram, alguns deles para participações pequenas. Era um dos sinais que sua obra anterior havia crescido em prestígio e importância. E Malick não decepcionou. O filme que assinalou sua volta, um episódio da guerra no Pacífico, não é apenas um dos maiores até hoje realizados sobre conflitos humanos: merece ser incluído entre aqueles que de forma mais significativa contribuíram para o enriquecimento da linguagem cinematográfica.
Depois que realizou Cinzas no paraíso, em 1978, Terrence Malick permaneceu em silêncio durante vinte anos. Parecia que tinha abandonado o cinema. Porém, ao que tudo indica, estava preparando um novo ciclo de filmes marcado pelo empenho de colocar na tela algo ainda não concretizado. Quando anunciou seu regresso com Além da linha vermelha parece não ter encontrado dificuldade alguma em formar seu elenco, pois não foram poucos os nomes famosos que se apresentaram, alguns deles para participações pequenas. Era um dos sinais que sua obra anterior havia crescido em prestígio e importância. E Malick não decepcionou. O filme que assinalou sua volta, um episódio da guerra no Pacífico, não é apenas um dos maiores até hoje realizados sobre conflitos humanos: merece ser incluído entre aqueles que de forma mais significativa contribuíram para o enriquecimento da linguagem cinematográfica.
Sendo cineasta, Malick é um manipulador de imagens. Mas também é daqueles que acredita ser a palavra algo indispensável a uma narrativa cinematográfica empenhada em se expressar de maneira a mais realista possível. Obviamente, mesmo sendo um pioneiro, ele não partiu de um território vazio. Há significativos exemplos anteriores, muitos dos quais se fazem presentes na obra do cineasta deste Uma vida oculta. Numa época de simplificações, Malick, sem dúvida, está tentando fazer com que o cinema resista. E o fato de estar conseguindo condições de continuar num caminho afastado da rotina é prova de que há condições de ser mantida a integridade de um artista.
O novo filme retoma o emprego de um método narrativo que pode ser classificado como monólogo interior cinematográfico. A imagem é sempre acompanhada pela palavra. Esta expressa pensamentos de personagens, através de leituras de cartas, recordações e exteriorizações de desejos. De certa maneira, está criado o cine-poesia, no qual peças de diversos compositores também exercem papel importante. Num dos momentos mais emocionantes do filme - a cena da despedida na estação - o trecho inicial da Paixão segundo Mateus, de Bach, faz com que o objetivo do cineasta, o de captar a essência do sacrifício e sua tentativa de revelar a importância de uma barreira contra o mal, se concretize em cena na qual a dor que será resultante de resistência é antecipada. Ao trazer para a tela a figura de Franz Jägerstäter, executado pelos nazistas em 1943, o cineasta não está fazendo apenas mais um libelo contra a mais terrível forma de autoritarismo até hoje utilizada. Interessa mais ao realizador captar a forma como uma força maligna se instala e se expande.
Mais uma vez um filme contemporâneo utiliza imagens do documentário O triunfo da vontade. Tal filme, realizado por Leni Riefenstahl durante um congresso do partido nazista em Nuremberg, é hoje um precioso e indispensável documento para que se entenda os métodos usados por aquela agremiação para seduzir e dominar emocionalmente uma nação. Malick utiliza o filme na abertura para ressaltar o início de um processo, aparentemente voltado para a exaltação do trabalho, da disciplina e dos valores familiares, mas na verdade utilizado para criar criaturas submissas e cegas diante da ameaça.
Depois de focalizar a pompa encenada pelos nazistas em seus primeiros passos, Malick passa a focalizar o trabalho e a vida familiar de seu personagem. O cineasta está interessado em registrar como a tempestade que se aproxima, algo que a imagem ressalta em várias oportunidades, irá destruir a verdadeira harmonia familiar. E o faz não apenas para ressaltar a tirania e a desumanização. Entre os próprios camponeses o ódio já se instalou e mesmo no núcleo familiar há sinais de desavenças. A agressividade focalizada nas cenas da prisão se prolonga e se espalha por todo o cenário. O sacrifício ficará oculto e o exemplo não terá a força de impedir a expansão da irracionalidade. Mas a resistência diante do irracional, como a imagem derradeira da imponência da natureza registra, permanecerá e sempre deverá ser louvada por palavras e imagens.
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