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Cinema

- Publicada em 02 de Janeiro de 2020 às 22:12

A escolha e o aventureiro

A tempestade de críticas negativas lançadas contra a versão cinematográfica de Cats, o musical que tanto sucesso obteve em Londres e Nova York, é algo que há muito tempo não acontecia. Desde que Michael Cimino lançou a versão integral de O portal do paraíso, que alguns chegaram a classificar como o maior fiasco da história do cinema (um exagero evidenciado quando, depois de alguns anos e após uma versão mutilada pela produtora, foi lançada a cópia integral), não acontecia algo semelhante. Um filme decepcionante, mas nunca o trabalho ridículo apontado por apressados colunistas.
A tempestade de críticas negativas lançadas contra a versão cinematográfica de Cats, o musical que tanto sucesso obteve em Londres e Nova York, é algo que há muito tempo não acontecia. Desde que Michael Cimino lançou a versão integral de O portal do paraíso, que alguns chegaram a classificar como o maior fiasco da história do cinema (um exagero evidenciado quando, depois de alguns anos e após uma versão mutilada pela produtora, foi lançada a cópia integral), não acontecia algo semelhante. Um filme decepcionante, mas nunca o trabalho ridículo apontado por apressados colunistas.
Agora é a vez do novo filme de Tom Hooper ser alvo de dardos envenenados e vítima de uma fúria não percebida diante do processo de infantilização do cinema nos últimos anos, processo este liderado pelo uso excessivo e demagógico dos efeitos especiais. Enquanto uma linha de produção procura transformar adultos em crianças, há um silêncio obsequioso, agora rompido. Porém, é justo reconhecer, Hooper não foi feliz ao colocar na tela sua versão do musical de Andrew Lloyd Webber, inspirado numa série de poemas de T.S.Eliot, publicada com o título de Old posum's book of pratical cats. Os personagens do livro são gatos de rua, mas cada um deles simboliza destinos humanos. As críticas mais severas dirigidas ao filme se concentram na utilização da computação gráfica, utilizada para transformar os personagens numa mistura de humanos e felinos. A aproximação permitida pelo cinema realça o artificialismo e por vezes se transforma em algo ridículo. O musical é um gênero difícil e só os maiores, como Minnelli, Fosse, Cukor, Donen e Kelly conseguiram resolver os problemas por tal gênero colocado. Isso sem falar em Bergman e Losey, quando filmaram óperas de Mozart.
Hooper, o realizador de O discurso do rei e de uma outra versão de um musical, Os miseráveis, tem dificuldade em filmar números coreográficos e não é favorecido pela pouca inspiração do responsável pelo setor. Não basta convocar Francesca Hayward, a estrela do Royal Ballet, que vive o papel de Victória, para que a tela seja iluminada. Em alguns momentos, como na apresentação do gato gordo, parece que veremos algo apreciável, mas a sequência é interrompida. Porém, a apresentação de Ian McKellen como um velho felino que recorda o teatro de outros tempos é algo realmente notável, um momento admirável num relato quase sempre desinteressante. Quanto aos que exercitam seu humor criticando os recursos utilizados para transformar o atores e atrizes em criaturas híbridas, é interessante lembrar O mágico de Oz, um clássico de 1939 e no qual o ator Bert Lahr vivia a figura do Leão Covarde. Numa época sem os recursos hoje utilizados, nada havia de ridículo naquela figura, e na qual Hooper poderia buscar inspiração. E os admiradores da canção Memory, o trecho mais famoso do musical, terão o que ouvir graças à participação de Jennifer Hudson. Mas este ritual destinado a escolher o felino digno do melhor cenário merecia algo bem melhor.
Outro equívoco é O último amor de Casanova, de Benoît Jacquot, realizador ambicioso, que fez uma versão da Tosca, com Angela Gheoghiu no papel-título, na qual não se limitou a filmar a ópera, pois também realizou um documentário sobre o local onde transcorre a ação e outro sobre a realização do filme, tudo apresentado ao mesmo tempo. Casanova, um plebeu que viveu entre aristocratas e que além das conquistas amorosas é tido como um escritor notável, já foi personagem de Fellini e Scola. Com este último diretor, o personagem era vivido por Marcello Mastroianni e se gabava de ser o verdadeiro autor da ária do catálogo, no Don Giovanni, de Mozart, pois teria colaborado com o libretista Lorenzo Da Ponte. No filme de Jacquot ele é vivido por Vincent Lindon, numa narrativa que parece se arrastar, apoiada num roteiro previsível e superficial. O filme é baseado nas memórias e reconstitui um episódio londrino na vida de Casanova. Mas o tema da descoberta das fragilidades de uma vida movida pelo artificialismo, de repente transformada por uma inesperada paixão, não é devidamente desenvolvido e é até mesmo prejudicado por cenas dominadas por dispensável grosseria.
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