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Cinema

- Publicada em 08 de Novembro de 2019 às 03:00

A vingança

O terceiro encontro do diretor Sebastián Borensztein com o astro Ricardo Darín não supera as colaborações anteriores, Um conto chinês, em 2011, e Koblic, em 2016. Porém, é um trabalho que, de certa forma, dá prosseguimento ao segundo filme no qual o mais conhecido dos atores argentinos interpretava um oficial da Aeronáutica que, não suportando os métodos utilizados para eliminar opositores, abandona a corporação e parte para um revide ao qual não falta uma poderosa citação ao western, quando o protagonista, envergando a farda, se transforma num implacável justiceiro. Agora, o que vemos em cena é, outra vez, uma opção por um método que, além de corrigir injustiça, impõe ao inimigo um severo castigo. Borensztein, certamente, não é daqueles que fogem do tema da corrupção como os vampiros da cruz. E o faz de forma a não expulsar da cena a irreverência e o humor. É possível fazer restrições a um tom que se aproxima perigosamente da grosseria e da vulgaridade, mas o relato não chega a ser totalmente dominado por uma comicidade que por vezes aparece bastante artificial e até exagerada em certos diálogos. Mas a verdade é que A odisseia dos tolos consegue superar até mesmo os obstáculos criados pela própria narrativa e termina sendo um retrato convincente de um tempo no qual os chamados "giles", na gíria argentina, são todos aqueles que, agindo com honestidade e correção, se transformam em vítimas de golpistas de vários gêneros. O espectador brasileiro, certamente, compreenderá com perfeição as intenções do cineasta, seja pela utilização da memória, seja pela constatação de semelhanças reveladoras.
O terceiro encontro do diretor Sebastián Borensztein com o astro Ricardo Darín não supera as colaborações anteriores, Um conto chinês, em 2011, e Koblic, em 2016. Porém, é um trabalho que, de certa forma, dá prosseguimento ao segundo filme no qual o mais conhecido dos atores argentinos interpretava um oficial da Aeronáutica que, não suportando os métodos utilizados para eliminar opositores, abandona a corporação e parte para um revide ao qual não falta uma poderosa citação ao western, quando o protagonista, envergando a farda, se transforma num implacável justiceiro. Agora, o que vemos em cena é, outra vez, uma opção por um método que, além de corrigir injustiça, impõe ao inimigo um severo castigo. Borensztein, certamente, não é daqueles que fogem do tema da corrupção como os vampiros da cruz. E o faz de forma a não expulsar da cena a irreverência e o humor. É possível fazer restrições a um tom que se aproxima perigosamente da grosseria e da vulgaridade, mas o relato não chega a ser totalmente dominado por uma comicidade que por vezes aparece bastante artificial e até exagerada em certos diálogos. Mas a verdade é que A odisseia dos tolos consegue superar até mesmo os obstáculos criados pela própria narrativa e termina sendo um retrato convincente de um tempo no qual os chamados "giles", na gíria argentina, são todos aqueles que, agindo com honestidade e correção, se transformam em vítimas de golpistas de vários gêneros. O espectador brasileiro, certamente, compreenderá com perfeição as intenções do cineasta, seja pela utilização da memória, seja pela constatação de semelhanças reveladoras.
Optando, em primeiro lugar, pela colocação na tela de personagens cuja trajetória permite que toda uma engrenagem seja exposta, Borensztein, autor do roteiro escrito em colaboração com Eduardo Sacheri, autor da novela original, coloca a ação no ano de 2001, quando o chamado corralito impediu que depositantes tivessem acesso integral aos valores depositados em bancos. Os amigos, que um pouco antes haviam conseguido reunir o necessário para iniciar o processo destinado a criar uma cooperativa, são vítimas não apenas de tal medida, pois são também alvejados pela cobiça que não tem obstáculo para uma ação que a própria burocracia permite. A fim de expor todo o drama causado por um plano econômico fracassado, o cineasta coloca o filme na trilha antes percorrida por comédias italianas e relatos de ação americanos. O grupo que arquiteta e depois coloca em movimento uma vingança não deixa de ser um símbolo e expressão de uma realidade, na qual a indignação tem papel preponderante.
Se em Koblic o cineasta fazia referência ao western, agora há uma citação explícita a Como roubar um milhão de dólares, realizado por William Wyler em 1966. A ação planejada pelo grupo deriva daquela utilizada pela dupla de assaltantes na obra mencionada. E não deixa de ser curioso que o ritual protetor de tanto ser repetido termina por ser a causa principal da derrota do vilão, que, no epílogo, embora ridicularizado, não parece ter sido seriamente afetado. Se como crítica o filme tem sua validade, seria interessante ressaltar a falta de profundidade com que é abordado o tema da agressividade nem sempre sob controle no cenário familiar. A hostilidade no relacionamento entre mãe e filho é exposta em algumas cenas e até claramente focalizada depois da divisão dos dólares. Mas falta solidez ao desenvolvimento de tal tema. E os admiradores de vários clássicos de um gênero inaugurado por John Huston, em 1950, com O segredo das joias, terão o que ver em muitas cenas do filme, que, mesmo se submetendo a exigências da superficialidade, não deixa de ser o retrato de um tempo. E vale, também, por lembrar que o elemento cômico não é um inimigo da observação correta. Borensztein não repete os seus filmes anteriores, mas seu novo trabalho é uma evidência de que, para capturar a essência de certos fatos e resumir os métodos empregados por um mundo no qual valores exaltados não são utilizados, não é necessário criar cenários imaginários: a realidade está sempre à espera de quem saiba vê-la com lucidez.
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