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Cinema

- Publicada em 19 de Setembro de 2019 às 03:00

A ameaça

Hélio Nascimento
Depois dos atentados ao jornal Charlie Hebdo e à boate Bataclan, quatro anos se passaram até que o cinema francês abordasse um tema tão difícil quanto doloroso: a escolha feita por jovens europeus por métodos violento de contestação a vida que levam em seus países. E o faz, de certa forma, utilizando caminhos corretos: aqueles que focalizam o dilaceramento familiar causado por tal opção. Vale dizer que o diretor André Téchiné parte de personagens reais, além, é claro, de fatos verdadeiros. Não estamos, ao ver Adeus à noite, contemplando alegorias e sim acompanhando o drama de uma mulher que descobre que o neto aderiu à Jjhad. Tudo se passa em cenário real, os discursos são dispensados, as palavras de ordem abandonadas e a narrativa se afasta de ênfases artificiais. Téchiné segue, sem dúvida, a lição de Jean Renoir, que em A grande ilusão, foi capaz, através de alguns personagens compor um painel de seu tempo e antecipar o que viria depois. Outros grandes seguiram o mesmo caminho, entre eles, o mestre Visconti em Deuses malditos, para citar apenas um filme do maior diretor italiano. A avó do filme, se chama Muriel, o que provavelmente é uma referência ao terceiro longa-metragem de Alain Resnais, que também abordava o tema dos conflitos causados pelo colonialismo. A citação é válida porque a ameaça representada por insanos atos de violência não deixa de ser explosão de um irracionalismo gerado por um método que termina expondo de forma clara a que ponto pode chegar a agressividade humana.
Depois dos atentados ao jornal Charlie Hebdo e à boate Bataclan, quatro anos se passaram até que o cinema francês abordasse um tema tão difícil quanto doloroso: a escolha feita por jovens europeus por métodos violento de contestação a vida que levam em seus países. E o faz, de certa forma, utilizando caminhos corretos: aqueles que focalizam o dilaceramento familiar causado por tal opção. Vale dizer que o diretor André Téchiné parte de personagens reais, além, é claro, de fatos verdadeiros. Não estamos, ao ver Adeus à noite, contemplando alegorias e sim acompanhando o drama de uma mulher que descobre que o neto aderiu à Jjhad. Tudo se passa em cenário real, os discursos são dispensados, as palavras de ordem abandonadas e a narrativa se afasta de ênfases artificiais. Téchiné segue, sem dúvida, a lição de Jean Renoir, que em A grande ilusão, foi capaz, através de alguns personagens compor um painel de seu tempo e antecipar o que viria depois. Outros grandes seguiram o mesmo caminho, entre eles, o mestre Visconti em Deuses malditos, para citar apenas um filme do maior diretor italiano. A avó do filme, se chama Muriel, o que provavelmente é uma referência ao terceiro longa-metragem de Alain Resnais, que também abordava o tema dos conflitos causados pelo colonialismo. A citação é válida porque a ameaça representada por insanos atos de violência não deixa de ser explosão de um irracionalismo gerado por um método que termina expondo de forma clara a que ponto pode chegar a agressividade humana.
Talvez o cineasta possa ser acusado de não aprofundar de forma apropriada o assunto que aborda. É possível exigir um desenvolvimento mais rico do tema exposto. Mas o filme, beneficiado pelo motivo central, se impõe por não fugir de uma realidade perturbadora. O relato se afasta de qualquer simpatia pelo gesto de opção pela violência ou por aquilo que aqueles que a praticam chamam de atos de heroísmo. Mas Téchiné, que é o autor da ideia sobre a qual trabalharam os roteiristas, não é daqueles que se limitam a expor seu horror diante de certos acontecimentos. Sem recorrer às facilidades permitidas pela crítica ao colonialismo, o realizador expõe de forma clara os dilemas enfrentados por aqueles que não encontram nos valores cultuados por suas sociedades os caminhos almejados. Trata-se, portanto, de um dilema que é vivido pelo neto, que já não encontra mais sentido no modo de vida que o cerca. Mas é importante observar a sequência final, quando, depois do isolamento e do mutismo, Muriel se decide pelo reencontro e pela possibilidade um relacionamento mais sólido.
O filme não coloca opções e sim procura flagrar ressentimentos diante de rituais desprovidos de significado. A inconformidade do jovem é expressa através de gestos e atitudes que refletem desejos de afastamento e mesmo ressentimentos sem sempre contidos. A sequência em que ele é feito prisioneiro resume a questão. O que vemos nas imagens é a agressividade enjaulada. Não se trata de um ato destinado a esclarecer pela busca das causas a rebelião anunciada. A cena em que Catherine Deneuve é filmada diante do animal ameaçador coloca nas imagens a questão principal: o ser humano perante forças que podem abalar alicerces e destruir o arcabouço da civilização. Os caminhos escolhidos pelo neto o levam a um mundo do qual não estão ausentes também as forças disciplinadoras. Há um chefe que não se submete a certos dogmas, afirmando que no momento certo se transformará um obediente seguidor de normas de comportamento. E há também o desiludido, que terá papel importante na trama, mesmo que aqui Téchiné seja vencido por certa ingenuidade. O tema do filme certamente merecia um desenvolvimento mais amplo e profundo. Mas sempre merecem respeito e atenção obras que procuram falar de seu tempo recorrendo em primeiro lugar a personagens reais e se afastam de caricaturas quase sempre tendenciosas e simplificadoras. São nas figuras humanas que os dramas de um tempo se concentram. É através delas que tais dramas podem ser verdadeiramente estudados e compreendidos.
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